À semelhança do que ocorre em família, quando o problema de um dos entes passa a ser problema de todos, as questões atinentes à educação se constituem em interesse de todos em uma comunidade, até mesmo daqueles que ainda não conseguem percebê-las, tendo em vista a idade ou a impossibilidade de terem sido, por ela, privilegiados.
Em termos gerais, entende-se por greve um movimento que provoca a paralisação de uma atividade produtiva. No âmbito das atividades econômicas que visam ao lucro imediato, tal ação tende a gerar prejuízos ao empresário responsável pela produção, o que o leva a uma reflexão sobre a necessidade de melhorar salários e condições de trabalho. Nesse caso, as decisões costumam ser de sua única responsabilidade e, normalmente, são frutos de uma simples análise da relação custo/benefício. A grande diferença é que, com o fim da greve, os problemas se dão por encerrados.
Bem sabemos que tudo é diferente quando se trata de educação. Dela dependem praticamente todas as expectativas sociais, todas as perspectivas de progresso e, principalmente, o sentido que temos de legar um futuro melhor a nossos filhos. Se isso não bastasse, para verificarmos a extensão da questão em pauta, perguntemos aos pais e mães de família, que precisam sair diariamente para suas atividades de trabalho, como se sentem ao saber que nesses dias não terão a tranquilidade de deixar seus bens maiores acolhidos pelas escolas.
É imperioso que conheçamos a abrangência do projeto dedicado aos professores e as dificuldades que se contrapõem a ele. Todos concordamos que seus salários estão defasados e não refletem, ainda, a tão anunciada valorização dos quadros do magistério. Mas desconheço uma possibilidade real de se conquistar a caminhada que não contemple o consagrado método do diálogo inteligente, desprovido de radicalizações. A Lei de Responsabilidade Fiscal é inflexível e limita os gastos com despesas salariais. Por outro lado, o piso salarial, também criado por lei e contemplado em nossa cidade, suscita um conflito que desafia as contas públicas e chama à responsabilidade qualquer gestor público que se considere minimamente sério.
Proponho a continuidade da presente discussão, a fim de enfatizar a importância de retomarmos as aulas e manter abertos os canais de discussão. Nós, na condição de educadores, trabalhamos com a singular prática da construção no nobre ofício de ensinar, a qual nos impõe a qualificada arte de dialogar com respeito, questionar com base em fundamentos, ouvir sem preconceitos e, finalmente, concluir sem desconsiderar vetores, personagens e contingências. Voltar às aulas já, não encerrará, em absoluto, as negociações, o diálogo e a luta pelas condições desejáveis, que me permito repetir, é interesse de todos nós.
É chegada a hora de, efetivamente, olharmos para o futuro. A educação é responsabilidade de todos! Temos de equacionar recursos que nos permitam melhores condições de saúde, segurança e investimentos em infraestrutura. Isso tudo sem descuidar de nossas escolas e dos salários dos professores, nossa prioridade maior. Esses desafios impõem a necessidade de valores, criatividade e inteligência, pressupostos intimamente relacionados com a prática escolar, que não pode estar fechada, nem aos alunos, nem às discussões que levarão inexoravelmente às soluções!
Cel Heitor Bezerra Leite
Secretário Municipal de Educação