A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) anuncia nesta quinta-feira, 25, em encontro no Hotel Pestana (Rio Vermelho), ações para conter um possível surto da febre chikungunya no estado.
O órgão, com apoio do Ministério da Saúde, está em estado de alerta, uma vez que Feira de Santana (segunda maior cidade baiana, a apenas 109 quilômetros da capital) possui 14 casos confirmados da doença – o maior registro em todo o país.
Segundo a Sesab, as pessoas infectadas teriam adquirido a doença de forma autóctone, sem registro de viagens internacionais a países onde há endemia – embora haja rumores de que um africano infectado tenha se hospedado no bairro George Américo, que concentra 220 notificações (72%) .
Originária de países tropicais, a doença é transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, mesmos da dengue. A febre possui sintomas como os da dengue, mas se diferencia por causar inchaços e dores simétricas nas articulações.
Os dois primeiros registros foram confirmados no Oiapoque, Amapá, onde um homem de 53 anos e a filha dele, de 31, perceberam os primeiros sintomas em 27 e 28 de agosto passado.
Na Bahia, Feira é responsável por concentrar 89% das 307 suspeitas. Depois do George Américo, o povoado de Rio do Peixe (distrito de Jaguara) aparece com 29 notificações suspeitas (9%), seguido dos bairros Campo Limpo, com 18 registros (6%), e Sobradinho, com 5 (2%).
Dos casos suspeitos, 268 (88%) tiveram artralgia (dores nas extremidades e articulações). Outros 248 (81%) apresentaram cefaleia (dor de cabeça excessiva), 224 (74%), mialgia (dor muscular) e 115 (38%), exantema (erupções e manchas na pele).
A taxa de mortalidade da doença é de 0,2% a cada grupo de mil pessoas. A vítima é infectada somente uma única vez, porque só há um sorotipo do vírus CHIKV.
Já a dengue possui quatro sorotipos e pode matar na forma mais grave, a hemorrágica.
Providências
Depois da confirmação dos primeiros cinco casos da febre em Feira de Santana, sexta-feira passada, o Ministério da Saúde, a Sesab e a pasta municipal promoveram um treinamento, anteontem, para orientar os profissionais de saúde sobre o manejo clínico, o diagnóstico e o tratamento da doença.
“Desde que surgiram as primeiras suspeitas, há duas semanas, começamos imediatamente o trabalho em campo para combater os focos dos mosquitos”, afirma a superintendente de vigilância e proteção à saúde da Sesab, Alcina Andrade.
Alcina insiste que a população procure o serviço de saúde assim que perceber os primeiros sintomas. “Precisamos ter um diagnóstico preciso, pois a doença pode ser dengue. Por isso a necessidade de avaliação médica. É um erro se automedicar nesses casos”, frisa a gestora.
Os mosquitos se reproduzem em ambientes com água parada, a exemplo de tanques e tonéis de solo, vasos de plantas, pneus e garrafas. Para combatê-los, a Sesab e a Secretaria da Saúde de Feira estão intensificando as ações com carro fumacê e bombas manuais.
Moradores de bairro com mais casos estão assustados
No bairro George Américo, onde foi confirmado o maior número de casos da febre chikungunya em Feira de Santana, moradores estão assustados.
Na policlínica do bairro, é fácil encontrar pessoas reclamando de dores de cabeça, no corpo e articulações, febre alta e manchas na pele. Na rua P1, cerca de 30 moradores tiveram ou ainda têm os sintomas da doença.
“Eu, meu filho e minha mãe tivemos os sintomas. Eles foram à policlínica e fizeram exames para confirmar se era chikungunya, mas não fui buscar os resultados”, diz a vigilante Jamile Santos.
A babá Vânia Naciso ainda sente os sintomas, mas sequer procurou a unidade de saúde: “É horrível. Agora que estou conseguindo andar e comer”.
Leônia Ramos conta que uma prima, dois tios e a avó estão com suspeita da doença. “Fizeram exames, espero os resultados, mas temos 80% de certeza de que é esta nova doença”, acredita Leônia.
A aposentada Vera Lima não pegou a doença, mas vive assustada: “Tenho medo de morrer; também falam que a dengue não mata e já matou muita gente”.
Moradores ouvidos por A TARDE disseram não fazer ideia de onde possa ter surgido o foco da doença. Dizem que tomam cuidados para evitar a proliferação do mosquito na região, que tem coleta diária de lixo.
Mas, ao andar pelo bairro, é fácil encontrar lixo em terrenos e casas abandonadas. Na rua P1 há um imóvel fechado durante meses e na calçada, muito lixo.
Farmácias
Nas farmácias, a procura por paracetamol, remédio recomendado para o alívio de dor e febre, aumentou mais de 30%. “A procura cresce a cada dia. É arriscado, pois tem gente se automedicando”, avalia o responsável por um dos estabelecimentos.
Circulou, nesta quarta-feira, 24, a informação de que um africano que apresentou sintomas da doença teria se hospedado na casa de uma moradora. Ela e familiares teriam adoecido.
Para alertar sobre a doença, a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da Vigilância Epidemiológica, promove hoje uma mobilização, com caminhada, no bairro.
Fonte: A Tarde