O técnico em TI (Tecnologia da Informação) Jorge Carneiro viu o orçamento financeiro da família apertar quando a esposa perdeu emprego. “Nossa vida financeira ficou um pouco desorganizada, principalmente por conta do cartão de crédito. Aí eu tive que tomar um empréstimo para conseguir respirar antes que o problema ficasse ainda maior”, conta.
A dívida que era de R$ 2,5 mil chegou a R$ 3,5 mil em um ano. Foram 36 parcelas de R$ 350 até quitar o empréstimo. “Consegui limpar meu nome e depois que me organizei junto ao banco deu até para financiar um carro”, comemora. “Cartão de crédito agora só em caso de emergência. Passar por esta situação me mostrou que a gente só pode se comprometer com o que realmente tem condições de pagar”, completa.
Quitar dívidas – principalmente as que são motivadas pelo uso do cartão de crédito – é um dos dez principais motivos que levaram os consumidores a contrair um empréstimo no último mês. Segundo um levantamento feito pela plataforma online de empréstimo pessoal Just, 20,79% contrataram uma linha de crédito para refinanciar dívidas, 14,92% para pagar o cartão de crédito e 10,38% com o objetivo de cobrir o limite do cheque especial que saiu do controle.
Também estão entre as causas investir na empresa (10,46%), reformar a casa (10,02%), comprar um veículo (4,72%), fazer um tratamento médico (2,78%) e até tirar férias (2,82%). “São pessoas que contraíram um empréstimo em um momento de crise e agora começam a perceber que estão pagando muito caro e estão tentando partir para um crédito mais barato. Por outro lado, há também as razões ligadas ao consumo e aos problemas de gestão financeira. O consumidor contrai mais uma dívida, o salário não dá e aí precisa pegar o empréstimo”, descreve o diretor do Just, Bruno Poljokan.
O estudo foi realizado com 9.604 pessoas. Na comparação com o mês anterior, a renegociação de dívidas permanece em primeiro lugar (21,22%), mas o cheque especial vem antes do cartão de crédito com uma diferença muito pequena: 12,99% e 12,66%, respectivamente.
Quando se olha a evolução, porém, o motivo Pagar Cheque Especial caiu 2,61 pontos porcentuais, enquanto Pagar O Cartão de Crédito cresceu 2,26 pontos (o refinanciamento ficou praticamente estável). “O movimento mostra que o brasileiro, de certa forma, já começa a ficar um pouco mais otimista com a economia e a se planejar para investimentos/gastos que estava segurando”.
Necessidade
Para o educador financeiro do Canal de Youtube Dinheiro à Vista e presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abefin), Reinaldo Domingos, é preciso fazer algumas perguntas para o seu orçamento antes de definir se é preciso ou não contrair um empréstimo (faça o teste proposto por ele ao lado).
“Antes de tomar a decisão de contrair uma nova dívida vale a pena pensar: como está a minha vida financeira? Eu estou dentro do padrão de vida que dá para eu me manter? É analisar bem de onde vem a necessidade de recorrer a este dinheiro”, pontua.
O custo do empréstimo vai depender muito do risco de inadimplência que o banco corre com a oferta da linha de crédito, como acrescenta Domingos. “Mesmo com a redução da taxa básica de juros Selic, que está hoje em 6,5%, o que impacta mesmo o custo do crédito são as pessoas que deixam de pagar os empréstimos. É isso que encarece o crédito. As taxas de empréstimos são geradas em cima desta instabilidade”.
Custo
Por isso, o educador financeiro e coordenador de assistência financeira do Juizado de Apoio ao Super Endividado, Antônio Carvalho, reforça a importância de pesquisar e de conhecer bem as taxas de juros praticadas.
“O indivíduo não pode aceitar a primeira oferta. É preciso fazer uma boa pesquisa. Todas as taxas estão disponíveis no site do Banco Central para todas as modalidades de crédito cadastradas que operam no Brasil. Isso, inclusive, pode ser um bom instrumento de barganha para negociar a melhor taxa junto com o gerente”.
Também vale a pena ter cuidado com as ofertas de portabilidade. Carvalho faz a conta: “Imagine que alguém tomou um empréstimo de R$ 5 mil em 36 prestações a uma taxa de juros de 3,8%. As prestações ficariam em R$ 257,16. O custo total da dívida vai para R$ 9.257,67. Então, 16 parcelas foram pagas e ao invés de pagar os R$ 3.357.57 restantes, com a portabilidade – a uma taxa de 3,8% – o custo do empréstimo vai para R$ 8.861,15. Ou seja, mais que dobro do saldo devedor”.
Outro alerta está relacionado às parcelas. “Não olhe só o valor que vai pagar por mês. Muita gente se engana com isso. É fundamental analisar todo custo efetivo do empréstimo. Quanto maior o prazo, menor a parcela e mais cara fica a dívida. Tente fazer o financiamento no menor prazo possível”, aconselha o especialista.
ESTÁ NA HORA DE TOMAR UM EMPRÉSTIMO?*
1. O que você ganha por mês é suficiente para arcar com os seus gastos?
a) ( ) Consigo pagar minhas contas e ainda guardo mais 10% dos meus ganhos todo mês.
b) ( ) É suficiente, mas não sobra nada.
c) ( ) Gasto todo o meu dinheiro e ainda uso o limite de cheque especial ou peço emprestado para parentes e amigos.
2. Você tem conseguido pagar suas despesas em dia e à vista?
a) ( ) Pago em dia, à vista e em alguns casos com bons descontos.
b) ( ) Quase sempre, mas tenho que parcelar as compras de maior valor.
c) ( ) Sempre parcelo meus compromissos e utilizo linhas de crédito como cheque especial e cartão de crédito, entre outras.
3. Se não obter dinheiro extra com urgência, o que ocorre:
a) ( ) Manterei a vida no mesmo rumo, só deixarei de realizar algo não muito relevante.
b) ( ) Poderei me tornar inadimplente em alguma situação.
c) ( ) Corro risco de ter bens confiscados e de cortar em áreas imprescindíveis, como água e luz.
4. Se um imprevisto alterasse a sua situação financeira, qual seria a sua reação?
a) ( ) Faria um bom diagnóstico financeiro, registrando o que ganho e o que gasto, além dos meus investimentos, caso os tivesse.
b) ( ) Cortaria despesas e gastos desnecessários.
c) ( ) Não saberia por onde começar e teria medo de encarar a minha verdadeira situação financeira.
5. Se a partir de hoje você não recebesse mais seu ganho, por quanto tempo você conseguiria manter seu atual padrão de vida?
a) ( ) Conseguiria fazer tudo o que faço por 5, 10 anos ou mais.
b) ( ) Manteria meu padrão de vida de 1 a 4 anos, no máximo.
c) ( ) Não conseguiria me manter nem por alguns meses.
Valores: a) 0 b) 5 c) 10
De 0 a 15 – Você é organizado financeiramente, lógico que pode desejar algo que não tenha dinheiro no momento e pegar empréstimo pode parecer interessante, mas cuidado para não pagar juros muito altos ou mesmo perder o controle das finanças. Um caminho é começar a investir. Um bom início é se informar sobre as aplicações. Uma sugestão é o ebook da DSOP, baixe gratuitamente no endereço http://www.dsop.com.br/ebooks/\
De 20 a 30 – Realmente você pode estar necessitando de um empréstimo, mas muito cuidado com o juro e os prazos de pagamento, você anda em uma linha muito perigosa, na qual se não ficar muito atento aos números poderá perder totalmente o controle financeiro. Assim, antes de pedir um empréstimo, corte gasto e repense seu padrão de vida. Só assuma compromisso que possa cumprir. Recomendo que assista meu canal do Youtube Dinheiro à Vista, que poderá proporcionar informações preciosas.
De 35 a 50 – Hora de uma operação de guerra. Não faça um empréstimo precipitado, pois pela situação dificilmente conseguirá honrar. O caminho é se educar financeiramente imediatamente. Reveja todos os seus gastos e repense seu padrão de vida. Por mais que um empréstimo pareça o caminho mais fácil ele será a porta de entrada para inadimplência e para entrada em linhas de juros extorsivas. Reúna toda família e mude hábitos, em meu canal do Youtube Dinheiro à Vista tenho vários vídeos que mostrarão como realizar essa mudança.
*Teste elaborado por Reinaldo Domingos – PHD em educação financeira e apresentador do canal Dinheiro à Vista, do Youtube.
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