Por Caio Alves
Fotos: Arquivo pessoal
A tradicional escola de balé da região completa esse ano, 35 anos. E para saber como ela surgiu e o que terá na programação de comemoração dessa data, entrevistamos o fundador da escola, Geraldo Correia Pontes, nome artístico Geraldo Pontes.
Geraldo Pontes é juazeirense, licenciado em Dança pela Universidade Federal da Bahia, Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia, com especialização em Psicopedagogia.
Diário da Região: Quando começou a se interessar por dança?
Geraldo Pontes: Comecei profissionalmente trabalhando como autodidata em 1978, no centenário de Juazeiro. E antes da minha escola já existiam outras escolas de balé aqui na região, como a escola de balé de Juciara Campelo e da professora Helena Palma. E sempre participei desses festivais como bailarino convidado, pois eu já tinha talento para dança e nunca tinha feito aula de balé. E aí surgiu a oportunidade de abrir essa escola de balé, que primeiro se chamou Escola de Dança Nureyev, que era uma homenagem ao bailarino russo Rodolf Nureyev que era o espelho para todos os estudantes e profissionais de dança.
Essa escola funcionou em Juazeiro sempre como autodidata. Fui morar em Campinas, interior de São Paulo, já no início dos anos 80 e lá fiz cursos de especialização em balé, que tive como professoras Ady Addor, Edith Pudelko, primeiras bailarinas do Teatro Municipal de São Paulo. E tive como professor de balé o argentino Alfedo Caruso, professor titular do Teatro Colon de Buenos Aires, esse realmente me deu um grande suporte, principalmente para a dança clássica.
Em 1982 fui fazer faculdade de dança em Salvador e cursei de 83 a 87. Tinha sempre como prioridade voltar para Juazeiro. Tive oportunidade de ir embora, de ir para o exterior, mas nada disso me fascinou, pois eu já tinha um trabalho aqui e essa escola já existia e eu queria trazer a nível de profissionalização, uma formação para bailarinos aqui na região. Então terminei o curso de licenciatura em dança em 1987, e até hoje continuo fazendo minhas oficinas de balé. Em 2012 participei do primeiro encontro da América Latina de Dança em Salvador, ano passado fui para o primeiro encontro de Formadores Educadores em Dança na Bahia e hoje a escola tem ex-alunos formados em dança pela Universidade Federal da Bahia, alguns atuando aqui na região e outros atuando no exterior. E nesse ano a escola está completando 35 anos de atividades sócio artística educativa na região.
DR: Quem te incentivou?
Geraldo Pontes: Na verdade eu fazia teatro e pintava. Gostava de pintar e fazer teatro, e não tinha muito contato com o universo da dança. Quando a professora Juciara Campelo abriu a escola dela aqui, eu me apaixonei, fiquei louco e disse que ‘é isso que eu quero’. No início a minha família queria que eu fizesse dança a vida inteira, mas não profissionalmente, que eu tivesse uma outra profissão, e que fizesse dança paralelo. Mas eu não aceitei, porque não iria me realizar e também não me arrependo, sou muito feliz pela escolha que eu fiz, continuou um apaixonado pela dança.
DR: Você sofreu algum tipo de preconceito por ser bailarino?
Geraldo Pontes: Não. Porque quando você é verdadeiro no que você faz, você não encontra muitas dificuldades. E tive o apoio da família, isso é o mais importante. Comecei a fazer numa geração que quase nenhum rapaz fazia dança, pelo preconceito. Mas fiz, minha família me deu apoio, abri a minha escola e sempre tive alunos.
DR: A escola sempre foi nesse local?
Geraldo Pontes: Não. Nós começamos na orla de Juazeiro, depois fomos para onde é agora o Apollo Hotel. Tivemos outros endereços. Quando eu voltei de Salvador em 87, dei aula em uma das salas do Centro de Cultura João Gilberto por três anos. E foi quando eu resolvi ter a sede própria aqui na minha casa, onde eu nasci e me criei.
DR: Tem uma média de quantas pessoas já passaram por aqui?
Geraldo Pontes: Eu acredito que uma faixa mínima de 5 mil crianças passaram por aqui.
DR: E de quantos espetáculos foram montados…
Geraldo Pontes: Só de repertório, que são de balés universais, montamos Cinderela, A Bela Adormecida, duas versões de o Quebra Nozes, Cisne Negro, o Ballet Giselle. Era um por ano, que ficou até difícil de lembrar quantos fizemos [risos].
DR: Os figurinos e cenários dos espetáculos são de sua autoria?
Geraldo Pontes: Isso. Eu pinto o cenário e confecciono os figurinos. Na verdade a minha formação é em dança, mas eu trabalho com todas as linguagens de arte.
DR: Como começou a trabalhar com projetos sociais?
Geraldo Pontes: A primeira vez que trabalhei em um projeto social foi a convite de Cisto Bandeira, ele conversando comigo e me disse que entrei uma pessoa e hoje estou outra. Porque um projeto social você humaniza as suas relações. Eu não vou ensinar a criança a ser bailarina, é você trabalhar a autoestima dessa criança, a valorização dela. Então você termina se envolvendo com esse universo, com essa carência de afeto, fome, necessidade, violência, que para algumas essa realidade é longe. Mas para quem trabalha com isso, sabe do que estou falando.
Há mais de 15 anos trabalho com projetos sociais, eu tenho um trabalho com a Apae de Juazeiro, que sempre participa desses festivais. Em 2012 passamos no edital da Fundação Cultural da Bahia, no setorial de dança com o projeto Ballet Volta ao Mundo. Esse projeto atendeu 100 crianças carentes da Fundação Lar Feliz, da Apae de Juazeiro e do Cras da Malhada da Areia, e foi um projeto que elas receberam um fardamento, tiveram quatro meses de aula de balé e dança popular e tivemos quatro monitores no projeto. Elas participaram do festival de fim de ano, foram três seções e o produto final foi um DVD com uma tiragem de mil exemplares distribuídos na região.
DR: Além da feijoada, terá alguma outra programação para comemorar os 35 anos da escola?
Geraldo Pontes: Estou com um projeto de lançar uma revista que conta toda essa trajetória da escola. E acho justo fazer essa revista, pois são 35 anos de muito trabalho e dedicação, e até porque eu posso fechar a escola, morro e não fica nenhum documento que conte a história dessa escola. Então essa revista contará a trajetória toda da escola até os dias de hoje, será uma revista ilustrativa, informativa, educativa. Terá um artigo que escrevi sobre origem e evolução da dança, o papel da dança na sociedade, essa transformação através do tempo, com fotografias de época, dos projetos sociais, depoimentos de alunos e ex-alunos e dos alunos especiais que sempre atendemos. Mas infelizmente não conseguimos apoio para fazer a revista, e aí surgiu a ideia de fazermos a feijoada, para angariar uma grana para pagar o projeto, que tem um custo de 6 mil reais. E infelizmente não passamos no edital de cultura do município, e nem tivemos nenhum apoio da Secretaria de Cultura que seria para custear essa revista. Essas coisas me deixam muito triste em Juazeiro, mas não me enfraquece.
A feijoada vai acontecer no dia 24 de agosto, e vamos vender um marmitex ao preço de R$ 10,00, estamos vendendo já os ingressos aqui mesmo na escola, que fica localizada na Rua Melo, Centro de Juazeiro.
E tem o festival que vai acontecer no fim de ano, que é o Cisne Negro. E estamos montando tudo com muito cuidado e carinho para comemorar esses 35 anos da escola.
No final da conversa, Geraldo Pontes concluiu: “Estou no momento muito feliz, porque estou comemorando 35 anos com esse meu trabalho e ter essa história pra contar. Mesmo com duras dificuldades que é manter uma escola de arte em uma cidade que pouco valoriza o seu artista”.







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