Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu um comunicado a todas as vigilâncias sanitárias do país para pedir maior rigor na fiscalização a clínicas de serviço de diagnóstico por imagem. O alerta foi dado depois das primeiras conclusões sobre a falha que causou a morte de três pacientes no hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), após exame de ressonância magnética.
Os pacientes de Campinas receberam na veia um produto chamado perfluorocarbono do tipo Fluorinert FC 770, que só pode ser utilizado no aparelho de ressonância, sem, contudo, entrar em contato com o corpo do paciente. O composto era armazenado pela clínica em bolsas reutilizadas de soro fisiológico, sem identificação, o que, para a polícia, induziu uma funcionária ao erro.
A Anvisa explicou, em nota enviada nesta sexta-feira (26), que o produto não tem uso na medicina e por isso não tem – e nem poderia ter – registro na agência. “O produto utilizado em Campinas não tem uso médico, seu uso é em equipamento, logo não poderia ter registro na Anvisa”, diz a nota.
O texto da assessoria de imprensa do órgão diz que, a partir do que ocorreu na clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC), que opera os exames dentro do Vera Cruz, a Anvisa “enviou ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária um comunicado pedindo que todas as Visas do país intensifiquem a fiscalização para saber se elas têm protocolos de segurança”. A agência afirma, ainda, que acompanhará este levantamento junto às visas.
Produto em desuso
O presidente do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), o médico Henrique Carrete Junior, explica que a utilização do perfluorocarbono no procedimento de alguns exames de ressonância é adotada por algumas clínicas, embora seja pouco comum no Brasil. Ele explica que o material é colocado no aparelho, sem contato com o paciente, e melhora a qualidade da imagem gerada pelo equipamento.
“Ele é utilizado no instrumento, em uma parte do equipamento, para melhorar o sinal. Não é para ser injetado no paciente. De fato, ele não é comum, mas ele é utilizado, tem publicação internacionalmente e não é algo experimental”, explica Carrete.
O médico explica que o medicamento não é tão habitual porque ele é utilizado em alguns exames restritos, como o de próstata e alguns superficiais, e outras tecnologias surgiram e superaram o uso desta técnica. “Existem metodologias que vem para ficar e outras que acabam sendo utilizadas e vão caindo em desuso. Este eu acho que é o caso. Ele surgiu com algo muito interessante e foi caindo em desuso”, conta.
Falha humana
Os dois pacientes homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher, de 25, morreram de parada cardiorrespiratória após passarem pelo exame na RMC, que fica dentro do Hospital Vera Cruz. A substância aplicada nos pacientes só foi apreendida pela polícia dentro da clínica dois meses após as mortes, porque, segundo o delegado, o local não foi preservado.
O delegado José Carlos Fernandes explicou que o perfluorocarbono, utilizado para exames na região pélvica, sem contato direto com o paciente, não é solúvel no sangue – por isso não poderia ser injetado. Segundo o policial, o composto era acondicionado em embalagens reaproveitadas e ficava no mesmo armário do soro fisiológico, apenas em gaveta diferente. A auxiliar de enfermagem, de 20 anos, não teria sido orientada sobre a diferenciação dos produtos.
Investigações
A polícia ainda não informou quem será indiciado no caso e também não divulgou o prazo que o inquérito será concluído. Fernandes afirmou que tanto a responsabilidade dos funcionários, quanto do hospital e da clínica serão avaliadas individualmente. Para isso, a partir de segunda-feira (29) o delegado pretende colher mais seis depoimentos. Ele não descarta a chance de acareação entre as testemunhas.
Clínica não se manifesta
A clínica RMC informou, por meio de nota, que os esclarecimentos detalhados serão feitos todos na próxima semana, quando a direção da empresa deve conceder entrevista coletiva.