Os números impressionam. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), mais de cinco milhões de pessoas morrem, anualmente, em decorrência do AVC (acidente vascular cerebral), também conhecido como derrame. No Brasil, este índice é de aproximadamente 100 mil casos, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Desse total, 43 mil ocorrem na região Sudeste: 21 mil em São Paulo e quase 11 mil no Rio de Janeiro. Quando não mata, o mal leva a sequelas graves que atingem em torno de 50% dos sobreviventes. Por fim, sabe-se que a doença é mais comum após os 40 anos, embora possa surgir em qualquer idade.
Mitos e Verdades
O AVC deixa sequelas. PARCIALMENTE VERDADE: “Nem todos os AVCs provocam isso”, sustenta o neurocirurgião Paulo Porto de Melo. Em primeiro lugar, devemos considerar como sequela qualquer deficit neurológico que se mantém por um período superior a seis meses. O derrame leva a uma lesão no cérebro, sendo que a sequela dependerá diretamente do local em que o distúrbio ocorreu. Por exemplo: um paciente que teve um AVC no lado esquerdo, em cima da área que movimenta a mão, pode perder o movimento da mão direita (a função motora é cruzada). Mas, antes de seis meses, é possível ocorrer recuperação total ou parcial da disfunção, pois acontece de outras regiões compensarem o problema gerado. “Após o Acidente Vascular Cerebral, as consequências mais comuns são: dificuldade de movimentar um ou mais membros (geralmente de um lado do corpo), entraves de comunicação (expressão ou compreensão), engasgos, problemas de coordenação motora, sensibilidade reduzida em determinado local, visão dupla e complicação para enxergar. E tudo isso, vale insistir, dependendo do lugar lesado e da sua função. Existem zonas cerebrais sem uma atividade crítica: se ocorrer um AVC nela, este pode até passar despercebido ou promover sintomas transitórios ou muitos sutis. Em compensação, há territórios em que uma pequena lesão terá resultado catastrófico pela densidade de estruturas nobres naquele espaço”, conclui o neurologista Leandro Teles Thinkstock
Por tudo isso, reconhecer e tratar o AVC são grandes desafios atuais no país e no mundo. O problema ocorre quando uma artéria é tapada ou obstruída ou quando se rompe um vaso sanguíneo. Diante do quadro, a parte do cérebro afetada não recebe o oxigênio necessário e neurônios começam a morrer. Perceber que o derrame está acontecendo é fundamental porque cada minuto sem tratamento significa a morte de muitos neurônios e das conexões entre eles, o que origina sequelas.
“Ele não surge do nada, geralmente é fruto de disfunções anteriores que levam ao aumento no risco de oclusão de um vaso ou seu rompimento”, salienta o neurologista Leandro Teles, médico do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Os sintomas do AVC surgem repentinamente e, uma vez sabendo quais são, dá para identificar o perigo iminente. Os principais sinais são: enfraquecimento, adormecimento ou paralisação de braço ou perna de um lado do corpo; perda de força na face, o que pode causar desvio da boca para um lado (ela fica torta); alteração da visão, com turvação ou perda especialmente de um olho, episódio de visão dupla ou sensação de “sombra” sobre a linha do que se enxerga; dificuldade de falar ou entender o que os outros estão dizendo; dor de cabeça súbita, forte e persistente; perda da capacidade de engolir; e tontura, desequilíbrio, falta de coordenação ao andar ou mesmo queda.
Diante da menor suspeita do distúrbio, é imprescindível, portanto, buscar ajuda médica especializada, que confirmará o diagnóstico e implementará as ações necessárias, salienta o neurocirurgião Paulo Porto de Melo, que é membro das Sociedades Brasileira e Americana de Neurocirurgia e colaborador do Departamento de Neurocirurgia da Universidade de Saint Louis (Missouri, EUA).