A empresa de telemarketing Contax retomou as atividades da unidade do bairro de Nazaré, em Salvador, na manhã desta segunda-feira (13). Em nota, a empresa informou que os trabalhos foram retomados após inspeção que atestou a qualidade do ar no prédio e que foi feita a limpeza de todos os aparelhos de ar condicionado do edifício, para assegurar a saúde dos funcionários. A unidade da empresa no bairro de Nazaré foi fechada na sexta-feira (10), após ter as atividades paralisadas na quarta e quinta-feira, por conta do mau cheiro no local, que provocou mal-estar em pelo menos 40 trabalhadores. Através da assessoria, a empresa informou que a unidade de Nazaré tem 1.600 funcionários que trabalham em diferentes turnos. A Contax informou que o odor é “resultante da aplicação do produto Emulsão CN30 para asfaltamento do estacionamento da Arena Fonte Nova”, que estava sendo realizada próximo ao edifício da empresa. Em nota, a Contax afirma que, além das medidas tomadas pela empresa para sanar o problema, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER) informou que substituiu o produto utilizado no asfaltamento (CN30) para o RR2C.
Polícia investiga
A polícia abriu inquérito para investigar o que pode ter provocado a intoxicação de dezenas de funcionários da empresa de telemarketing, em Salvador. Os peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) coletaram material na sexta-feira (10), que será analisado em laboratório.
Fiscais da saúde do trabalhador notificaram a empresa. “Nós viemos notificar a empresa Contax e dar um prazo para que nos entregue alguns documentos, para que a gente possa fazer a análise desse acidente”, afirmou Patrícia Lacerda, do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador.
“O sindicato solicitou, junto com as autoridades competentes, que pudessem ser canceladas as atividades e a nossa solicitação é que [a empresa] só volte a funcionar na segunda-feira”, explicou, na ocasião, o presidente do sindicato da categoria, Marcos Costa.
Mesmo depois das primeiras vistorias, ainda não é possível dizer o que pode ter provocado a emissão de gases que causaram mal-estar entre os funcionários. “Checamos do térreo até o último pavimento e constatamos que havia ainda resíduo de algum tipo de produto, que não sabemos identificar ainda”, disse, na sexta-feira, Júlio Nascimento, tenente do Corpo de Bombeiros.
Do outro lado do muro da Contax, estavam sendo realizadas obras de pavimentação. Além do muro, tem um espaço de cerca de 30 metros que avança sobre a área da Arena Fonte Nova até chegar na manta asfáltica que está sendo instalada pelos operários.
Segundo a geóloga Claudia Cruz, os produtos químicos utilizados no asfalto são tóxicos quando exalados sem a proteção de máscaras. “Ele é composto de hidrocabornetos, de compostos aromáticos, de metais pesados e, se espalhando, aí você tem a contaminação da população”, explicou.
Uma outra hipótese está sendo investigada. De acordo com testemunhas, nos últimos três dias, uma fumaça preta começou a sair de dois tubos que ficam no prédio que funciona a empresa de telemarketing. A fumaça começou a sair depois que o gerador foi ligado durante uma queda de energia, na noite de quarta-feira (8). A fumaça, segundo testemunhas, teria um forte cheiro de óleo diesel queimado.
Os peritos do DPT coletaram filtros do sistema de ar para análise em laboratório. “Se algum produto ficou retido em algum dos filtros a gente vai encaminhar para o laboratório e, a partir do resultado, a gente vai emitir o laudo”, disse o perito criminal José Roberto Araújo.
O ar tóxico inalado pode provocar danos às vias respiratórias como rinite, faringite, traqueíte, bronquite e asma química, que é a dificuldade de respirar causada pelo estreitamento dos brônquios.
O pneumologista Guilhardo Fontes comentou que os efeitos nem sempre são imediatos. “Tem uma doença chamada pneumolite de hipersensibilidade, que é uma resposta a uma agressão pulmonar, que pode aparecer em algumas semanas, meses e até anos, decorrente de uma exposição aguda a uma substância qualquer que seja irritante das vias aéreas”, explicou o médico.
A Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), responsável pela obra na Arena Fonte Nova, informou que realiza uma intervenção “simples” de pavimentação e que são utilizados “produtos comuns”.
A Conder afirmou que “nenhum operário apresentou qualquer sintoma de intoxicação, mesmo aqueles que trabalham diretamente com os produtos” e que “não há informações sobre intoxicação de moradores, transeuntes ou mesmo de trabalhadores de outras empresas sediadas naquela região”. A Conder afirmou ainda que aguarda laudo da perícia técnica realizado pelo Corpo de Bombeiros, para depois emitir um parecer final sobre o ocorrido.(G1)