Uma medida provisória do programa Mais Médicos que dispõe sobre o treinamento do estudante de medicina durante dois anos no Sistema Único de Saúde (SUS) foi criticada pelo presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) e por estudantes do curso de medicina. No entanto, alguns usuários da rede pública entrevistados pelo Bahia Notícias acreditam que a vida pode melhorar com a medida provisória. “Vai ser ótimo para as pessoas de baixa renda que não podem pagar um plano, porque muitos estudantes vão exercer a função que hoje está um caos. Eu estou precisando de médico, e com esse período de greve municipal, pelo ‘SUSto’ [apelido dado ao Sistema Único de Saúde]… A atendente disse que não está tendo médico, e pelo tempo em que eles estão parados, ela informou que não vai estar marcando consulta tão cedo. Carece de médicos e equipamentos”, afirmou o porteiro Edmilson Bahia ao BN. A queixa com o serviço público não é exclusividade de Edmilson. A balconista de lanchonete Roberta França também não tem plano particular, mas disse preferir pagar consulta avulso a ter que encarar a fila do SUS. “Vai melhorar [com o Mais Médico], quanto mais [médicos] melhor, não importa de onde venha, o que importa é que tenha. A pior coisa do mundo é chegar na emergência e demorar para ser atendida. Eles estão de greve e sacaneiam a gente”, desabafou, ao emendar que também é a favor da vinda dos médicos estrangeiros. “Eu apoio, porque se os médicos daqui têm umas falhas terríveis…”, completou. Já o frentista e estudante de gastronomia Alessandro Moura, que passou a ter plano particular por não confiar na saúde oferecida pelo Estado, alega que a medida provisória do programa também será boa para os estudantes de medicina ganharem experiência. “O SUS é carente, chega na emergência e não tem médico nem gente para passar informação. Até mesmo pagando eu tenho dificuldade, só consigo ser atendido com mais de um mês de antecedência. Quando sofri acidente de moto passei seis dias no hospital. O médico disse que era melhor eu ir para casa para não pegar infecção hospitalar. Médico não gosta de trabalhar, são poucos os que gostam”, indignou-se. No entanto, na opinião dos estudantes de medicina entrevistados pelo Bahia Notícias, o programa não deve trazer soluções efetivas para a saúde no país porque o governo não tem combatido as questões mais críticas. “As medidas que o governo tem tomado ultimamente tem centrado o médico como o problema. No primeiro semestre tivemos aula de primeiros socorros. A primeira coisa que se percebe é que o médico sem nenhum suporte só pode fazer o que qualquer cidadão pode fazer, os primeiros socorros. Medicina não é mágica. Essa imposição é um tanto ditatorial, arbitrária, todo mundo tomou um susto, não foi consultado o Conselho Federal de Medicina”, alega o estudante de medicina do quarto semestre da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Leonardo Pereira. Já Oddone Braghiroli, do sétimo semestre da Ufba, enxerga que há manobra eleitoreira no programa. “Não vejo isso como solução dos problemas. Terá muito problema de estágio sem supervisão. Acho que tem outras formas mais adequadas, é obrigação do Estado oferecer saúde e ele tem que fazer os meios para isso, como oferecer estrutura adequada e plano de carreira, são os dois pontos principais. Depois disso você começa a pensar em outro tipo de medida, e não com medidas eleitoreiras”, opinou. Estudante no último ano do Bacharelado Interdisciplinar (BI) de saúde da UFBA, João Victor Machado, já decidiu que quer ser médico e, embora saiba que a medida provisória não o fará ficar mais dois anos na faculdade (pois só começaria a valer a partir de 2015), lamenta a falta de cuidado do governo em lidar com um assunto tão sério. “O programa não está totalmente errado. Trabalhar no serviço público de saúde é interessante, o problema é ser obrigado a isso. O curso de medicina já é bem longo [passaria de seis para oito anos], a gente precisa se formar para trabalhar. As condições da faculdade já são sucateadas, precisa melhorar a estrutura e as condições de trabalho”, refletiu. O Conselho Nacional da Educação (CNE) ainda não definiu os valores a serem pagos para a bolsa do estudante no período em que trabalhar no SUS e os critérios de supervisionamento. No ano passado, coordenadoras de cursos de medicina em Salvador admitiram carência de profissionais no interior.
por Lucas Franco
(BN)