Desta segunda-feira, 10, a um mês, 10 de março, a vacina contra o HPV (papiloma vírus humano) entra oficialmente no calendário nacional de imunizações e passa a ser ofertada em escolas e postos de saúde a meninas de 11 a 13 anos. O HPV é transmitido por meio do contato sexual e responsável pela quase totalidade dos casos de câncer de colo do útero.
Mas, apesar de a disponibilização da vacina ser considerada um avanço por muitos profissionais, há relatos pelo mundo de doenças atribuídas ao seu uso, como a síndrome de Guillain-Barré (que afeta o sistema nervoso), falência ovariana, uveítes, além de convulsões. Isso teria levado o governo do Japão a não mais recomendar a vacina.
Pesquisas recentes, como a divulgada pelo British Medical Journal (BMJ) em outubro de 2013, também já sugeriram que a vacina estaria associada a um aumento na incidência de doenças autoimunes, como o diabetes tipo 1.
Comprovação
Entretanto, de acordo com Gabriel Oselka, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Comitê Técnico Assessor de Imunizações do Ministério da Saúde (Ctai), não há comprovação da relação entre a vacina e as doenças citadas.
“O que existe é uma relação temporal, ou seja, eventos que ocorrem até semanas após a vacinação são atribuídos a ela, mas podem ser apenas coincidências, já que as doenças citadas ocorrem normalmente na população”, diz.
Em relação ao artigo do BMJ, Gabriel Oselka afirma que a pesquisa não comprova essa relação. “Embora associações para três eventos autoimunes [entre os quais diabetes tipo 1] tenham sido inicialmente observados, avaliação posterior mostrou que essa associação era fraca e não relacionada temporalmente a exposição à vacina”, diz.
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) questiona a eficácia do medicamento. Para a entidade, não há evidências de que ela seja mais eficaz que a estratégia atual, que usa o rastreamento por meio do exame ginecológico Papanicolau.
“A implantação da vacina implica uma somatória de gastos, mas ainda não é comprovado que esta estratégia calculada em nível populacional reduz efetivamente a mortalidade. Esses recursos poderiam ser mais bem investidos se fossem destinados a qualificar e disseminar a estratégia já aceita universalmente (Papanicolau), tanto pela segurança quanto pela eficácia”, afirma o diretor da SBMFC, Daniel Knupp.
Em contrapartida, a presidente de comissão de vacinas da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Nilma Anta Neves, afirma que, no Brasil, o Papanicolau, isoladamente, não tem se mostrado efetivo para evitar a mortalidade.
Segundo ela, cerca de nove mil mulheres morrem por ano de câncer de colo do útero, o que equivale a 20 mortes por dia de mulheres brasileiras, sendo a maioria pobre.
“É preciso esclarecer que a vacina não exclui a realização anual do exame preventivo periódico. Mas o Papanicolau é eficiente nos países onde é feito com cobertura adequada, o que não ocorre no Brasil”, afirma.
De acordo com Nilma Neves, a baixa efetividade do Papanicolau no Brasil se deve à qualidade e cobertura insuficientes do exame. “Isto pode apresentar altas taxas de falha em detectar as células malignas. Inclusive de um tipo de câncer do colo que se localiza mais profundamente (adenocarcinoma)”, diz.
Em nota, o laboratório Merck Sharp Dohme, produtor da vacina, informou que, para avaliar a segurança, eficácia e duração da proteção da vacina quadrivalente contra HPV, foram realizados estudos clínicos randomizados com mais de 26 mil mulheres e homens de 9 a 26 anos.
“Essa população foi selecionada nos cinco continentes, em 22 países, dando uma diversidade suficiente para considerar uma amostra mundial”, diz a nota.
A Tarde