As mãos que se juntaram em oração para Daniele Hypolito na trave de 2012 foram ao ar em festa neste domingo desde que a ginasta abriu a participação do Brasil no mesmo aparelho no evento-teste. Se há quatro anos a classificação veio com tom dramático, na última nota, a equipe feminina verde-amarela não sofreu na Arena Olímpica do Rio de Janeiro. Pelo contrário, encantou. O carisma natural de Flávia Saraiva arrebatou a cada apresentação cravada. Rebeca Andrade e Jade Barbosa voaram no salto. Lorrane dos Santos mostrou garra, voltando de lesão. A caloura Carolyne Pedro, com apenas 15 anos, teve o privilégio de completar a equipe, que sem sustos confirmou o favoritismo e assumiu a liderança do evento-teste após duas subdivisões, com 226,477 pontos.
– Agora é aguardar e esperar o resultado final. A gente estava muito tranquila, bem confiante. Eu fiquei mais tranquila pisando na arena de competição. Quando escutei a força que o público estava dando, fiquei mais tranquila. Eu nunca fiz uma trave tão tranquila na minha vida. Sabia a responsabilidade que eu tinha. Dá uma tensão, porque é a prova que vai apresentar seu país para a arbitragem e para o público. Trabalhamos muito, porque não queríamos de forma alguma estar fora das olimpíadas no nosso país. Agora é ter calma, porque a tensão passou – disse Daniele Hypolito.
A vaga olímpica ainda não está garantida, mas dificilmente sai das mãos das anfitriãs. Austrália, Suíça e Romênia ficaram para trás. O Brasil apenas não se classifica para os Jogos se for ultrapassado pelos quatro times que fecham a disputa neste domingo – Alemanha, Bélgica, Coreia do Sul e França ainda competem. Só que os 226,477 pontos deram confiança para comemorações antecipadas, afinal, se tivesse sido feito na classificatória do Mundial, o Brasil ficaria em quarto lugar, à frente da China, que acabou com a prata em 2015.
A certeza é que o trabalho foi bem feito. Virou questão de esperar algumas horas para celebrar de vez a vaga e, quem sabe, com direito a título do Aquece Rio. A partir das 16h30, Alemanha e Coréia do Sul começam suas apresentações. E a classificação pode já ser oficial no fim da terceira subdivisão. Bélgica e França encerram o evento-teste a partir das 20h.
– É uma espera bem tranquila (pela vaga). Quero que chegue logo. Estou bem ansiosa. Eu gostei muito da equipe. Trabalhamos muito juntas, de segunda a domingo, para estar aqui e conquistar a vaga – disse Flavinha.
As meninas esperam também para ver que finais por aparelhos disputarão na segunda-feira. Flávia pode avançar na trave e no solo, Jade na trave, Dani no salto e no solo, e Rebeca e Lorrane nas barras assimétricas.
TRAVE
Muito empurrado pela torcida, que marcou presença na Arena Olímpica, o Brasil abriu sua participação na trave, seu aparelho mais forte, mas também o mais imprevisível, já que um pequeno desequilíbrio pode provocar uma queda. Para passar segurança, Daniele Hypolito foi a primeira a se apresentar. Justo ela que fechou com tom de heroísmo o evento-teste de 2012 nesse aparelho. Se há quatro anos a veterana selou a classificação do Brasil, desta vez ela abriu caminho para um show na trave. Foram quatro séries muito boas de Dani, Jade, Flavinha e Lorrane, com destaque para Flávia, com nota 14,566 apesar de um grande desequilíbrio. A jovem Carolyne Pedro acabou sofrendo uma queda, mas a nota foi descartada, e o Brasil somou 56,531 para abrir vantagem. Um desempenho melhor até do que na classificatória do último Mundial, quando o time foi o terceiro melhor.
SOLO
O Brasil não deixou o bom ritmo cair no solo. Daniele mais uma vez abriu com uma série segura, deixando a nova e ainda “crua” apresentação com trilha da Anitta para as Olimpíadas. Jade também cativou a torcida, arrebatada de vez com uma apresentação quase perfeita de Flavinha. Embalada por palmas, ela conseguiu a nota 14,150, a maior do Brasil no aparelho. Lorrane, que está voltando de lesão, teve de diminuir a dificuldade da sua série e completou com firmeza. Em seu segundo aparelho, Carol acabou com mais uma queda, mas novamente a nota foi a de descarte. O Brasil somou 55,374 pontos, praticamente o mesmo que no Mundial de 2015 e melhor que as outras três equipes que já competiram neste evento-teste.
SALTO
O Brasil voou no salto no embalo do Duplo Twist Yurchenko (DTY). O salto, um dos mais difíceis apresentados neste evento-teste, foi apresentado por quatro das cinco brasileiras que se apresentaram no aparelho. Jade e Rebeca puxaram o grupo com voos altos e aterrissagens quase perfeitas e conseguiram respectivamente 14,966 e 14,933 respectivamente – Flavinha e Lorrane também apresentaram DTY. Só Dani mostrou saltos mais simples, mas que a levaram para a disputa por uma vaga na final do aparelho, na segunda-feira. Com 59,040 pontos, o Brasil disparou, colocando só nesse aparelho quase três pontos de frente para Austrália, Romênia e Suíça. Um desempenho no salto quase um ponto melhor do que o do Mundial de 2015.
BARRAS ASSIMÉTRICAS
Para fechar, o Brasil encarou as barras assimétricas, aparelho que foi seu Calcanhar de Aquiles no último Mundial, responsável por adiar a classificação para o evento-teste. Carol, que teve duas quedas em outros aparelhos, conseguiu cravar a sua série. Jade apresentou mais dificuldade e acabou sofrendo uma queda. Nada que colocasse em perigo a posição de líder, até porque Flavinha e Lorrane recuperaram a confiança do Brasil com boas séries. Rebeca voou alto e conseguiu a nota 14,400 para dar início à comemoração. Foi o pior aparelho da equipe neste evento-teste, com 55,532 pontos, ainda assim um desempenho bem melhor do que o do Mundial (51,966). Motivo de sobra para liberar a festa e o choro de alegria. A vaga virou questão de tempo.
CLASSIFICAÇÃO GERAL*
1º Brasil – 226.477
2º Austrália – 218.428
3º Suíça – 218.336
4º Romênia – 216.569
* Após duas subdivisões. Alemanha, Coreia do Sul, Bélgica e França ainda vão se apresentar neste domingo. Os quatro melhores colocados se classificam para as Olimpíadas.
Fonte: Globo Esporte