Como a Alemanha vai se beneficiar ao receber 800 mil refugiados
Quando a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou na semana passada que a Alemanha concederia asilo a 800 mil refugiados neste ano, muitos afirmaram que outros países da União Europeia deveriam seguir o exemplo da maior economia do bloco.
Desde que dezenas de milhares de imigrantes de Síria, África e Oriente Médio começaram a chegar às fronteiras da Europa, a narrativa política na Alemanha tem sido distinta.
Em seus discursos, Merkel vem destacando “o ideal europeu comum”. Segundo ela, o continente como um todo tem de se envolver com o problema da crise humanitária na Síria.
“Se a Europa fracassar no assunto dos refugiados, sua estreita relação com os direitos civis universais serão destruídos”, disse a chanceler alemã.
“Como um país financeiramente saudável e forte, temos a força para fazer o que é necessário”, acrescentou.
Surpreendentemente, o posicionamento de Merkel quanto à crise humanitária na Síria gerou um inédito consenso no país. Tanto a maioria dos políticos de direita quanto de esquerda apoiam a iniciativa da chanceler.
Para muitos deles, aceitar refugiados é uma questão de solidariedade com aqueles que fogem de perseguições e guerras.
No entanto, há razões pragmáticas por trás do autopropalado altruísmo.
Motivos
Efetivamente, a Alemanha possui uma das populações que envelhecem e diminuem mais rapidamente na Europa.
Segundo estimativas da Comissão Europeia, calcula-se que em 2060 a população do país encolherá em 10 milhões de pessoas, passando de 81,3 milhões em 2013 para 70,8 milhões.
Por essa razão, o país poderia beneficiar-se de um influxo de jovens trabalhadores.
Por outro lado, acredita-se que o Reino Unido se tornará o país mais populoso da União Europeia. Segundo o relatório da entidade, a população do país vai aumentar das atuais 64,1 milhões para 80,1 milhões de pessoas em 2060.
O crescimento da população britânica é resultado da taxa de fertilidade relativamente alta e de um dos maiores saldos líquidos de imigração entre todos os países que pertencem ao bloco comum.
Essa diferença pode ajudar a explicar por que Alemanha e Reino Unido mantêm posições diferentes sobre imigração.
Carga
No caso alemão, a crescente proporção de cidadãos dependentes antecipa um enorme fardo para os contribuintes.
Estima-se que a proporção de pessoas com 65 anos ou mais sobre a população entre 15 e 64 anos aumentará de 32% em 2013 para 59% em 2060.
Em outras palavras, isso significa que daqui a 45 anos haverá dois alemães com menos de 65 anos trabalhando e gerando impostos para cada alemão aposentado.
Segundo explica o editor de economia da BBC, Robert Peston, “considerando essas circunstâncias, seria particularmente útil para a Alemanha receber um influxo de famílias jovens da Síria ou de outras partes, que estão dispostas a trabalhar duro e se esforçar para reconstruir suas vidas e demonstrar a seus anfitriões que não são um fardo”.
Mas nem tudo é boa notícia para a Alemanha.
A entrada maciça de imigrantes, como está acontecendo agora, cria enormes desafios para a sociedade.
Governos de muitas cidades dizem estar sobrecarregados pois não têm onde abrigar os refugiados, que chegam a dezenas de milhares de pessoas.
E os sistemas de segurança social e os orçamentos regionais vão ter de enfrentar crescentes custos adicionais.
Mas, como observou em sua edição internacional a revista Der Spiegel, a entrada sem precedentes de imigrantes na Alemanha “vai mudar fundamentalmente o país.”
“(Os refugiados) representam um fardo, mas são também uma oportunidade para criar uma nova Alemanha, mais cosmopolita e generosa”.
E a onda de imigração também é bem recebida pelos empresários. “Embora a taxa oficial de desemprego seja de quase 2,8 milhões no país, diz a Der Spiegel, a comunidade empresarial precisa urgentemente de trabalhadores.”
“A economia alemã depende da imigração, tanto da Europa quanto de pessoas que entram no país devido aos direitos de asilo.”
“Com uma população em queda, as empresas não podem preencher todos os postos de trabalho e trabalhadores qualificados são cada vez mais raros. Essa tendência será agravada nos próximos anos. Trata-se de uma realidade que ameaça a prosperidade do país”, afirma a publicação.
Especialistas dizem que a Alemanha não vai conseguir satisfazer suas necessidades somente com o mercado de trabalho europeu, onde é permitida a livre circulação de trabalhadores na União Europeia.
Em meio ao acalorado debate sobre imigração, o governo alemão não está isento de críticas, muitas das quais partem de setores à extrema-direita tradicionalmente contrários a entrada de estrangeiros no país.
Mas economistas afirmam que a imigração promove crescimento e o país vive, atualmente, um momento em que a onda de imigrantes pode representar um benefício econômico e demográfico no futuro.
Fonte: MSN Notícias