Após reunião na manhã desta sexta-feira (28) no Sindicato Rural Patronal de Petrolina (SRP-Petrolina), na qual produtores rurais dos projetos Senador Nilo Coelho e Maria Tereza expuseram as previsões quanto a uma provável falência hídrica na região, os deputados estaduais Lucas Ramos (PSB) e Odacy Amorim (PT) criaram uma comissão parlamentar para viabilizar um apoio financeiro do Governo de Pernambuco à instalação das bombas flutuantes para captação de água do volume morto do lago de Sobradinho.
Orçado em R$ 39 milhões, o projeto já garantiu R$ 26 milhões junto ao Ministério da Integração Nacional e R$ 2,5 milhões junto ao município. A primeira parte da obra, que permitirá a construção dos canais por onde a água do Lago passará, já foi licitada e terá sua ordem de serviço assinada na próxima segunda-feira (31) em Petrolina, pelo Ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. Os produtores aguardam, ainda, duas outras licitações que preveem convênio de cooperação – nos quais o governo do estado poderá atuar.
Segundo o deputado Lucas Ramos, não havia transparência sobre como o governo do Estado poderia contribuir. “Sem essa previsão de cooperação no edital de licitação para as obras, o Governo do Estado estaria incapacitado de dar sua contribuição para esta causa, inclusive pelo Tribunal de Contas. Com essa comissão, formada atualmente pelos deputados estaduais da região e na qual pretendemos agregar também os Federais e o Senador Fernando Bezerra Coelho, queremos ser o elo que faltava entre o Governo do Estado e o Federal”, disse o parlamentar, que é vice-líder do governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O socialista declarou ainda que aguardará dados da direção do Distrito de Irrigação Nilo Coelho (DINC) sobre o impacto da falência hídrica na região e uma nota técnica da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) sobre os processos licitatórios. A partir daí, a comissão se reunirá com o governador Paulo Câmara. “Na próxima semana já voltaremos a nos reunir com o Sindicato e a Câmara de Fruticultura da cidade para anunciar o que foi deliberado”, disse Lucas.
De acordo com o presidente do SRP, Edis Ken Matsumoto, o silêncio do Estado quanto à urgência pela obra vinha sendo interpretado pelos produtores rurais de Petrolina como omissão. “Em situações anteriores, como na crise de 2007-2010, o governo estadual foi muito mais pró-ativo ao representar-nos junto aos órgãos federais. Até o momento, a única atitude tinha sido decretar estado de emergência para viabilizar obras sem processo licitatório – o que não surtiu efeito. Agora esperamos que, de fato, o governador dê a sua contribuição e tome a frente dessa situação”, disse.
Edis ainda alerta que o atraso para início das obras poderá comprometer o atendimento à região este ano, mas é imprescindível nos próximos anos, em que ainda há previsão de escassez de chuvas. Em contrapartida, os produtores já vêm tomando atitudes sustentáveis no uso da água.
“Já antes da crise hídrica que se instalou, os produtores rurais dos projetos de irrigação tem substituído seus sistemas de irrigação de aspersão para micro-irrigação, que são muito mais eficientes e chegam a 90% de eficiência. Mesmo sabendo que haveria uma economia de água e consequente redução do seu custo, essas substituições de sistema não acontecem numa velocidade maior porque são realizados com recursos próprios. Não existe uma linha de crédito para financiar essa modernização do sistema para isso”, comentou.
Entenda a situação
De acordo com estimativas da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), divulgadas através do DINC, mesmo com diminuição da vazão para 900 m³/s, o reservatório chegará entre os meses de outubro e novembro em seu volume morto caso não chova até outubro de 2015.
Além de uma situação de racionamento no uso da água e desabastecimento para cerca de 150 mil habitantes de agrovilas e lotes de Petrolina; do distrito de Rajada e Pau Ferro e das cidades de Dormentes e Afrânio, a situação atingirá em cheio a agricultura irrigada praticada nos municípios. Atualmente a atividade é a principal mantenedora da economia petrolinense, a qual carrega para si o título de terceiro maior PIB de agricultura do Brasil.
Segundo dados do DINC, haverá perda da safra agrícola 2015-2016 devido à baixa produtividade ou perda total de produção, que se pode estimar em 1 bilhão de reais. Os pomares perdidos podem levar até 5 anos para se recuperarem. No Perímetro Nilo Coelho há, estimados, 120.000 empregos diretos e indiretos gerados pela agricultura irrigada que estão na iminência de serem extintos – isso sem contar o impacto nos outros setores ligados, principalmente o comércio.
A instalação das bombas flutuantes é essencial para evitar a cessão total do abastecimento de água no âmbito agrícola, pois o atual canal de aproximação que faz a retirada de água do lago, com extensão de 1.700 metros, ficará distante da margem caso o nível chegue ao volume morto.