Na região do Vale as marcas na pele e o uso de piercings estão se tornando cada vez mais comuns. Petrolina e Juazeiro somam quatro estúdios de tatuagens e body piercing nos centros, e a procura por esses serviços vem crescendo segundo os profissionais da área. “Tatuagem é artigo de luxo”, enaltece o tatuador Leandro Leite que trabalha com tatuagens há oito anos, acrescentando que faz em média três tatuagens por dia; “a população está tatuada”, declarou.
A estudante Luana Marinho (19) disse ter feito uma tatuagem em homenagem a sua mãe; “eu pensei bastante, conversei com meus pais, e depois de dois anos decidi fazer”, declarou. Já Pedro Gonçalves (20) disse ter feito três tatuagens apenas por arte, por achar bonito e sofisticado; “eu sempre admirei essa arte, e depois que fiquei maior de idade comecei a fazer, elas não significam homenagens a ninguém, apenas uma forma de liberdade”, confessou.
Segundo os acervos históricos o costume de marcar a pele com tatuagem nasceu na pré-história quando as tribos eram diferenciadas pelas marcas na pele; quando em tempos de guerra os mortos eram homenageados com desenhos em forma de cicatriz. Tempos depois o costume foi se tornando arte e entrando no universo globalizado, com técnicas, cores e estilos.
A tatuagem que por muito tempo representou marginalidade, principalmente por ser uma característica de quem passava pela cadeia, voltou a ser questão de relevância na sociedade atual ao ser utilizada por artistas de música, cinema e, inclusive, em pessoas comuns. Deixando de ser um símbolo de delinquência, mas uma forma de expressão individual de arte e estética do corpo.
A médica Aline Granja falou em entrevista sobre os perigos de fazer uma tatuagem sem pensar bem, e sem os devidos cuidados de higiene; “qualquer que seja o desenho escolhido, a pessoa não deve tatuar por impulso, deve-se ler e pesquisar muito sobre o desenho ou tema escolhido”, aconselhou, acrescentando a importância sobre a escolha do profissional verificando os trabalhos já realizados por ele, e o seu histórico de competência. “A pessoa deve pedir para o tatuador abrir o envelope selado na sua frente, e mostrar como está esterilizado, e ao final pedir que ele jogue fora as agulhas, luvas, tintas e suprimentos utilizados no processo”, concluiu.
Porém, ainda com uma popularidade e aceitação maior, as tatuagens não são bem vistas em trabalhos que exigem um código de postura. O advogado José Sales Roberto de Gois, natural de Sertânia-PE, mas petrolinense há oito anos, disse que na região esse tipo de comportamento causa insegurança na população; “os clientes não voltam, eles não dão credibilidade e acham que os serviços que eles buscam não serão levados a sério por alguém com o corpo cheio de tatuagens”, declarou afirmando que não contrata pessoas tatuadas. A advogada Luiza Guimarães disse ter algumas tatuagens pelo corpo, mas que precisa esconder; “no meu dia a dia não posso mostrar minhas tatuagens, pois os clientes olham com cara feia”, declarou. Para Leandro Leite tudo é uma questão de comportamento; “o preconceito parte da própria pessoa, com educação e competência as portas se abrem”, ressaltou.
Para a professora de ensino infantil Sumaia Mendes as pessoas estão mais modernas, mais livres, mas as tatuagens ainda sofrem uma rejeição principalmente pelos mais velhos; “acho que por sermos uma região interiorana, os costumes demoram pra mudar, se eu ficar cheia de tatuagens os pais dos meus alunos não vão gostar de mim”, declarou. Para o advogado José Sales assim como é comum as pessoas copiarem o que vem de fora, logo esses conceitos serão quebrados.
Grande parte dos entrevistados disse que em algum momento da vida já pensou em tatuar o corpo, como forma de expressão ou por arte apenas, sendo impedidos por conceitos e paradigmas. Um comportamento que vem se mostrando cada vez menor de acordo com o número de clientes que os estúdios recebem todos os dias.
Por Denise Saturnino