Dois meses depois do acidente aéreo que matou o candidato à presidência Eduardo Campos, o Fantástico obteve com exclusividade a gravação dos últimos instantes do voo — a conversa final entre os pilotos e a Base Aérea de Santos, que fica em Guarujá, no litoral de São Paulo.
O voo parecia transcorrer normalmente até que o comandante avisa que vai arremeter. Depois disso, a torre chama o avião por dez vezes e não consegue obter uma resposta.
O Cessna ainda estava voando alto, na área de controle de São Paulo, quando o co-piloto responsávela pela comunicação fez o primeiro contato para perguntar sobre as condições climáticas para pouso.
No local, não existe uma torre para controlar o tráfego aéreo. No caso, só uma estação de rádio, operada por um militar, passa informações para os pilotos sobre as condições encontradas na pista.
Mas a base operava por instrumentos e como a visibilidade era baixa, os pilotos teriam que se guiar exclusivamente pelas antenas de rádio. Durante a aproximação, a base destaca: “Atento a pássaros na cabeceira da pista”.
Dois minutos mais tarde, o co-piloto se confunde ao passar o prefixo do avião, mas ele confirma a arremetida. Nessa situação, segundo a carta que orienta o pouso na Base Aérea de Santos, os pilotos devem subir de volta para 4000 pés e recomeçar a tentativa. mas o áudio não deixa claro se isso aconteceu.
Eram 10h naquele momento e, depois disso, silêncio. Os pilotos não fizeram mais contato, apesar dos chamados pelo rádio. Foram dez tentativas de contato e do outro lado, nenhuma resposta.
Na Base Aérea de Santos, a preocupação aumentava.“O jatinho está desaparecido, São Paulo não sabe, não pousou em Itanhaém, ninguém sabe de nada”, comenta um funcionário da Base. Ele estava conversando com assessores do PSB, partido de Campos, que esperavam o jato chegar.
Perto dali, no bairro Boqueirão, em Santos, câmeras de segurança mostravam a queda da aeronave que trazia o presidenciável. Na queda do avião, peças voaram por toda a vizinhança. Todos os tripulantes do voo morreram.
Uma das peças do avião entrou em um apartamento, destruindo a parede da cozinha e da sala. agora, dois meses depois do acidente, o apartamento começou a ser reformado. Ao todo, 13 imóveis foram atingidos por destroços do avião. Moradores das casas atingidas têm direito a receber indenização pelos prejuízos.
A reportagem teve acesso a apólice de seguro do avião, que garante cobertura nesses casos. Esse documento está com a justiça. O seguro prevê 50 milhões de dólares, cerca de R$ 120 milhões, para vítimas. A apólice vence em dezembro de 2014. “Vítimas que perderam seus entes queridos no acidente e, também, as vítimas que tiveram prejuízo material que são as pessoas das casas da cidade de Santos”, afirma o produrador da República e do Ministério Público Federal, Thiago Lacerda Nobre.
A apólice está em nome da AF Andrade, uma empresa do setor agrícola, que arrendou o avião em 2010. Ou seja, não era de fato a proprietária até que terminasse de pagar as parcelas pra fabricante Cessna. “A propriedade da aeronave é ainda um pouco nebulosa. A principio essa aeronave foi financiada junto à Cessna, com pagamento de parcelas por um empresário e ela teria sido vendida para outros empresários”, explica Nobre.
O advogado da AF Andrade informou que já está comprovada a transferência de arrendamento da aeronave para os empresários pernambucanos João Carlos Lyra e Apolo Santana, que tentavam comprar a aeronave desde maio de 2014. Eles emprestaram o jato para a campanha de Eduardo Campos. Com isso, a responsabilidade pelo seguro seria deles, versão contestada pela assessoria dos empresários. Eles alegam que a transação não havia sido concretizada quando ocorreu o acidente.
Apesar disso, moradores do Boqueirão, disseram que estão sendo procurados pelos advogados dos dois empresários de pernambuco para fazer acordos. A aposentada Júlia Nagamine recebeu a oferta e aceitou. “A gente está entrando em um acordo, para não entrar na justiça para receber e dar andamento no que nós temos que arrumar.
O avião caiu no quintal da casa da aposentada, que começou uma reforma por conta própria e está esperando o dinheiro do acordo. O advogado da família diz que o acerto tem restrições, mas deve ser feito. “De um lado elas vão receber quase que na plenitude o valor e danos materiais pretendidos, e de outro lado elas abrem mão de qualquer processo, inclusive uma indenização por danos morais”, pondera Marcelo Vallejo Marsaioli.
Já a psicóloga Maria Ester Bittencourt faz questão de receber pelos prejuízos materias e morais que sofreu. “Nós temos direito a danos morais sim, nós queremos também. se for preciso (vamos brigar) sim”, ressalta. ela, os pais e mais dois irmãos tiveram que abandonar a casa onde moravam.
O advogado Ernesto Tzirulnik, especialista em seguros, disse, que os moradores não precisam aguardar um contato dos responsáveis pelo avião. “Todos aqueles que foram vítimas de danos pessoais ou materias passam a ter o direito de exigir as suas indenizações diretamente contra a seguradora”, conta.
Em nota, a seguradora Bradesco, disse que não passa informações sobre a apólice que o nossa equipe de reportagem teve acesso.
Fonte: Portal G1/Fantástico