JOSÉ DA COSTA CARVALHO NETO
Engenheiro eletricista e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José da Costa Carvalho Neto foi secretário adjunto de Minas e Energia de Minas Gerais, em 1987, e presidiu a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) entre julho de 1998 e janeiro de 1999. Também na Cemig, onde entrou como estagiário em 1966, foi diretor de Distribuição, de 1991 a 1997, e exerceu os cargos de superintendente, gerente de Departamento e de Divisão. Foi professor na cadeira de Centrais Elétricas na Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG), de 1970 a 1977. Na iniciativa privada, ocupou os cargos de diretor-presidente da Arcadis Logos Energia, de membro do Conselho de Administração da Logos Engenharia e Enerconsult e diretor da Orteng Equipamentos e Sistemas. Desde fevereiro de 2011 é presidente da Centrais Elétricas Brasileiras S.A., a Eletrobras. Carvalho Neto falou com exclusividade à reportagem da rede Central de Diários do Interior e Associação dos Diários do Interior do Brasil (ADI-BR): “Vejo um cenário com grandes oportunidades para o crescimento da nossa empresa”.
“Nossa marca é um ativo imenso para o país”
O orçamento da companhia previa investimentos de R$ 13 bilhões em 2012, mas o montante realizado deve alcançar R$ 12 bilhões. Qual o motivo?
Carvalho Neto – Não houve redução. Vamos conseguir cumprir cerca de 90% do que foi orçado no início de 2012, um recorde histórico. O desempenho poderia ter sido ainda melhor se tivéssemos conseguido superar alguns obstáculos, como a liberação de licenças ambientais.
Qual a previsão para 2013?
Carvalho Neto – Ainda não há um número fechado, mas o orçamento não deverá ser menor do que o deste ano.
Como estão os principais empreendimentos?
Carvalho Neto – As usinas do Complexo do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau já estão começando a gerar energia. E Belo Monte, apesar dos problemas, não tem sofrido grandes atrasos. Entre as novas renováveis, como as usinas eólicas, as primeiras unidades do Complexo de Cerro Chato, no Rio Grande do Sul, já estão em funcionamento e prevemos que, durante 2013, entrem em operação usinas do Nordeste, como Pedra Branca, São Pedro do Lago e Sete Gameleiras e Casa Nova, na Bahia e Rei dos Ventos e Miassaba, no Rio Grande do Norte. Uma outra usina que está seguindo com um desempenho razoável é Angra 3, que deve estar pronta para operar no início de 2016.
Quais os principais desafios para o setor energético do país?
Carvalho Neto – A distribuição, ou seja, aquela parte que chega à casa do consumidor, e a transmissão, que liga as usinas às distribuidoras de energia, são operações complexas em si. Essa complexidade é ainda maior no Brasil, cujo sistema interligado é um dos maiores do mundo, com 100 mil quilômetros de linhas, contando apenas as de alta tensão. Com o aumento da carga necessária após a introdução de cerca de 15 milhões de brasileiros na rede de consumo de energia, graças ao programa Luz Para Todos, e também ao avanço econômico do país nos últimos dez anos, a operação de toda aquela malha tornou-se ainda mais complicada. Os investimentos na ampliação e na manutenção desse sistema foram realizados no nível devido. No entanto, como a operação tornou-se muito mais complexa, ocorrem instabilidade.
O governo lançou portaria com o valor das indenizações referentes à mudança nas concessões. A Eletrobras será uma das maiores indenizadas. A companhia está satisfeita?
Carvalho Neto – A Eletrobras apoia integralmente a decisão de governo de reduzir a tarifa de energia para alavancar a competitividade da nossa economia. Estamos realizando um levantamento detalhado, instalação por instalação, para cotejar o valor que nos coube, de R$ 14 bilhões.
E o anúncio de redução do preço da energia em 2013? Como isso afeta o sistema Eletrobras?
Carvalho Neto – Essas medidas afetam o Sistema Eletrobras por diminuírem suas receitas. No entanto, como já disse, estamos estudando formas de cortar nossas despesas e elevar as receitas, de maneira a nos adequar à nova realidade.
Investimentos estrangeiros. A empresa pretende se internacionalizar? Que países ou regiões estão no foco de atuação?
Carvalho Neto – Nossos planos de internacionalização se concentram, em primeiro lugar, na América Latina, em especial na América do Sul. Também olhamos com interesse negócios na África. Obviamente, se surgirem oportunidades em outros continentes, avaliaremos, mas eles não fazem parte do nosso foco.
A Eletrobras é considerada uma das marcas mais valiosas do mundo, avaliada em US$ 2,5 bilhões. Qual a importância disto para a visão do Brasil no mercado mundial?
Carvalho Neto – Uma marca poderosa, com esse valor de mercado, é um ativo imenso para um país. Significa reconhecimento da capacidade do país em um determinado setor. O fato de a marca da Eletrobras ser uma das mais valiosas do mundo no setor de utilities (empresas prestadoras de serviços de utilidade pública) é o reconhecimento que o Brasil tem um expertise de destaque no setor elétrico.
A Eletrobras é responsável por quase 170 usinas hidrelétricas, termelétricas, eólicas e termonucleares e mais de 60 mil quilômetros de linhas de transmissão, além de empresas distribuidoras. Qual sua visão para o futuro da empresa?
Carvalho Neto – Vejo um cenário com grandes oportunidades para o crescimento da nossa empresa. Nosso grande desafio, neste momento, é conseguir uma adaptação rápida ao novo contexto macroeconômico e ter fôlego financeiro para manter os investimentos na área de energia elétrica que o Brasil precisa.
Por Camila Latrova | Edição: Andréa Leonora
Esta entrevista exclusiva foi disponibilizada para publicação em 120 jornais que formam a rede Associação dos Diários do Interior (ADI Brasil) e Central de Diários do Interior (CDI), somando 4 milhões de exemplares/dia e com potencial para atingir 20 milhões de leitores. A força do interior na integração editorial.
Foto:Jorge Coelho/Eletrobras