Em maio deste ano, o ex-ministro Delfim Netto escreveu um artigo para o jornal “Valor” com o título “Confiança, confiança e confiança”. O economista apontava a semente da falta de confiança que crescia entre governo e iniciativa privada e entre o governo e o poder legislativo. Ainda não havíamos conhecido o novo poder de mobilização da sociedade brasileira que, em junho, foi para as ruas protestar contra… tudo!
O efeito das manifestações já foi capturado pelas pesquisas de avaliação da presidente Dilma Rousseff e seu governo. Esta semana vamos saber como a sacudida do país mexeu com a confiança dos consumidores e dos empresários. Os índices calculados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) já vinham apontando queda dos seus indicadores, estimulada pela alta da inflação, do dólar e pelas revisões do crescimento do PIB este ano – para baixo.
Vamos conhecer também como ficou a taxa de desemprego em junho, calculada pelo IBGE. Ainda espera-se que o ministério do Trabalho apresente essa semana o resultado das contratações com carteira assinada em junho, o CAGED. Para o dado do IBGE, a expectativa é que ela saia dos atuais 5,8% para 5,9%, refletindo a queda do emprego na indústria nesse período.
Do cadastro dos empregos formais, espera-se um resultado melhor do que o registrado em maio (72 mil), quando a criação de postos de trabalho foi a pior dos últimos 20 anos. O consenso entre os economistas é que o país tenha fechado junho com a geração liquida de 80 mil empregos.
Emprego e renda são ingredientes fundamentais para a construção da confiança dos agentes econômicos. A partir deles, alimenta-se o investimento e a produção, criando uma relação saudável entre a demanda e a oferta – uma relação de confiança de que cada um fará a sua parte para que tudo funcione a contento.
Em seu artigo publicado em maio, Delfim Netto explicava:
“Adam Smith (“pai” da economia) mostrou em 1759, na “Teoria dos Sentimentos Morais”, e em 1776, na “Riqueza das Nações”, que todo esse complexo sistema de relações está apoiado num fato fundamental: a existência da “confiança” entre os agentes. Na relativa certeza de que cada um cumprirá as suas promessas (os seus contratos) porque é do seu interesse. Se a confiança diminuiu os agentes deixam de responder aos estímulos, os mercados se degradam e o nível de atividade se reduz”.
A parte chata da desconfiança é que ela é teimosa e gulosa. Ela vai engordando se perceber que não tem ninguém tomando conta da “mesa” da economia.
por Thais Herédia