O Jornal Diário da Região estreou neste sábado o espaço Artistas do Vale. Nesta coluna iremos trazer entrevistas com artistas da região do Vale do São Francisco de diversos seguimentos como música, teatro, pintura, escultura, fotografia, literatura, entre outros. Esse será um espaço para divulgação e incentivo a produção de arte no Vale.

Por Alinne Torres
Fotos: Caio Alves

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Para esta estreia, o Jornal Diário da Região convidou o músico, cantor e compositor Maurício Dias Cordeiro, o Mauriçola. Nesta entrevista o artista conta a sua trajetória musical, principais sucessos, parcerias, como também faz críticas à falta de estímulo para com a produção artística no Vale. Mauriçola nasceu em 1955, é natural de Juazeiro, pai de dois filhos, e é o compositor do Hino do Centenário do Carnaval de Juazeiro que acontecerá de 07 a 16 de fevereiro. Com vocês, Mauriçola!

Diário da Região: Mauriçola, como você iniciou sua carreira? E o que influenciou o gosto pela música?

Mauriçola: Eu nasci em Juazeiro quando era adolescente, criança ainda, foi à época em que começou o período da Jovem Guarda no Brasil, com Roberto Carlos e Erasmo Carlos, e depois veio a Tropicália, com Caetano e Gilberto Gil, e teve também João Gilberto, onde eu tive que compreender a Bossa Nova. Os festivais universitários de Juazeiro e região me ascendiam o gosto pela música. Mas, desde criança eu tinha vontade de aprender a tocar violão. Aos 14 anos eu fui trabalhar e comprei o meu primeiro violão e, por incrível que pareça, quem me vendeu foi Assis Sangalo, o pai de Ivete Sangalo. Daí comecei a tocar. Joseph Bandeira que me ensinou os primeiros acordes. Com o tempo passei a estudar sozinho em casa e aos 17 anos inventei de compor música. Desde então, nunca parei com minha carreira musical mesmo estando longe, voltando para Juazeiro e trabalhando com publicidade.

Diário: Qual foi o primeiro sucesso da sua carreira?

Mauriçola: A minha primeira gravação foi para um disco destinado ao carnaval de Salvador. Foi uma promoção da Prefeitura Municipal de Salvador, BahiaTusa, e TV Itapuã. O disco se chamava “Momo 82” e tinha a participação de Pepeu Gomes, Asa de Águia, Banda Eva. Eu compus um afoxé chamado de “Afoxé dos Afoxés”. Essa gravação tocou muito em Salvador e aqui em Juazeiro. Depois eu fui para São Paulo e gravei o meu primeiro disco na gravadora CBS, que é hoje a Universal Music. Foi nessa época que gravei “Erva Doce”, que estourou e fez um sucesso muito grande. Chegamos a vender 50 mil compactos. Isso era em 1982.

Diário: De todas as suas canções qual foi a mais prazerosa na hora de compor?

Mauriçola: Eu tenho muitas canções e muitas delas não chegaram a ser gravadas. Entre elas posso destacar uma música chamada “Voltar ao Zero”, que foi gravada por Paulinho Boca de Cantor, que tocou muito nas rádios FM do Rio de Janeiro e Salvador, fez muito sucesso. “Voltar ao Zero” é um Blues.

Diário: Mauriçola, como é o trabalho da criação, do compositor?

Mauriçola: Às vezes a música vem no momento que parece que chega a inspiração. Mas ao longo do tempo eu desenvolvi uma técnica para compor, principalmente na hora de compor os jingles durante as campanhas publicitárias. Porém, às vezes a música chega quando eu estou na rua, às vezes nasce só a primeira frase ou só a letra. Quando eu chego a casa eu pego o meu violão e começo a compor. Em outras horas, ela chega com aquela força, chega com tudo, parece que alguém sopra ao teu ouvido. Tem um mistério. (risos). A música vem de uma inspiração muito luminosa. As melhores músicas são aquelas que chegam do nada.

Diário: Como é cantar Juazeiro e Petrolina?

Mauriçola: Eu tenho uma frase que carrego comigo: “Quer conhecer o índio? Vá até sua aldeia!”. Isso aqui é muito mágico. Eu tive a sorte de ser o autor do Hino do Centenário de Petrolina. Esse cenário me inspira muito, tenho muitos amigos pernambucanos e minha infância eu vivi aqui em Juazeiro. Gosto muito de Petrolina, mas Juazeiro me inspira mais pelo passado, pelo Rio São Francisco, pelas figuras humanas, pelos vapores, pela estrutura da cidade, ferrovias, pescadores. Hoje Juazeiro não me inspira muito não, mas antes tinha muitos elementos mágicos. Juazeiro antes tinha três cinemas, uma vida noturna viva, todos os artistas brasileiros tocavam e cantavam em Juazeiro. A cidade cresceu muito, mas perdeu a mágica interior.

Diário: Mauriçola, o Carnaval de Juazeiro completa 100 anos neste ano. Você é o compositor do Hino Centenário do Carnaval. Como se deu esse trabalho?

Mauriçola: Eu tive a honra e sorte da Prefeitura Municipal de Juazeiro confiar em mim. Eu não conhecia muito a História de Juazeiro, apenas sabia o que eu tinha vivido. Busquei pessoas para conversar, como a professora Maria Isabel Figueiredo, a Bebela. Mas, eu também convivi com muitas pessoas que faziam a História de Juazeiro como Edésio Santos, João Gilberto, Fernando Oliveira e por isso não tive muita dificuldade. A melodia deu certo e Luiz Caldas gravou. Luiz Caldas tem mais jeito para cantar Axé.

Diário: E para 2014 o que você está preparando?

Mauriçola: Eu voltei a gravar desde 1999. Mas a dificuldade não é gravar, é fazer com que sua música alcance as pessoas. O Brasil vive dominado pelas produtoras musicais que impõem ao rádio e a TV as músicas que eles querem. As rádios de Juazeiro só tocam

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pagode, sertanejo, arrocha porque é uma imposição. Não há uma liberdade cultural no Brasil. A Música Popular Brasileira (MPB) só tem um pequeno espaço nas rádios. As crianças hoje aprendem sexo através da música e isso é um crime hediondo contra a cultura. Fiquei um tempo sem gravar, mas agora eu fiz um disco que chegou perto da qualidade sonora que sempre sonhei e com músicos de Juazeiro e Petrolina que não deixam nada a desejar em nenhum músico do mundo. São músicos jovens, estudantes, mas que já são gênios na música. Eu que tenho quase 60 anos, gravei com meninos de 20 e 25 anos (risos). Nesse disco consegui reunir a sonoridade da Bossa Nova com o Pop e com elementos eletrônicos. Uma linguagem diferente e muito parecida com o que eu consegui traduzir na minha vida. O nome do disco é “Aquele Sol que não quis se pôr”. São dois álbuns um mais MPB e o outro mais Pop. O meu objetivo maior é voltar para São Paulo e Rio de Janeiro após o carnaval, mas sem esquecer daqui.

Diário: Durante a nossa conversa você retratou a falta de espaço para a divulgação dos trabalhos artísticos em Juazeiro. Você tem alguma mensagem de incentivo para esses músicos?

Mauriçola: Eu vejo muitos jovens tocando arrocha, pagode e se dando bem, ganhando dinheiro, apesar de não ser muito. Acho que esse mercado é muito favorável aqui. Agora, se o músico quiser fazer MPB, Pop, Rock, Bossa Nova, a estrada é bem ali (risos apontando para a Ponte Presidente Dutra). Tem que ir para Salvador, São Paulo, Nova York, Japão. Não é ir embora somente de Juazeiro não, é do Brasil. Não somos uma nação ainda, somos um monte de gente. Não temos identidade cultural nenhuma. Uma hora é sertanejo, uma hora é pagode, arrocha, axé. Os norte-americanos são apenas quatro coisas: Rock, Blues, Pop, Jazz. Os deuses de lá são os mesmos e são respeitados. O nosso país não tem educação. Se não tem educação, não tem nação.

Confira umas das música do novo disco de Mauriçola: http://www.youtube.com/watch?v=k2oe46Hczo4

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