O ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou nesta segunda-feira (17), ao avaliar a série de manifestações registradas na véspera contra o governo federal, que o Brasil precisa quebrar o clima de “pessimismo” e “intolerância” que, na avaliação dele, existe atualmente. Segundo o ministro, que participou na manhã desta segunda da reunião de coordenação política do governo federal, a presidente Dilma Rousseff irá intensificar, cada vez mais, o diálogo com a sociedade.
Edinho Silva foi o primeiro integrante do primeiro escalão a comentar os protestos que reuniram, neste domingo (16), milhares de brasileiros nas ruas de cidades de todas as regiões do país. Até então, o governo havia se limitado a dizer que as manifestações ocorreram “dentro da normalidade democrática”.
Na fala desta segunda, o chefe da Comunicação Social voltou a dizer que o Palácio do Planalto trata os protestos como fatos naturais de um regime democrático e avalia que as manifestações são “dentro da normalidade democrática”.
“O mais importante para o governo é que possamos quebrar o clima de pessimismo que existe no país. Medidas estão sendo tomadas para que isso seja superado em breve. Cabe, nesse momento, acreditar na força e no potencial do país. Temos de ter otimismo em relação ao que o país está fazendo. Em breve, o Brasil voltará a crescer”, ressaltou Edinho Silva em uma entrevista coletiva concedida, no Palácio do Planalto, ao final da reunião semanal da coordenação política.
O titular da Comunicação Social destacou que, além do cenário de pessimismo, o Brasil passa neste momento por uma atmosfera de “intolerância política, cultural e religiosa” (assista ao vídeo acima). Para ele, a suposta intolerância não ocorre apenas por parte da oposição com o governo, mas também por parte dos partidos que integram a base aliada.
Edinho Silva defendeu que haja “otimismo” na população e pediu que a sociedade, os empresários e os movimentos sociais acreditem que o país alcançará a retomada do crescimento econômico.
“É um momento difícil da vida brasileira, que temos de trabalhar para que a gente possa desfazer esse ambiente de intolerância, porque o Brasil sempre foi, historicamente, um país com diversidade religiosa, cultural, regional e política. Então, temos que combater esse ambiente que está sendo criado para que o Brasil volte àquilo que sempre foi sua tradição: convivência democrática com a diversidade de pensamento e de expressão, de opções”, enfatizou.
Os líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e no Senado, José Pimentel (PT-CE), estavam ao lado de Edinho Silva na coletiva. Eles também participaram da reunião de articulação política coordenada pela presidente da República com ministros do núcleo duro do governo e com o vice Michel Temer.
Oposição
Sentado ao lado do ministro Edinho Silva, o líder do governo na Câmara falou na entrevista que o sentimento de intolerância no país é “manipulado” pela oposição. O deputado petista criticou o “ódio” contra o governo e afirmou que esta situação “interdita o diálogo.”
“Este espírito de intolerância é manipulado em parte pela oposição, que semeia o ódio, um antídoto da democracia, forjada e construída nas lutas pelas Diretas Já e contra o regime militar. Essa intolerância não é saudável, ela interdita o diálogo, o contraditório e o valor fundamental que tem de estar sempre na democracia: a divergência. Agora, ainda bem que quem faz isso é uma minoria”, avaliou José Guimarães.
Para ele, a conotação ideológica muito forte dos protestos do fim de semana dificultam o diálogo entre a presidente e os movimentos presentes nas manifestações. O líder governista defendeu “humildade” e “tranquilidade” ao governo para poder colocar “o pé na estrada”.
“O PSDB convocou os atos [deste domingo] e houve propaganda partidária para isso. […] Portanto, parte do movimento, evidentemente, assumiu uma conotação ideológica muito forte. Assim fica difícil a presidenta dialogar.”
Agenda Brasil
Ao comentar os assuntos discutidos ao longo das quase três horas de reunião da coordenação política, o líder do governo no Senado disse que o grupo decidiu nesta segunda-feira priorizar no Congresso Nacional a chamada “Agenda Brasil”, conjunto de propostas apresentadas por senadores para reaquecer a economia do país (assista ao vídeo acima).
Formada por lista de 42 sugestões, a Agenda Brasil foi apadrinhada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em um gesto de reaproximação com a presidente da República. As propostas dos senadores intensificaram a tensão política entre a Câmara e o Senado.
“Dialogamos sobre a pauta no Congresso e priorizamos a Agenda Brasil, coordenada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e com olhar para dois itens: o que trata da desoneração da folha, de pagamento, que já foi aprovada na Câmara e está no Senado trancando a pauta; e o repatriamento de recursos. Portanto, esses dois itens estão na Agenda Brasil e, para os líderes do governo, são fundamentais que sejam apreciados e votados”, relatou Pimentel.
O ministro da Comunicação Social ponderou que, embora as manifestações do último domingo sejam “importantes”, o que “preocupa” o governo neste momento é a construção de uma agenda positiva para o país e de um canal de diálogo com o Congresso Nacional, os movimentos sociais e o empresariado.
Nas últimas duas semanas, Dilma reservou espaço em sua agenda para encontros e jantares com líderes do Senado, magistrados de Cortes superiores e representantes de centrais sindicais e movimentos sociais.
“Eu, pessoalmente, e aqui falo em meu nome, não concordo com a agenda colocada pelas ruas do ponto de vista ideológico. Mas, evidentemente, tenho que respeitar as pessoas que têm vontade política de ir às ruas”, declarou Edinho Silva.
Pedido de desculpas
Questionado por jornalistas sobre a nota divulgada neste domingo pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na qual a entidade cobra de Dilma pedido de desculpas ao país, o ministro da Comunicação Social ironizou o posicionamento dos advogados. Para ele, o “equívoco” da presidente foi trabalhar pela manutenção dos empregos do país, pelo aumento de renda e pela inclusão social.
“A manifestação da OAB será ouvida, será tratada com o respeito que merece. Mas a presidenta Dilma trabalhou muito para que os empregos fossem mantidos, que os salários aumentassem e que a renda do povo mais sofrido também aumentasse”, declarou o ministro, sem dizer claramente se Dilma fará ou não pedido de desculpas ao país.
Fonte: Portal G1