Você conseguiria passar um mês sem fazer nada de errado no trânsito? Olha lá, não pode ter nem sequer uma barbeiragem… Nada de freada brusca, de andar em alta velocidade ou cruzar o sinal vermelho.
E aquela roubadinha para chegar um minuto mais cedo na aula? Nem pense nisso, principalmente se você for um dos 260 estudantes baianos que irão participar de um desafio no próximo mês.
Jovens com idades entre 18 e 25 anos, alunos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Unifacs, vão ser monitorados o tempo inteiro, enquanto estiverem dirigindo, durante 30 dias. Todo o esforço é para concorrer a um carro zero-quilômetro, modelo Peugeot 208, além do título de melhor motorista do Brasil.
Um aparelho de telemetria será instalado no veículo de cada um dos participantes e não vai deixar escapar nada – seja velocidade, frenagens, acelerações ou manobras na hora de fazer uma curva. Ao final do período, cada universidade terá um vencedor, entre os 130 participantes selecionados em cada.
Prêmios
Os vencedores ganham um mini iPad e uma viagem para assistir à corrida Le Mans de São Paulo, nos dias 29 e 30 de novembro. Como o concurso é nacional, os baianos concorrem com outros 13 vencedores de 13 universidades em outras seis cidades brasileiras, por onde o projeto Michelin Best Driver já passou desde junho: São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro. Quem se sair melhor entre os 15 vencedores regionais leva o carro novo.
Se ficar sem dar motivo nenhum para levar uma canetada da Transalvador já é difícil, imagine como vai ser para a turma que mais se envolve em acidentes de trânsito no Brasil?
Em 2012, segundo o Datasus, os jovens com idades entre 20 e 29 anos foram os que mais morreram em acidentes de transporte na Bahia: 764 casos. É o maior índice, seguido da faixa etária de 30 e 39 anos, com 655 óbitos.
“Esse é o período da vida em que o jovem começa a ter mais independência e não tem tanto o controle dos pais. Mas é por isso que os riscos são maiores”, afirma o consultor de trânsito do projeto Michelin Best Driver, Eduardo Biavati.
Daí a ideia de monitorar os jovens no trânsito, para estimular o bom comportamento. “Nosso objetivo é despertar a atenção do jovem para segurança e educação no trânsito e para a ideia do compartilhamento do espaço. O tempo todo estamos falando de ciclista, pedestre, dos caronas”, explica a coordenadora do programa, Renata Marques.
Regras
Para participar, é preciso ter um carro à disposição por 30 dias. Se o veículo for do pai ou da mãe do estudante, por exemplo, ele terá que assinar um termo de compromisso para garantir que será o único motorista a dirigir o carro durante o concurso.
“Cada estudante vai receber uma nota de 0 a 100. Eles recebem um login e uma senha para acessar o nosso site e para ver sua nota individual todos os dias”, detalha Renata. Se o participante melhorar, ao longo dos dias, a nota sobe. Se piorar no volante, a pontuação vai lá para baixo.
“O bom disso é que todo mundo que acha que é o outro que dirige mal vai perceber como dirige. Sem contar que o conjunto de distrações para um condutor hoje é muito grande, principalmente com o uso de smartphones”, comenta Eduardo Biavati.
Por isso que, além do concurso, também foi instalado um simulador nas universidades, para testar os estudantes. É um desafio: quem participa tem que fazer um percurso (em formato de oito, rodeado por cones) duas vezes, em 30 segundos – uma enquanto escreve uma mensagem no celular e outra sem o aparelho.
Teste
O estudante de Engenharia Civil da Unifacs Gabriel Góes, 20 anos, nem conseguiu completar o percurso a tempo, enquanto usava o smartphone. “Não consegui me concentrar nas duas coisas. Mas eu nunca mando mensagem no trânsito”, garantiu ele, que diz ser um motorista prudente… Exceto por uma velocidade maior do que deveria aqui ou ali.
Mas a verdade é que o rapaz só tem carteira de habilitação há dois meses e sabe que pode perdê-la por qualquer descuido. “Não sei se tenho chance de ganhar (o concurso), mas quero tentar pela experiência. Não matei nenhum cachorro ainda”, brincou.
Ele vai ter que enfrentar a concorrência do colega de universidade Adauto Silva, 24, estudante de Engenharia Elétrica, que garante que domina o volante, depois de cinco anos de experiência. “Meu problema é sinal vermelho, que às vezes eu furo por causa da insegurança”. Isso, claro, sem contar uma ou outra ligação no celular. “Mas vou ser mais cuidadoso, principalmente com sinal”, prometeu.
Na Ufba, o estudante de Engenharia Mecânica Daniel Marnet, 19, já se inscreveu. Ele sabe que vai ser difícil ser o melhor do Brasil, porém decidiu tentar para ganhar a viagem. “Tem cidades que saem na nossa frente porque o trânsito de Salvador é caótico e faz com que a gente se torne indisciplinado. Mas acredito que é possível ser o melhor da Ufba. Dirijo direitinho”.
Só que, para isso, ele vai ter que deixar de cometer pelo menos uma infração: andar em alta velocidade para reduzir bruscamente quando vê um radar. “Fora isso, sempre tive direção defensiva”.
Na Ufba, onde o projeto passou primeiro, ainda dá para se inscrever, na Politécnica. Na Unifacs, as inscrições começam hoje – após um talk show, às 10h30, no Pavilhão de Aulas 6, no Rio Vermelho.
Fonte: Correio da Bahia