Dados do último censo do IBGE revelam que cerca de 10% das crianças brasileiras estão obesas. A pesquisa aponta ainda que, nos últimos 20 anos, a obesidade infantil aumentou em cinco vezes.
A obesidade é uma enfermidade crônica que se acompanha de múltiplas complicações, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura em uma magnitude tal que compromete a saúde. Entre as complicações mais comuns está o diabete mellitus, a hipertensão arterial, as dislipidemias, as alterações osteomusculares e o incremento da incidência de alguns tipos de carcinoma e dos índices de mortalidade.
A obesidade é ainda o resultado de ingerir mais energia que a necessária. Não há dúvidas que este consumo excessivo pode iniciar-se em fases muito remotas da vida, nas quais as influências culturais e os hábitos familiares possuem um papel fundamental. Por isso dizemos que a obesidade possui fatores de caráter múltiplo, tais como os genéticos, psicosociais, cultural-nutricionais, metabólicos e endócrinos. A obesidade, portanto, é gerada pela interação entre fatores genéticos e culturais, assim como familiares.
Marieta Santana, mãe de Marcos Vinícius, que tem13 anos e pesa 78kg, conta a trajetória alimentar do filho. “Ele já nasceu com 5,3kg. Isso é muito para uma criança, normalmente elas nascem com dois ou três quilos. Achava lindo ele ser bochechudo e gostar de todos os tipos de comida. Quando ele foi ficando maior e começou a ir para a escola ele se exercitava pouco e comia todo o lanche que eu mandava e mais um pouco. O tempo foi passando, ele foi crescendo e eu reconheço que demorei muito a procurar um médico porque achava que quando ele entrasse na adolescência, ele ia crescer e emagrecer. Mas isso não aconteceu. Ele passou por problemas de aceitação entre os colegas e quando cheguei ao médico, há cerca de dois meses, tive a triste notícia de que todas as taxas dele estavam alteradas e agora estamos tentando uma reeducação alimentar para o bem da saúde dele”, desabafa Marieta.
Segundo o Manual de Psiquiatria Infantil, de 1983, uma criança é considerada obesa quando ultrapassa em 15% o peso médio correspondente à sua idade, desde que o excesso de peso corresponda ao acúmulo de lipídios, fato que pode ser avaliado pela espessura da prega cutânea. No entanto, não é fácil estabelecer parâmetros que definam, com precisão, o limite entre peso normal, sobrepeso e obesidade.
Médicos revelam que a influência das desordens emocionais e dos fatores psicológicos ajudam na prevalência da obesidade em qualquer fase da vida. Outro fator que pode ajudar a desenvolver obesidade em crianças é a supervalorização dos alimentos pelos pais, ajudando os filhos a desenvolverem hábitos alimentares ruins.
No entanto, é importante ressaltar que também existem influências genéticas, psicológicas e familiares nesse processo. Os especialistas alertam ainda que, nos últimos 15 anos, acrescentou-se nos hábitos de vida da maioria das crianças, o sedentarismo e o consumo de alimentos processados com maior conteúdo de gorduras, carboidratos e menor aporte de fibra. Em princípio, isso estaria relacionado à boa condição financeira das famílias, pois, os pais interessados em ganhar o mercado de trabalho, passou a deixar os filhos aos cuidados de babás.
A massificação dos alimentos industrializados ajudou ainda mais nesse processo de engordamento das crianças. Aliado a isso, os jogos infantis, cada vez mais eletrônicos, foi deixando os pequenos sedentários.
Visando a prevenção do aumento da população obesa, é essencial que se tome por ponto de partida o acompanhamento alimentar rigoroso na infância, mesmo desde o nascimento. Segundo nutricionistas, a obesidade infantil está relacionada, logo na primeira infância, com o desmame precoce e a utilização de farinhas para “engrossar” o leite das mamadeiras. Diferentemente do leite materno, o leite de vaca usado na mamadeira contém sódio e gordura já em excesso. É recomendável, portanto, que o recém-nascido tome o leite materno até, no mínimo, o sexto mês.
Outro fator é o aumento do consumo, por parte das crianças, de alimentos industrializados do tipo “junck food”, como, por exemplo, salgadinhos em pacote, que possuem elevados teores de sal, colesterol e calorias. Da mesma forma, o aumento do consumo de “fast food” influencia significativamente o crescente consumo de alimentos gordurosos, como maionese e batatas fritas.
O fato das crianças acostumarem-se com o sabor doce logo nos primeiros meses de vida, quando muitas mães acrescentam açúcar às mamadeiras de leite, também contribuiu para o elevado consumo de açúcar entre as crianças, sendo um dos motivos da obesidade infantil, na avaliação da especialista.
Além disso, existe o sedentarismo, que acontece devido a muitas horas na frente da televisão, também tem grande influência, pois a diminuição da atividade física leva ao menor gasto energético.
É importante ressaltar o papel nocivo da propaganda a que as crianças são submetidas, com todo o apelo publicitário para que consumam doces e outros alimentos de alto valor energético, mas que fornecem poucos micronutrientes como vitaminas e minerais, essenciais para a boa saúde.
Prevenção da Obesidade Infantil
É importante que as crianças, já a partir dos 4 ou 6 meses de vida, tenha uma dieta variada, colorida, que possua sabores e texturas diferentes, uma vez que os seus hábitos alimentares serão formados ainda nos seus primeiros anos. Os horários das refeições precisam ser bem estabelecidos e evitar longos períodos sem alimentação.
Para que a criança tenha uma alimentação equilibrada, é recomendável que consuma, pelo menos, um alimento de cada um dos três grupos abaixo, em cada refeição:
– Reguladores: frutas, verduras e legumes. São as fontes de vitaminas, minerais e fibras;
– Energéticos: cereais, pães, macarrão, batata, mandioca, farinhas, etc. Estes são as fontes de carboidrato, que fornecem energia ao organismo.
– Construtores: são ricos em proteínas, cálcio e ferro e compreendem as carnes de vaca e frango, peixes, ovos, leite e derivados e as leguminosas como os feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja, etc.
Além disso, para a criança que já está acima do peso, é preciso que se aumente o nível de atividade física da criança, que se diminua os alimentos gordurosos, excluindo as frituras do seu cardápio e utilizando pouco óleo na preparação dos alimentos.
Marcos Vinícius, que pouco se exercitava na escola ou nas brincadeiras com os amigos, agora tem que fazer atividade física pelo bem da sua saúde. O garoto entrou no Boxe, em uma academia em Juazeiro, e tenta adquirir boa forma e qualidade de vida para um garoto de 13 anos que nunca sequer jogou futebol com os amigos.
Nutricionistas recomendam que os pais devem substituir os refrescos artificiais e os refrigerantes por sucos naturais de frutas, além de diminuir o consumo de doces e açúcar e dos alimentos de “fast food” e “junck food”, dando sempre preferência aos alimentos frescos e naturais. Pesquisas demonstraram que é importante que o teor de gordura nunca ultrapasse 25% do total da alimentação da criança.
É fundamental que a família também siga as mesmas normas alimentares, e que não se utilize o alimento como prêmio ou punição na educação da criança. De acordo com estudos sobre o assunto, 20% das crianças têm sucesso no tratamento da obesidade.