A uma semana de completar dois meses de racionamento de água, nove das dez barragens responsáveis pelo abastecimento da Região Metropolitana do Recife ainda estão com menos de 50% de sua capacidade, de acordo com boletim de monitoramento da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac). O rodízio foi iniciado no dia 1º de março, na parte plana da capital, em uma ação da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) iniciada após a constatação que o período de estiagem está afetando o abastecimento das barragens do Grande Recife.
O diretor de regulação e monitoramento da Apac, Sérgio Torres, aponta que uma das situações mais preocupantes é a de Pirapama, que em 15 de abril de 2012 tinha 68% do volume total em água e, no mesmo dia de 2013, tinha 14%. No boletim de monitoramento da Apac da última terça-feira (23), após algumas chuvas, está com 20,5%. “Temos uma anomalia neste ano, está mais seco que o normal. O problema maior são as barragens que estão muito abaixo de 50%, mas algumas como Botafogo, em 2011, estava em 29% e agora está com 17,4%. Não é o ideal, mas não é algo tão gritante como Pirapama”, afirma Torres.
Diretor Metropolitano da Compesa, Rômulo Aurélio Souza explica que a companhia havia conseguido equilibrar a oferta e a demanda de água na RMR com a entrada de Pirapama na rede. “Nós saímos de uma produção da ordem de nove metros cúbicos por segundo para aproximadamente 15 metros cúbicos por segundo, quando Pirapama entrou em ação. Isso equilibrou o balanço oferta-demanda. [O problema é que] em função da escassez e dos níveis baixos dos reservatórios, de Pirapama, Tapacurá, Duas Unas, de todo o sistema de barragens que atende a Região Metropolitana, a gente praticamente retirou um Pirapama da rede. Hoje, a gente voltou para os mesmos nove metros cúbicos por segundo, antes da situação de ter Pirapama, o que gerou o desequilíbrio novamente e nos obrigou a implantar o regime de rodízio”, detalha Souza.
Apesar da situação preocupante, Torres afirma que o volume residual de Pirapama resiste até junho. “Para a segunda semana de maio, nossos meteorologistas já apontam que deve haver chuvas mais intensas e, com isso, a situação deve melhorar”, explica o diretor de regulação e monitoramento da Apac.
Morador do bairro de Brasília Teimosa, o entregador de jornais Luciano Nascimento comemorou quando passou a receber água todos os dias na torneira, com a inauguração da terceira etapa de Pirapama, no final de 2011. Agora, se vê obrigado a buscar água em uma cacimba a 300 metros de onde mora. “Eu trabalho de madrugada e, quando chego, ainda tenho que carregar balde de água. Desde que anunciaram o racionamento, está ‘bronca’, não chega”, desabafa.
O pescador Dézio Zacarias Gomes sabe que o problema do bairro é por vezes o encanamento. “As braçadeiras entopem, acaba não chegando água pra todo mundo. Quando faltava água antes, não ficava todo esse tempo não”, recorda o pescador. “Desde que começou o racionamento, eu estou vendendo mais água mineral, até para o pessoal tomar banho”, conta o vendedor de água Adeílson Souza, também de Brasília Teimosa.
Morando a vida inteira em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, a aposentada Maria da Luz Nascimento está preocupada. “A gente sabe que está com racionamento porque não chove, mas nunca vi algo assim. No Sertão tem seca pior do que aqui, mas aqui também tem seca. Está muito difícil, a gente vai dormir de madrugada porque fica de ‘tocaia’, para ver se a água chega às duas, três da manhã”, conta.
De acordo com o cronograma da Compesa, o bairro em que a aposentada mora, Chã de Luz, está recebendo água durante 20 horas em um dia, para então passar quatro dias sem receber. “Quando chega, a água vem muito fraca, nem sobe direito para a caixa”, lamenta Maria da Luz, que divide ainda a casa com filhos, netos e bisnetos. A caixa de 500 litros que tem na varanda da casa é que tem servido para abastecer os baldes para lavar as roupas das crianças.
O diretor Metropolitano da Compesa reconhece que alguns locais estão enfrentando problemas com a pressão da água. “Todo o abastecimento de água é projetado para não funcionar com rodízio. Quando você implanta um esquema de intermitência, uma hora tem água, outra hora não tem, gera uma operação anormal e, consequentemente, você tem pontos que não equilibram adequadamente a pressão”, explica Souza. Entre os bairros no Recife com mais problemas nesse sentido estão Alto Santa Terezinha, Brasília Teimosa, Bairro do Recife e algumas áreas do Ibura.
Os problemas da própria rede, como encanamentos antigos, acabam por piorar a situação do abastecimento. Para lidar com o problema, a companhia tem estudado os pontos críticos para buscar soluções, que vão desde alterações técnicas a obras. “Se você restringe a oferta, esses pontos críticos da rede de distribuição se ampliam. […] Muitas vezes, a manobra está feita, as válvulas até estão abertas para aquele local, que deve chegar água durante todo o período previsto no calendário, mas devido às condições insuficientes da rede, esse número de horas em que deveria chegar água nem sempre é aquele previsto no calendário”, detalha o diretor Metropolitano da Compesa.