Um grupo de homossexuais de Cascavel, no oeste do Paraná, criou um projeto chamado “Homens de Salto”. A iniciativa fotografa homens em trajes masculinos, usando sapatos de salto alto em locais públicos. As imagens devem fazer parte de uma exposição, de 7 a 28 de junho, na sala Verde da Biblioteca Pública e secretaria de Cultura da cidade. A ideia surgiu após Maisson Dyeimes Portes, de 19 anos, sofrer dois ataques homofóbicos em um terminal de ônibus da cidade. As agressões, de acordo com o jovem, partiram de dois rapazes. Os fatos aconteceram em um intervalo de uma semana. o idealizador do projeto e que também fotografa os jovens, Jeferson Kaiders, contou que a ideia de fazer a exposição com fotos de homens usando salto em lugares públicos da cidade partiu, justamente, pelas agressões terem ocorrido em um lugar de movimento. “É uma forma de mostrar que os espaços públicos são um espaço de direito de qualquer pessoa que queira usar e expressar como quiser. É direito porque todos somos cidadãos e todos nós pagamos impostos”, assegurou. Kaiders revela que o grupo fez uma pesquisa e descobriu que os sapatos de salto eram usados inicialmente por homens e que, em 1630, as mulheres começaram a usar também. “Diante dessa pesquisa histórica a gente foi percebendo que o salto era um elemento primordialmente masculino”, complementou.
Jeferson Kaiders disse que muitos homens já começaram a enviar as fotos tiradas em lugares públicos, inclusive, pessoas de outros lugares do país. Contudo, apesar de o objetivo ser de levar o projeto por todo o Brasil, a exposição será apenas de fotos tiradas em Cascavel. “Vamos fazer uma discussão com relação ao preconceito. Do fato de a gente, muitas vezes, não perceber que as diversas culturas precisam ser respeitadas. Existem diversas pessoas que pensam de diversas formas e tem diversos gostos, e esses gostos precisam ser respeitados”, garantiu.
Usando sapatos com salto alto desde outubro de 2012, Maisson garante que não teve dificuldades para se equilibrar nas primeiras tentativas. “Eu comprei um simplesinho só para eu treinar. Coloquei e já andei normal. Eu acho que já nasci diva”, brincou.
Segundo ele, a primeira vez que ousou em sair com um sapato de salto foi para ir ao trabalho e garantiu que muitas pessoas olharam, mas não houve rejeição. “Mas o primeiro estouro, mesmo, foi quando eu fui a um casamento. Foi muito diferente, foi algo que eles [familiares] não esperavam. Foi quando eu mais me assumi para os parentes, familiares. (…) Eu sabia que iam olhar, iam criticar, mas não liguei porque eu estava gostando”, disse.
Maisson também brincou que é o mais difícil é encontrar sapatos no número 40, tamanho que usa. Quanto ao atendimento das vendedouras de calçados, garante que é “normal”. “Elas até acham estranho, mas atendem muito bem”, comentou.
Ao G1, ele disse que sempre gostou de usar sapatos com salto alto que é dá uma sensação de “poder”. “Quando você está em cima de um salto a autoestima, pelo menos para mim, vai lá em cima”, acrescentou. Ele garante que não recebe o apoio dos pais, mas que eles o respeitam. “Nenhuma mãe quer, né?”, argumenta.
Eu comprei um [salto] simplesinho só para eu treinar. Coloquei e já andei normal. Eu acho que já nasci diva”
Maisson Dyeimes Portes, de 19 anos, foi agredido em Cascavel
Henquique Gonçalves de Assis não usa sapatos com salto no dia a dia. No entanto, segundo ele, abraçou a causa para tentar acabar com o preconceito. “As pessoas, nessas questões, têm uma mente muito primitiva. São acostumadas, desde criança, que azul é para meninos e rosa para meninas. Tem que largar um pouco dos estereótipos, ser mais mente aberta, conviver mais com todas as questões”, contou.
Apesar de usar o salto apenas para fotografar, ele garante que é “confortável e seguro”. “Você fica mais alto, fica mais poderoso. Dá para saber como uma mulher também se sente de salto”.
(G1)