O assassinato de Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, está longe de ser um fato isolado, como denunciam os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Segundo o levantamento, divulgado em julho, a Bahia tem o segundo índice de mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes (com 47,1), atrás somente do Amapá (que tem 50,6).
Além disso, Salvador é a segunda capital mais violenta do país, com 66 mortes violentas intencionais (MVI) a cada 100 mil habitantes, atrás apenas de Macapá (AP), com 70. Outros números também confirmam o quadro de descontrole no enfrentamento à criminalidade no estado. Os quatro municípios com a maior taxa de MVI são da Bahia — um deles é Simões Filho, onde fica o quilombo que era liderado por Mãe Bernadete.
Para o especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna, esses dados sobre a Bahia apenas comprovam a falta de aplicação de recursos na segurança pública. “A gente percebe que os investimentos feitos não permitem dizer que o estado se preocupou em desenhar algo de qualidade para a segurança pública”, afirma.
Sant’Anna lista outras dificuldades que a segurança pública enfrenta na Bahia, como os baixos salários para os profissionais do setor, a falta de capacitação. Segundo o especialista, até mesmo a localização geográfica contribui para o quadro de descalabro na segurança pública no estado.
“Há uma grande extensão de área rural e rodoviária, o que gera dificuldades em exercer o patrulhamento nesse espaço”, explica.
Isso explicaria o avanço do crime organizado na Bahia nos últimos anos, o que fez com que grupos vulneráveis, como os quilombolas, fiquem ainda mais desprotegidos. Segundo um levantamento da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), pelo menos 30 quilombolas foram assassinados desde 2013 no país. E, desse total, 11 ocorreram na Bahia.
“Em um momento em que essas mesmas comunidades, já fragilizadas social e economicamente, começam a buscar a garantia de alguns dos direitos — o que, culturalmente, não é comum em regiões como essa —, a gente acaba tendo um desdobramento negativo”, avalia Sant’Anna.
Fonte: Correio Brasiliense