
A China se tornou o terceiro país a pousar uma nave na Lua. A sonda Chang’e-3, que leva consigo o jipe robótico Yutu, posou em uma cratera lunar neste sábado (14). A região escolhida para o pouso é na borda de Sinus Iridum, uma planície basáltica a noroeste do Mare Imbrium.
Não muito longe dali, os soviéticos pousaram seu primeiro jipe lunar, o Lunokhod-1, em 1970. E do outro lado do Mare Imbrium desceu a missão tripulada americana Apollo-15. A missão chinesa é a primeira tentativa de pouso lunar suave desde 1976, quando a sonda soviética Luna-24 fez recolhimento automático de amostras.
Desde então, diversas sondas despencaram na Lua – seja porque sua órbita decaiu, como no caso da orbitadora indiana Chandrayaan-1, em 2012, seja porque sua missão era mesmo colidir, como no caso da americana LCROSS, em 2009.
Estratégia
A nova missão, batizada em homenagem à deusa lunar das antigas lendas chinesas, é a terceira de sua série. As sondas Chang’e-1 (2007) e 2 (2010) apenas orbitaram a Lua, mas fizeram extenso mapeamento do satélite natural, em preparação para uma tentativa de pouso.
O jipe Yutu foi batizado em homenagem ao mascote da deusa Chang’e, um coelho que supostamente vivia com ela na Lua. O robô, que lembra os americanos Spirit e Opportunity, enviados a Marte, tem uma missão de três meses. Mas nada impede que ela dure mais, caso o veículo permaneça em boa forma.
Equipado com diversos instrumentos, o Yutu fará uma sondagem por radar dos primeiros 100 metros de profundidade do solo. Um espectrômetro permitirá investigar a composição de rochas. Não há nada fundamental ou revolucionário que os cientistas chineses esperam descobrir sobre a Lua.
Mas sempre há potencial para novas revelações, uma vez que o jipe estudará uma região da Lua nunca antes visitada. No módulo de pouso, há um telescópio óptico focado em observações na região ultravioleta do espectro, difícil de observar sob a atmosfera terrestre.
Os chineses pretendem fazer com ele pesquisas astronômicas na Lua. Não é uma ideia sem precedentes. A Apollo-16 chegou a levar um telescópio óptico ultravioleta, mas o equipamento se concentrava na porção mais energética dos raios UV, e o chinês se concentra nos menos energéticos.
Apesar de todas essas investigações, ninguém contesta o fato de que a missão é uma precursora. “A qualificação de voo de módulo de pouso robusto e grande da Chang’e-3 fornecerá um sistema e uma experiência espacial relevantes para futuras missões robóticas e humanas na Lua”, afirma Paul Spudis, pesquisador do Instituto Lunar e Planetário, nos Estados Unidos.
Ambições futuras
O sucesso, caso se concretize, marca o início de uma nova etapa no programa espacial chinês, que se tornou o terceiro a colocar astronautas em órbita por meios próprios, em 2003, e agora busca construir sua estação espacial até 2020. Nos próximos anos, os chineses devem ampliar suas operações em solo lunar.
A sonda Chang’e-4 (2015) deve ser uma réplica da atual missão, e a Chang’e-5 (2017) promoverá o retorno automatizado de amostras. Depois disso, restarão as missões tripuladas, que estão nos planos chineses para 2025. “Todas essas missões, tecnologias e atividades são necessárias se a meta de longo prazo da China é dominar o espaço cislunar, o volume de espaço entre a Terra e a Lua”, afirma Spudis, que defende há tempos a instalação de uma base lunar americana no satélite natural.
Ao que parece, ele terá de ver os chineses fazendo isso ao longo da próxima década. “Ir à Lua e desenvolver o espaço cislunar pode não ser importante para alguns. Claramente não é para a atual liderança da Nasa”, diz.




