Nove horas da manhã. É um domingo, e o professor Aritano Allan,38, se prepara para receber a turma de crianças de adolescentes para mais uma aula de judô. Durante cerca de 60 minutos, eles vão aprender os ensinamentos repassados pelo mestre. O grupo começa fazendo aquecimentos, se alongam, brincam um pouco e, depois de um tempo, inicia o treino. Nesse momento, aprendem táticas de ataque, velocidade, postura, deslocamento e equilíbrio.
Esta é a rotina do professor Allan que preside o Clube Judô Juazeiro, entidade sem fins lucrativos que reúne atletas da modalidade e funciona como veículo de acesso a Federação de Judô, arte marcial de combate originada no Japão, datada em 1882. Fundada em 2014, o Clube Judô Juazeiro segue os passos dos grandes Shihans, (termo que significa modelo ou professor). Chegaram aqui em Juazeiro em 1945 através da academia SamuraiKan, atualmente liderada pelo mestre Paulo Afonso.
Até então com 36 alunos cadastrados, o projeto social surgiu de uma série de conquistas obtidas sem um campeonato nacional que aconteceu em Salvador. Na época, Allan era monitor de judô e teve a oportunidade de levar a filha, Alana, e mais alguns atletas ao campeonato, dentre eles Cleberlito Neto e Rafael Vieira. Chegando na capital baiana, a surpresa: todos tiveram resultados significativos. Foram premiados com cinco ouros, duas pratas e dois bronzes. Foi então que ele se perguntou: “O que vou fazer com essa “molecada”? Porque vieram de Juazeiro para Salvador em um ônibus desconfortável, chegando aqui ninguém nos conhecia, e a gente já chegou impondo respeito”.
Após o êxito, decidiram dobrar os treinos, melhorar a alimentação e fazer exercícios funcionais voltados para o judô. Foi seguindo essa rotina de preparação que, na última etapa do Campeonato baiano disputado em 2015, Cleberlito Neto ganhou duas medalhas de ouro. Mas são muitos os percalços no caminho. Tornando-se inversamente proporcional ao conceito da palavra Judô, que significa caminho suave. A falta de recursos financeiros é o mais significativo.
Para não haver custo com hospedagem, eles viajam em esquema de “bate e volta”; como se não bastasse o cansaço do trajeto de sete horas até a capital, eles chegam exatamente no dia da competição. Em uma dessas viagens o carro que transportava a equipe quebrou. “Quase não chegávamos ao local de destino a tempo, e do meio para o fim, o motorista queria que a gente passasse dois ou três dias lá enquanto o carro consertava, e eu não podia fazer isso. Tive que alugar o transporte de lá e pagar o mesmo valor que já tinha pago de ida e volta”, conta Allan. Ocasionalmente a entidade conta com o apoio de alguns colaboradores e pais que pagam em média até R$ 110,00 (Cento e dez Reais) de passagem, mas isso nem sempre é possível.
O professor de educação física acredita que faltam oportunidades. Mais do que contar com a sensibilidade de uns poucos colaboradores, é preciso investir na formação de atletas que possam se dedicar ao esporte integralmente. “Não tem patrocínio para o esporte na região. Dói até o coração dizer isso, mas não tem. O que é feito é pouco. A questão mesmo, é que estamos precisando de alguém que compre a briga. Queremos oportunidades. Meu maior sonho hoje era colocar uma escolinha de judô, convênio em parceria com a própria prefeitura. Podíamos selecionar até 20 alunos por escola que tivesse problemas de comportamento, notas, sem necessariamente estar sendo patrocinado”, afirma, referindo-se à possibilidade de convênio com o setor público.
Para não haver custo com hospedagem, eles viajam em esquema de “bate e volta”; como se não bastasse o cansaço do trajeto de sete horas até a capital, eles chegam exatamente no dia da competição. Em uma dessas viagens o carro que transportava a equipe quebrou. “Quase não chegávamos ao local de destino a tempo, e do meio para o fim, o motorista queria que a gente passasse dois ou três dias lá enquanto o carro consertava, e eu não podia fazer isso. Tive que alugar o transporte de lá e pagar o mesmo valor que já tinha pago de ida e volta”, conta Allan. Ocasionalmente a entidade conta com o apoio de alguns colaboradores e pais que pagam em média até R$ 110,00 (Cento e dez Reais) de passagem, mas isso nem sempre é possível.
O professor de educação física acredita que faltam oportunidades. Mais do que contar com a sensibilidade de uns poucos colaboradores, é preciso investir na formação de atletas que possam se dedicar ao esporte integralmente. “Não tem patrocínio para o esporte na região. Dói até o coração dizer isso, mas não tem. O que é feito é pouco. A questão mesmo, é que estamos precisando de alguém que compre a briga. Queremos oportunidades. Meu maior sonho hoje era colocar uma escolinha de judô, convênio em parceria com a própria prefeitura. Podíamos selecionar até 20 alunos por escola que tivesse problemas de comportamento, notas, sem necessariamente estar sendo patrocinado”, afirma, referindo-se à possibilidade de convênio com o setor público.
Allan esclarece que, quando se fala em patrocínio, algumas pessoas já relacionam a “dar dinheiro”, não encaram como investimento, e esquecem do retorno pessoal que um ato de generosidade propicia. O professor conta que já se desanimou algumas vezes. “Você vai para uma viagem e não sabe se participa da próxima, é desse jeito que a gente sobrevive aqui. A gente precisa da profissionalização dessa arte”. Ainda assim tem planos para as Olimpíadas de Tóquio em 2020.
Cleberlito Neto, atleta de 20 anos, é campeão baiano e treina no Clube de Judô Juazeiro. Faz parte da seleção baiana e já treinou com a seleção brasileira. Outros atletas também vem se destacando nesse cenário, como é o caso da Alana Maíra, de 16 anos, melhor judoca de Juazeiro, campeã nacional em 2014. Neste ano, foi campeã da região Nordeste. Hoje, é a segunda melhor judoca da Bahia. Nesse mesmo caminho de sucesso), encontra-se Rafael vieira, campeão baiano em 2015. “A região tem potencial. Não posso deixar o Judô Juazeiro fechar. É um sonho”, confessa Allan.
No mês passado, o Campeonato Máster de Judô foi disputado em Lauro de Freitas-BA. Nesta competição, só disputam atletas acima de 30 anos. Três componentes do clube foram representar a cidade, todos voltaram com medalha. Talitta Vitorino com a medalha de ouro na categoria até 78 kg, Félix Júnior conquistou a prata na categoria até 90 kg e Aritano Allan também com a prata até 100 kg. Com o triunfo, os três conseguiram uma vaga para o Campeonato Brasileiro que será disputado em São Paulo no próximo mês.
Josenilton Félix Junior, ou somente Félix Júnior, tem 38 anos, é militar e professor de Judô no clube. É natural de Juazeiro – BA e, desde criança, foi incentivado pela mãe a praticar judô. Começou a disputar campeonatos em 1996 na classe sub- 18, passou pela sub-21, Sênior e, atualmente, disputa o campeonato de veteranos.
Só agora, depois de 30 anos de judô – próximo de se aposentar das competições -, vai participar de um campeonato brasileiro. Mais uma vez, o problema de patrocínio vem à tona. “Estamos na expectativa de nunca ter participado de um campeonato brasileiro. Nesse caso, como é um campeonato nacional, estamos atrás de patrocínio. Eu Allan, Talitta, nossa maior dificuldade hoje é angariar patrocínio dos empresários”, declara Félix Junior.
Para conseguir auxílio, principalmente para seus alunos, eles apresentam os projetos e os custos da viagem à empresários e contam sobre as dificuldades enfrentadas por eles. Segundo Josenilton, a maioria não tem condição de participar de competições por causa do custo elevado e, ainda, existe a despesa com o quimono que é caro. Porém, perceber a importância dessa iniciativa na vida desses jovens os faz persistir.
O judô é uma arte marcial criada com o objetivo de desenvolver uma técnica de defesa pessoal, mas também promove o aprimoramento das áreas física, mental e espiritual. Dessa forma ele estimula valores sociais como respeito, cidadania e disciplina. “O projeto social auxilia não só o atleta mas a família. As mães conversam muito comigo. Geralmente os alunos são de mães solteiras, outros moram com a avó, e às vezes só tem referência do professor como pai. E, praticamente eu que brigo, tenho que ser duro as vezes. O judô tem a parte educacional e disciplinar, o respeito com os colegas, com o professor, e isso influencia na vida deles”, explica Félix Junior.
Judô: respeito e cidadania
Talitta Vitorino, atleta de 33 anos, também nasceu em Juazeiro, é formada em educação física pela Universidade do Estado da Bahia e é professora de judô para crianças. Começou a praticar o esporte aos 11 anos, atraída pela curiosidade de descobrir o esporte que uma moça vestida de quimono praticava. Ela passava com o irmão em frente à sua casa. “Eles passavam com quimono e eu achava bonito e quis saber o que era, um dia meu pai me levou até a academia e me matriculou, a partir daí me desenvolvi no judô”.
Também conta que sempre praticou esportes e que já se envolveu com atletismo, basquete, futebol, voleibol, mas o judô possui um diferencial para ela. “O judô, de alguma forma, mexe com a formação do caráter. Da uma vida digna lá na frente, o que aprendemos quando crianças levamos para a vida toda, continuamos com os princípios impregnados em nós”.
Ela acredita que há uma relação entre o judô e a diferença de comportamento que pode ser notada nas crianças, pois a modalidade prima pelo respeito. “Temos maiores e menores no mesmo treino, o menor precisa respeitar o maior, o maior precisa cuidar do menor, essa é uma relação de respeito mútuo, se ele aprende no treino que ele precisa fazer isso, então ele vai fazer em casa, na escola e na sociedade. Ele sempre vai estar repetindo o que aprendeu no tatame, isso faz com que a consciência do judoca o torne um cidadão melhor.”
Talitta deixou o judô por 15 anos, por vários motivos. Um deles, foi a perda do pai, um grande incentivador. Mas voltou e há um ano e meio possui um espaço onde ministra aulas de judô para crianças, sendo que boa parte delas, é isenta de mensalidade. A judoca pretende continuar praticando e difundindo o esporte. Hoje, não somente por causa dela, mas pela multidão de crianças que a tem como espelho. Embora as crianças enfrentem problemas financeiros, Talitta acredita que eles podem chegar longe através do esporte, mantendo sempre viva a esperança.
Ainda mais agora que conseguiu uma medalha tão significativa. Não esperava ir tão longe depois de tantos desafios para competir em Lauro de Freitas. “Não passou pela minha cabeça disputar um campeonato brasileiro, mas surgiu. Estamos felizes. Para mim é muito gratificante ter esse acesso a um campeonato importante como uma atleta de interior. Com tanto sacrifício, viajar de última hora, a noite para fazer pesagem e lutar pela manhã e ainda conquistar uma vaga para um campeonato brasileiro coisa que poucos judocas da região conseguiram, pra nós é surreal, ainda”, revela Talitta. Agora contam com a possibilidade de angariar fundos para viajar, pois infelizmente com o salário que dispõem isso não será possível.
No local onde dá aulas de judô para crianças, recebe muitos alunos isentos de mensalidade. Não chega a lucrar com as aulas, mas tem conseguido trabalhar e ver a mudança na vida desses meninos. Para Talitta, o judô é algo que quando brota, não morre mais. “Talvez seja igual a uma nascente de água, pra parar de jorrar tem que entulhar muito”. Se inspira na garra dos seus antecessores, como o Mestre Paulo Afonso, que possui uma carreira de mais de 42 anos na região. Observando esse tipo de exemplo, pensar em párar causa até um constrangimento. A força iniciada em 1945, quando o esporte surgiu na região, precisa continuar. “Desistir é um pensamento que a gente não tem. Se for para desistir, que seja pra desistir de ser fraco. Então, a gente continua e persevera”.
Fonte: Esther Santana








