(Foto: TV Globo)
O ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró prestou um depoimento na tarde desta terça-feira (5), na Justiça Federal. Durante pouco mais de uma hora, ele respondeu a vários questionamentos do juiz federal Sérgio Moro e também do Ministério Público Federal.
Mais cedo, ele também havia falado à Polícia Federal. A informação foi confirmada ao G1pela advogada que o representa Alessi Brandão. A PF não confirmou o depoimento.
Cerveró contou ao juiz sobre a carreira na Petrobras, iniciada nos anos 1970. Negou ter sido indicado ao cargo de diretor da estatal pelo PMDB, falou do aluguel de navios-sonda pela Petrobras e tentou explicar porque morou durante três anos em um apartamento de luxo em Ipanema, no Rio de Janeiro, sem pagar aluguel.
De acordo com Cerveró, a indicação dele para o cargo da Área Internacional veio do então presidente Luis Inácio Lula da Silva e da então ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef. Disse que foi indicado para o cargo de diretor da estatal. “Quando eu assumi a diretoria, eu já tinha 28 anos de companhia”, afirmou, dizendo ainda que possuía mais ligações com o Partido dos Trabalhadores (PT) que outras legendas. “Havia uma ligação, porque eu trabalhei durante algum tempo mais próximo ao partido dos trabalhadores. O que pesou foi o meu conhecimento”, garantiu.
O ex-diretor também negou o recebimento de propina em negócios envolvendo a diretoria comandada por ele. Conforme as denúncias do Ministério Público Federal, havia uma tabela de pagamentos de propinas que eram combinados para cada área da empresa. Segundo Cerveró, por não atuar diretamente com empreiteiras nacionais, a prática seria impossível na área comandada por ele. “A diversidade de países que a gente falava era muito grande. Eu não tinha relacionamento com empresas nacionais. (…) Mesmo que houvesse, não faria sentido. Eu teria que fazer um tabelamento internacional. Para a África seria um, para a Argentina seria outro, para o Golfo do México seria outro”, afirmou.
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras de 2003 a 2008, durante o governo do presidente Lula. Já no governo da presidente Dilma Rousseff, assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora, onde permaneceu até ser demitido do cargo, em março de 2014.
Sobre o aluguel de navios-sonda pela Petrobras, ainda na gestão de Cerveró na Área Internacional, ele também negou ter recebido propina pelo contrato. Segundo o MPF, o ex-diretor recebeu propina em dois contratos firmados pela Petrobras, para o aluguel e também para a construção de navios sonda, usados em perfurações em águas profundas. O pagamento, no valor total de 40 milhões de dólares, foi relatado pelo executivo Júlio Carmago, da Toyo Setal, que fez acordo de delação premiada no decorrer das investigações.
‘Pasadena deu lucro’
Cerveró defendeu também a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras. Segundo o ex-diretor, essa é a única refinaria que dá lucro à estatal. “Está se chegando à conclusão de que Pasadena nunca deu prejuízo, pelo contrário. Pasadena é a única refinaria da Petrobras que dá lucro”, afirmou.
Em depoimento à Justiça Federal (JF) doParaná, em outubro de 2014, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, afirmou que Cerveró recebeu propina na compra da refinaria da Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o negócio gerou prejuízos de 790 milhões de dólares à Petrobras.
A compra de Pasadena foi aprovada, em 2006, pelo Conselho de Administração da Petrobras, que à época era presidido por Dilma Rousseff. Segundo a presidente, o resumo executivo que orientou o Conselho, e que foi produzido por Cerveró, era falho. Em julho, o TCU responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-diretores da Petrobras pelos prejuízos na compra.
Apartamento em Ipanema
No depoimento, Cerveró também rebateu as acusações referentes a um apartamento em nome de uma empresa uruguaia, com sede no Brasil. Segundo o Ministério Público Federal, o imóvel pertence ao ex-diretor e foi comprado com dinheiro de propina. O restante dos R$ 40 milhões, conforme a denúncia, estariam depositados no exterior, em contas no Uruguai e na Suíça, em nome de offshores.
Os procuradores afirmam na denúncia que, apesar de estar registrada em nome de terceiros, a offshore dona do apartamento era de propriedade de Cerveró. Já o advogado uruguaio Oscar Algorta é acusado de ter lavado parte do dinheiro desviado comprando o apartamento em nome da offshore uruguaia Jolmey, com o objetivo de tentar ocultar que o ex-diretor da área internacional era o verdadeiro dono do imóvel.
Cerveró afirmou que tinha um acordo verbal com Algorta e que, durante os anos em que morou no imóvel, fez uma série de benfeitorias. Por essa razão, não pagava aluguel, apenas as despesas com o condomínio e os impostos. A cobertura em Ipanema foi adquirida por R$ 1,532 milhão. Segundo o MPF, atualmente, o imóvel vale cerca de R$ 7,5 milhões.
Fonte: Portal G1