Há 55 anos, o garçom Izaías Pereira da Silva, o Batata, inconformado com o fato de trabalhar no carnaval e não poder cair na folia, criou o próprio bloco para reunir pessoas na mesma situação que ele. Nascia o Bacalhau do Batata, que caiu no gosto dos foliões mais resistentes e foi o destaque da programação da Quarta-Feira de Cinzas, hoje (1º), em Olinda.
Ao som do frevo e também de músicas do cantor e compositor Reginaldo Rossi – que eternizou a profissão de garçom em uma de suas músicas mais famosas –, o estandarte enfeitado com alimentos dançou junto à multidão.
“De brincadeira até fundamos um bloco que são os carimbados, essas pessoas que vêm todo ano com a mesma fantasia”, disse Ricardo Gusmão, de 53 anos. Desde 1987, ele comparece vestido de bruxo, de sobretudo preto, rosto pintado de branco, coturno nos pés e um crânio na mão. “O Batata era amigo do meu pai, então, tenho um carinho especial pelo bloco.”
Outro personagem chega para fechar a programação do período: José Flaviano Fonseca, de 53 anos, o Tampa do Carnaval. De estandarte próprio e macacão repleto de tampinhas de todos os tamanhos, o auxiliar de serviços gerais sempre brinca com a mesma fantasia. Mas, se depender dele, os festejos ficam abertos por muito tempo. “Eu só paro no domingo, no camburão”, promete Fonseca, referindo-se a um bloco formado por policiais e bombeiros que sai pela primeira vez em Olinda este ano. Tradicionalmente o grupo brinca no Recife.
Os garçons também aproveitam o bloco, como representantes da profissão do fundador Batata. José Philipe de Lima Neto seguiu a tradição de Izaías e trabalhou durante o carnaval, folgando na Quarta-Feira de Cinzas. Foi vestido a caráter, levando caranguejos e cachaça na bandeja. “Se não fosse o Batata, a gente não tinha isso”, afirmou.
Já Severino da Paz, de 51 anos, folga no carnaval e brinca o período completo. Para todos os lugares, e principalmente para o Bacalhau, leva um banner em homenagem a Reginaldo Rossi. Ele jura que, junto com um colega de trabalho, deu a ideia para o cantor fazer a música famosa. “Eu estava trabalhando no Mar Hotel no dia que ele fez show. A gente chamou ele e falou: Reginaldo, faz uma música para os garçons, somos trabalhadores da noite, você também. Aí ele fez”, afirma, cantando um trecho.
A nova trabalhadora carnavalesca
Batata faleceu em 1993. Há sete anos, quem está na presidência do bloco é sua sobrinha, Fátima Araújo. Professora, inicialmente não teria relação com a profissão do tio. Mas à frente do bloco, acaba virando uma trabalhadora do carnaval, na organização pré-bloco. Além disso, não deixa as aulas de lado durante os festejos de Momo. “Para mim é emocionante. Eu não era nem nascida ainda, mas consigo manter o bloco. Trabalhando e pulando, mantenho firme e forte como vocês veem aí.”






