Quase R$ 50 bilhões saem da poupança na parcial do ano, diz BC
O cenário de crise econômica e recessão, com alta de tributos, do desemprego, da inflação e do endividamento das famílias, continua levando as pessoas a retirar recursos da caderneta de poupança.
De janeiro a agosto, a retirada de recursos superou as aplicações na caderneta em R$ 48,49 bilhões, segundo informações divulgadas nesta sexta-feira (4) pelo Banco Central.
De acordo o BC, é a maior saída para este período desde o início da série histórica, em 1995. O montante também supera, em muito, o valor de toda a entrada de recursos registrada no ano de 2014 fechado – que foi de R$ 24,03 bilhões.
Mês de agosto
Somente em agosto, a saída líquida (acima do valor dos ingressos) de recursos da poupança somou R$ 7,5 bilhões, também o maior valor da série histórica para este mês, que começa em 1995. Também foi o oitavo mês consecutivo de evasão de recursos da caderneta.
A ausência de antecipação do décimo terceiro de aposentados na folha de agosto, neste ano, também pode ter impulsionado a retirada de recursos no fim do mês passado. Em 2015, a primeira parcela do décimo terceiro dos aposentado será paga somente na folha de setembro.
Saldo da poupança recua
Com a forte saída de valores da poupança no acumulado deste ano, o volume total de recursos aplicados na caderneta recuou. No fim do ano passado, o estoque de recursos na poupança totalizava R$ 662,7 bilhões, passando para R$ 648 bilhões em julho. Em agosto, somou R$ 645 bilhões.
Economia em recessão
A drenagem de recursos da mais tradicional modalidade de investimentos do país acontece em um momento difícil da economia, de recessão técnica, com queda do PIB por dois trimestres consecutivos, alta da inflação, que, em doze meses até julho, acumula alta de 9,56%, o maior resultado desde novembro de 2003, e também dos juros básicos da economia – os mais altos em nove anos.
Além disso, também subiram vários tributos neste ano, diminuindo a renda disponível da população. Avançaram impostos sobre empréstimos, importados, carros, cosméticos, cerveja, vinhos, destilados, bancos, receitas financeiras das empresas, taxas de fiscalização de serviços públicos, gasolina e exportações de manufaturados, entre outros.
Além disso, também foram promovidas limitações de benefícios sociais, como seguro-desemprego, auxílio-doença, abono salarial e pensão por morte, além de aumento da tributação sobre a folha de pagamentos. Todas estas medidas já passaram pelo crivo do Congresso Nacional.
O desemprego, por sua vez, também não para de aumentar. A taxa registrada no segundo trimestre deste ano, de 8,3%, é a maior da série histórica, que teve inicio em 2012. Já o endividamento das famílias com os bancos, em relação à renda acumulada dos últimos doze meses, atingiu 45,8% em junho – patamar historicamente elevado.
Rentabilidade baixa
Para completar o quadro, a poupança tem perdido atratividade frente a outros investimentos. Isso ocorre porque o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic. Já o rendimento das cadernetas, quando a taxa de juros está acima de 8,5% ao ano, como atualmente, está limitado em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR).
“Com o aumento da taxa Selic [para 14,25% nos últimos meses, apesar da estabilidade em agosto], a poupança continua a perder competividade para os Fundos DI. Na atual taxa Selic, [a poupança] ficou interessante para investidores que não têm acesso a fundos DI ou renda fixa, com taxas de administração inferiores a 3% a 3,5% ao ano (movimentação em até 6 meses – alíquota de I.R. de 22,5%) ou 4,0% a 4,5% ao ano (movimentação acima de 2 anos – alíquota de I.R. de 15%)”, avaliou Fabio Colombo, administrador de investimentos.
Segundo o professor de finanças da FGV, Luiz Eduardo Franco de Abreu, o momento também é bom para investir no Tesouro Direto – programa criado em janeiro de 2002, os investidores pessoa física podem comprar títulos públicos pela internet, por meio de um banco ou corretora, sem precisar aplicar em um fundo de investimentos.
“Quem tem dinheiro em poupança está perdendo poder de compra, pois o rendimento não está acompanhando nem a inflação. Neste cenário, recomendamos o investimento em títulos públicos indexados à inflação mais juros, como a NTN-B [papel que paga variação do IPCA, mais um prêmio]”, avaliou Luiz Eduardo Franco de Abreu.
De acordo com o professor da FGV, o rendimento das NTN-B, que podem ser compradas via Tesouro Direto, varia de 7% a 7,35% (ao ano), acrescido do IPCA (inflação oficial do país). Dessa forma, podemos ter um retorno superior a 17% ao ano.
Fundo de reserva
Especialistas avaliam que, a caderneta de poupança, apesar da perda de rendimento com o processo de alta dos juros, ainda pode ser uma boa opção, mas somente em poucos casos. Pode ser uma boa alternativa, por exemplo, para pequenos poupadores (com pouco dinheiro guardado), para pessoas que buscam aplicações de curto prazo (poucos meses) ou que procuram formar um “fundo de reserva” para emergências – uma vez que não há incidência do Imposto de Renda.
Nos fundos de investimento, ou até mesmo no Tesouro Direto (programa do governo de compra de títulos públicos pela internet) há cobrança do imposto de renda e, na maior parte dos casos, de taxa de administração. Nos fundos de investimento e no Tesouro Direto, o IR incide com alíquota regressiva, ou seja, quanto mais tempo os recursos ficarem aplicados, menor é o valor da alíquota incidente no resgate.
Fonte: Portal G1