As negociações de paz de Genebra 2 foram iniciadas hoje, pela manhã, na cidade suíça de Montreux. O encontro visa solucionar a crise síria, que já deixou mais de 100 mil mortos no país desde março de 2011.
“Hoje é um dia de esperança”, afirmou Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, em seu discurso de abertura. Mas os acontecimentos recentes têm sido pouco auspiciosos, com a manutenção da violência na Síria e das disputas diplomáticas ao seu redor.
Genebra 2 não deve, de todo o modo, ser concluído com um acordo. A julgar pelas declarações recentes de seus participantes, o encontro servirá como ponto de partida a um processo mais longo, em torno do confronto.
Também é esperado que as reuniões culminem em melhor acesso para a ajuda humanitária na Síria, em que hoje a população vive sob severas restrições, inclusive no acesso à alimentação.
A conferência foi iniciada após o Irã ter sido desconvidado pelas Nações Unidas, por pressão americana e da oposição síria. A ONU justificou o gesto devido ao não comprometimento persa com a ideia de uma transição política na Síria.
Além dos EUA, a Rússia é um dos patrocinadores de Genebra 2. O chanceler Sergei Lavrov pede “aos atores externos que não interfiram nos assuntos internos da Síria”. A referência é às nações que têm feito do território sírio o terreno para suas disputas geopolíticas, a exemplo da Arábia Saudita e do Irã.
A participação do ditador Bashar al-Assad em um eventual governo de transição é um dos pontos mais problemáticos da conferência. John Kerry, secretário de Estado americano, afirmou durante a abertura do evento que o déspota não pode fazer parte do novo cenário.
“Não há nenhuma maneira com a qual o homem que liderou a resposta brutal contra seu próprio povo possa retomar a legitimidade para governar, afirmou o diplomata.
A Síria deve manter na Suíça, como estratégia, a insistência em que a insurgência em seu país é obra de outras nações, que “exportam o terrorismo”, nas palavras do chanceler Walid al-Moualem, chefe da delegação. Mencionando os “petrodólares”, ele parecia apontar o dedo aos Estados do Golfo.
OPOSIÇÃO
Tachados de “traidores” pelo ministro sírio, os integrantes da Coalizão Nacional Síria, grupo de opositores no exílio, começou seu discurso defendendo um governo de transição, mas sem Assad. O líder do grupo, Ahmad Jarba, acusou o ditador, alauita (vertente do xiismo), de dar apoio à rede terrorista Al Qaeda, que é sunita.
O representante do único grupo opositor na conferência comparou ao nazismo uma série de fotos de tortura a detentos em prisões sírias, publicadas na segunda (20) pela TV CNN e o jornal “The Guardian”. “As fotos da tortura só tem precedentes nos campos de concentração nazistas na Segunda Guerra Mundial”.
Defensor da queda do ditador, o chanceler da França, Laurent Fabius, pediu um cessar-fogo imediato e a abertura de corredores de ajuda humanitária. Antes da conferência, o regime sírio concordou com a medida, mas as forças da oposição se recusaram a abaixar as armas e boicotaram qualquer negociação.
Na audiência geral desta quarta, o papa Francisco pediu o fim urgente da violência na Síria e incentivou às partes a construírem “um caminho de reconciliação, concórdia e reconstrução”.
Folha de S. Paulo