O Banco Central (BC) subiu nesta quarta-feira (15) o juro básico da economia brasileira, a taxa Selic, em 0,50 ponto percentual, para 10,5% ao ano. Foi a sétima alta seguida da taxa, que havia caído para um dígito em março de 2012 (para 9,75% ao ano, de 10,5% ao ano). Foi a primeira decisão sobre juros de 2014.
“Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom [Comitê de Política Monetária] decidiu por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p. [ponto percentual], para 10,5% ao ano, sem viés”, informou.
A expressão “neste momento” no comunicado –que não estava no documento de novembro, quando houve a alta anterior– indica que o BC deixou a porta aberta para um novo aumento no mês que vem, sem, porém, se comprometer com o seu tamanho.
A decisão confirmou a aposta de alta de economistas brasileiros, baseada no atual cenário de pressão inflacionária. Havia, porém, uma dúvida em relação ao ritmo de aumento da taxa: de 0,50 ponto percentual ou 0,25 ponto percentual.
A elevação dos juros é um instrumento usado pelo governo para conter o consumo, uma vez que o crédito (tanto empréstimos em instituições financeiras quanto parcelamentos em lojas, por exemplo) fica mais caro. E, com menos demanda, a inflação tende a ceder.
PERSPECTIVAS
Para o futuro, as apostas dos economistas ouvidos pela Folha variam. Alguns acreditam que a Selic fique estável a partir de agora até o fim de 2014 e outros preveem mais altas, com a intensidade a depender da inflação.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, a Selic pode encerrar 2014 em até 11,25% ao ano, sendo mais duas altas –em fevereiro e em abril, de 0,50 meio ponto percentual e 0,25 ponto percentual, respectivamente.
“O BC tem que lidar com muitas questões [como inflação alta e crescimento fraco, por exemplo] ao mesmo tempo utilizando apenas um instrumento”, diz.
Segundo ele, a aposta de elevação menor da Selic por parte do mercado desdenha da autoridade monetária. “É como se dissessem: este BC aí não vai fazer o que tem que ser feito porque está comprometido com o projeto de reeleição”, afirma.
O economista defende a independência do Banco Central e diz que a autoridade “está fazendo tudo que pode para conduzir o sistema de metas em um planeta que mandou às favas os bons modos monetaristas através de estímulos econômicos nos EUA, no Japão e na Inglaterra.”
Já o economista Luciano Rostagno, do Banco Mizuho, afirma que a atividade econômica fraca do país, principalmente pelo desempenho da indústria, deve impedir o BC de subir muito mais a Selic. “Indicadores de atividade da indústria sugerem que a produção do setor registrou forte queda na margem em dezembro, após sofrer ligeira retração em novembro.”
Folha de S. Paulo