Em busca de emprego? Saiba quais os setores que mais resistem à crise

A desaceleração da economia acabou com a bonança do mercado de trabalho brasileiro – mas o que isso quer dizer, na prática, para quem está desempregado ou quer mudar de emprego? Onde procurar e o que esperar do mercado em um cenário de crise?

Nos últimos anos, se tornaram relativamente comuns nos grandes centros urbanos brasileiros casos de profissionais que pulavam de um emprego a outro, atraídos por salários mais altos e melhores condições de trabalho.

Do outro lado do balcão, os empresários reclamavam da alta “rotatividade” dos trabalhadores e ofereciam benefícios para reter funcionários.

Agora que a crise chegou ao mercado de trabalho, mais brasileiros estão perdendo seus empregos, e a competição pelos postos disponíveis está cada vez mais acirrada. As oportunidades também demoram mais para aparecer, como relatam consultorias de Recursos Humanos ouvidas pela BBC Brasil.

Na última quinta-feira, foi anunciado que o desemprego, medido pela pesquisa PME, do IBGE, ficou em 7,5% em julho, contra 6,9% de junho e 4,9% do mesmo período do ano passado. Segundo o instituto, foi a maior taxa para julho desde 2009.

A rápida desaceleração do mercado, porém, não quer dizer que as boas oportunidades desapareceram por completo. “Alguns setores estão mais resilientes, gerando emprego, ainda que em ritmo mais lento”, diz Raone Costa, economista da Catho-Fipe que está desenvolvendo um estudo para mapear a abertura de vagas na economia.

Márcia Almstrom, diretora da ManpowerGroup, e Natasha Patel, da consultoria Hays, concordam:

“O contexto econômico está mais desafiador – ou seja, está mais difícil para todo mundo. Mas embora as oportunidades estejam menos numerosas, elas continuam a existir”, diz Almstrom.

“Até porque, além dos setores que estão relativamente bem, também temos as substituições nas empresas que estão se reestruturando. Há uma procura por profissionais mais ecléticos e flexíveis, aqueles que conseguem se sair bem em um contexto de crise.”

“É algo natural em momentos de baixo dinamismo econômico: se há muita gente chorando vai ter alguém vendendo lenço”, resume Henrique Bessa, diretor da consultoria Michael Page.

Tanto Almstrom quanto Bessa relatam que, no geral, as empresas estão oferecendo salários mais baixos do que há alguns meses.

“As companhias estão repensando seus padrões salariais e estão muito mais cautelosas em assumir compromissos que representem gastos fixos”, diz a consultora da ManpowerGroup.

Ambos recomendam que, antes de sair em busca de um novo trabalho, o profissional tente identificar o que exatamente está motivando o seu desejo de mudança.

“Você pode querer mudar porque quer trabalhar mais perto de casa, deseja atuar em outro segmento ou não aguenta mais seu chefe. Mas se a motivação for a remuneração, precisa estar ciente de que hoje está mais difícil uma mudança com ganhos salariais significativos”, diz Almstrom.

“Para evitar armadilhas, o trabalhador também precisa considerar os riscos de trocar de empresa, deve se informar bem sobre as perspectivas do setor em que vai atuar. Se a nova companhia passar por dificuldades, por exemplo, um cenário possível é que ele seja cortado antes mesmo de conseguir provar sua eficiência”, completa Bessa.

No que diz respeito às diferenças setoriais, há certo consenso de que enquanto as empresas da área de petróleo e gás, construção civil, montadoras e a indústria de transformação têm sofrido um “impacto brutal” com a desaceleração, no setor de serviços há um pouco mais de vigor.

Bessa diz que também pode haver oportunidades em setores exportadores ou aqueles que, por questões estruturais, têm boas perspectivas de crescimento no longo prazo.

Seria esse o caso da área de Saúde, por exemplo, uma vez que o envelhecimento da população tende a aumentar a demanda por esses serviços. “Também as áreas de educação e tecnologia têm boas perspectivas”, diz ele.

Abaixo, confira uma lista de alguns setores e áreas de atuação que, apesar de não estarem imunes à crise econômica, segundo os consultores, ainda têm mostrado alguma resiliência na geração de empregos e oferecem oportunidades para bons profissionais.

1. Tecnologia

Segundo a Catho, site de empregos líder no Brasil, entre os cargos com mais vagas abertas estão analista/técnico de suporte, desenvolvedor e programador.

Para o cargo de diretor de TI, o salário médio seria superior a R$ 17 mil, e para o de gerente de TI, superior a R$ 7 mil, diz a Catho.

“Os sites de internet, empresas de tecnologia e start-ups têm conseguido seguir na contramão (do aumento do desemprego) e se manter em crescimento. E o que é melhor: com salários atraentes”, diz nota da empresa.

Patel, da Hays, confirma que a área ainda está mostrando algum dinamismo no que diz respeito a contratações. “Empresas de todos os setores estão tendo de investir nessa área. E, em especial, vemos uma grande demanda por desenvolvedores”, diz ela.

2. Saúde

Henrique Bessa, da Michael Page, diz que as boas perspectivas de longo prazo fazem com que os serviços da área de saúde mantenham as contratações mesmo em meio à crise.

Essa é uma das áreas em que muitas famílias resistem em fazer cortes quando são obrigadas a enxugar o orçamento. E fenômenos como o envelhecimento da população e maior acesso a planos de saúde privados contribuem para criar boas perspectivas para o setor.

Hoje, o segmento já representa 10% do PIB e deve continuar a atrair muitos investimentos – inclusive de fora do Brasil, uma vez que desde o início do ano está permitida a entrada de estrangeiros nessa área.

“Independentemente dos ciclos econômicos, esse é um setor que deve continuar crescendo e atraindo investidores que ‘pensam o Brasil’ no médio e longo prazo”, diz Bessa.

3. Educação

Os cortes e incertezas ligados a programas governamentais da área de Educação, como o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), tiveram impacto negativo sobre a rede privada de ensino superior.

Mas o mercado de trabalho do setor de Educação como um todo tem mostrado grande resistência em meio à desaceleração, segundo Bessa e Natasha Patel, diretora da consultoria Hays.

“Trata-se de um segmento que atrai muitos investimentos porque exige um aporte inicial relativamente baixo se comparado, por exemplo, à exploração de petróleo ou à construção civil e, no longo prazo as perspectivas são de crescimento”, diz Bessa.

“Por isso, não me surpreende que haja uma resiliência na geração de vagas tanto nas funções acadêmicas quanto nas administrativas.”

4. Seguros e setor financeiro

“Os profissionais da área financeira ainda são relativamente demandados, mas os que podem se mover com mais facilidade são aqueles que têm um entendimento mais amplo dos negócios – ou seja, que sabem não só o que é preciso para enxugar os custos, mas também como ampliar as vendas”, opina Almstrom.

Os setores de seguros e os bancos, em particular, estão resistindo bem à desaceleração da economia, apesar de analistas manifestarem alguma preocupação com um aumento dos índices de inadimplência e com a exposição de alguns grupos a empresas que podem passar por dificuldades em função das repercussões da operação Lava Jato.

“Dentro desse setor, há uma demanda crescente por alguns profissionais específicos, como os da área de compliance (que cuida dos controles e regras de transparência), em função dos escândalos internacionais recentes”, diz Bessa.

“Para quem busca uma oportunidade em banco, porém, também é preciso ter em conta que a saída do HSBC do Brasil deve ter um efeito no aumento dos candidatos no mercado. De fato, já estamos recebendo um número maior de currículos de profissionais desse banco.”

5. Vendas

“O profissional de vendas é quem pode virar o jogo no momento de escassez. Por isso, há uma grande procura por aqueles que de fato conseguem trazer resultado nessa área em empresas de todos os segmentos”, diz Almstrom.

“É claro que muitas redes estão enxugando seu quadro de pessoal. Mas, no geral, as empresas têm um limite para cortar pessoal de vendas ou reduzir contratações, já que isso pode afetar muito seus resultados.”

Natasha Patel, da Hays, diz que no varejo, em particular, um dos efeitos da desaceleração parece ter sido tornar o consumidor mais sensível a preço. “Mas isso também representa uma oportunidade para alguns segmentos específicos”, diz.

“Na área de supermercados, por exemplo, um destaque são os estabelecimentos que fazem vendas no atacado. E se a construção civil está desacelerando as contratações, vemos uma maior resiliência das redes que vendem produtos para a casa. Ou seja, as pessoas podem estar desistindo de comprar um novo imóvel, mas em vez disso, muitas estão reformando o antigo.”

6. Agronegócios

A Confederação Nacional da Agricultura reclama que a inflação elevada, a retração no PIB e as taxas de juros crescentes estariam inibindo as atividades da agropecuária brasileira.

Mas o agronegócio ainda deve ter um desempenho melhor que o resto da economia.

Entre os setores que estão crescendo se encontram a produção de carnes e os produtos florestais.

“Eles estão se beneficiando bastante do aumento das exportações, agora que o real está mais desvalorizado”, diz Bessa. “Por isso, também vale a pena olhar para esses setores.”

Fonte: MSN Notícias

Leave a Comment

Your email address will not be published.

Política Relevantes

TCE vai fiscalizar a execução de emendas parlamentares estaduais

post-image

O plenário do Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE/BA) aprovou proposta de Resolução que dispõe sobre a fiscalização e o acompanhamento da execução de emendas parlamentares estaduais e estabelece normas para assegurar a transparência, a rastreabilidade e a conformidade constitucional dessas transferências sobre as normas e procedimentos destinados à fiscalização e ao acompanhamento das emendas parlamentares estaduais, abrangendo também as transferências voluntárias delas decorrentes. A proposta de Resolução teve como relator o conselheiro Inaldo da Paixão Santos Araújo, que acolheu as sugestões de aprimoramento do texto de autoria da conselheira Carolina Matos.

Aprovada na sessão plenária do dia 9 de dezembro, a Resolução 085/2025 entrou em vigor a partir da última sexta-feira (12.12), quando foi publicada no Diário Oficial Eletrônico do TCE/BA, e tem como objetivos fundamentais assegurar a transparência e a rastreabilidade na execução orçamentária e financeira, além da…

Read More
Política Relevantes

Senado aprova aumento na idade máxima para ingresso na PM e Bombeiros

post-image

O Plenário do Senado aprovou, na quarta-feira, 10, o Projeto de Lei 1.492/2020, que altera a idade máxima de ingresso em concursos da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros. Atualmente, a legislação determina o limite de 30 anos para as duas corporações.

Com a aprovação do texto, a idade máxima passa a ser de 35 anos para o quadro de oficiais e praças, e de 40 anos para o quadro de oficiais médicos, de saúde ou outras especializações eventualmente existentes em âmbito estadual ou distrital.

“Estamos diante de um projeto que vai mudar a vida dos concurseiros policiais e bombeiros. O que estamos fazendo é garantir que, uma vez que ele passe, mesmo que o estado demore a abrir a vaga, ele não perde o concurso que se dedicou a fazer”, afirmou o senador Jorge Seif.

Juazeiro Política Relevantes

Cozinha Comunitária em Juazeiro contribuirá para o combate à fome, afirma secretária Fabya Reis

post-image

O enfrentamento à insegurança alimentar será um dos principais destaques da Cozinha Comunitária e Solidária inaugurada no município de Juazeiro neste sábado (13).

O equipamento foi entregue pela secretária estadual de Assistência e Desenvolvimento Social, Fabya Reis, com a presença de outras autoridades, de lideranças locais e regionais, a exemplo do vice-prefeito Tiano Félix.

“Esta ação integra o Programa Bahia Sem Fome e um conjunto de iniciativas no campo do enfrentamento às vulnerabilidades. Aqui serão produzidas refeições de qualidade, ofertadas gratuitamente para a população que mais precisa. Iniciativas como esta contribuíram para a saída do Brasil do Mapa da Fome e seguiremos, assim, neste projeto de transformação social liderado pelo presidente Lula e pelo governador Jerônimo Rodrigues”, pontou.

No município, a ação é uma parceria com a entidade Arcas Norte e Movimento dos Trabalhadores…

Read More
Política Relevantes

Lei do Impeachment entra na ordem do dia do Legislativo

post-image

O Congresso Nacional começa a semana agitado, com mais um round do embate entre o Legislativo e o Judiciário. Parlamentares colocaram na pauta a retomada da tramitação de uma proposta de atualização da Lei do Impeachment de 2023. A movimentação ocorre em resposta direta à decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu trechos da legislação em vigor desde 1950, limitando as possibilidades de abertura de processos de impeachment contra ministros da Suprema Corte.

A articulação do Legislativo ocorre em torno do Projeto de Lei (PL) nº 1.388/2023, de autoria do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e elaborado por uma comissão de juristas presidida por Ricardo Lewandowski, ex-ministro do STF e atual titular da Justiça. A relatoria da matéria está com o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e a expectativa é de que o parecer do…

Read More
Política Relevantes

Congresso aprova LDO com superávit de R$ 34 bilhões em 2026

post-image

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta-feira (4) o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026. A LDO estabelece diretrizes para a elaboração e a execução da Lei Orçamentária de 2026. 

O texto segue agora para sanção presidencial. Com a aprovação, a expectativa é que o Congresso vote na próxima semana a Lei Orçamentária Anual (LOA) para o ano que vem.

Entre outros pontos, a LDO prevê um superávit de R$ 34,3 bilhões em 2026, o equivalente a 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB). O texto estabelece ainda que o governo poderá considerar o limite inferior da meta para fazer limitações de gastos.

Salário mínimo e limite de despesas

O texto da LDO trabalha com o parâmetro de R$ 1.627,00 para o salário mínimo em janeiro. Mas o valor final…

Read More
Juazeiro Política Relevantes

Prefeito Andrei participa da XXX Cúpula de Mercocidades e projeta Juazeiro no debate internacional

post-image

O prefeito de Juazeiro, Andrei Gonçalves, participou da XXX Cúpula de Mercocidades 2025, o maior encontro de integração entre cidades da América do Sul, realizado de quarta a sexta-feira (05), em Niterói-RJ.

O evento, que celebra os 30 anos da Rede Mercocidades, reuniu prefeitos, gestores públicos, especialistas, acadêmicos, representantes de organismos internacionais e lideranças da sociedade civil para debater caminhos para cidades mais resilientes, pacíficas e sustentáveis.

Durante a cúpula, Andrei integrou o painel “Projetos e Iniciativas em Inovação: o olhar dos municípios”, apresentando as ações que Juazeiro vem implementando na transformação urbana, na modernização da gestão e na promoção de políticas públicas voltadas ao bem-estar da população. “Foram momentos de troca, aprendizado e construção de ideias que fortalecem o futuro das nossas cidades e o compromisso com políticas públicas que melhoram a vida das pessoas. Participei…

Read More
Política Relevantes

Messias inicia corrida final no Senado para salvar indicação ao STF

post-image

O advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), começa a semana com a missão de reverter o cenário desfavorável que encontra no Senado e buscar os votos que podem ser o fiel da balança de sua aprovação.

Articuladores do governo ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmam que o AGU já ativou o modo “atirar para todo lado”, a fim de tentar captar o maior número de votos antes de sua sabatina, marcada para 10 de dezembro, data que o governo tenta postergar.

Alvo de resistência dos parlamentares, o indicado deve manter a estratégia de tentar marcar o máximo de reuniões presenciais com senadores, sejam eles propensos ou não ao seu nome. Quando não recebido, Messias seguirá investindo nas ligações.

Outra frente é a articulação feita por ministros do STF. Nos últimos dias, André Mendonça, Cristiano…

Read More
Política Relevantes

“A crise climática é um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, um a cada 12 hospitais paralisa as atividades por causa de eventos climáticos extremos”, diz ministro da Saúde

post-image

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou um investimento de R$ 9,8 bilhões em ações de adaptação no Sistema Único de Saúde (SUS) para construção de novas unidades de saúde e a aquisição de equipamentos resilientes às mudanças climáticas. A medida faz parte das ações do AdaptaSUS, plano apresentado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém.

O AdaptaSUS prevê estratégias para que a rede de saúde pública enfrente os impactos das mudanças climáticas, contendo 27 metas e 93 ações a serem executadas até 2035. O anúncio foi feito durante a construção de novas unidades de saúde e a aquisição de equipamentos resilientes às mudanças climáticas.

“A crise climática é um problema de saúde pública. Hoje, no mundo, um a cada 12 hospitais paralisa as atividades por causa de eventos climáticos extremos. Para…

Read More