O Ministério da Educação (MEC) anunciou no início do último mês de setembro que pretende distribuir tablets – computadores pessoais portáteis do tipo prancheta, da espessura de um livro – em escolas públicas a partir do próximo ano.
A informação foi dada pelo próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, e, segundo ele, o objetivo é universalizar o acesso dos alunos à tecnologia. Na justificativa para o projeto, Haddad afirmou que “tem investido muito em conteúdos digitais educacionais. O MEC investiu, só no último período, R$ 70 milhões em produção de conteúdos digitais. Temos portais importantes, como o Portal do Professor e o Portal Domínio Público. São 13 mil objetos educacionais digitais disponíveis, cobrindo quase toda a grade do ensino médio e boa parte do ensino fundamental.”
O que o ministro não esclareceu, no entanto, diz respeito ao profissional que irá atuar com esses estudantes em sala de aula: o professor. Haverá algum tipo de treinamento para que estes profissionais atuem com essa nova modalidade de ensino? Haverá algum critério de seleção de conteúdo na utilização desses tablets ou o acesso às redes sociais estará liberado? Ainda não se sabe. O ministro apenas garantiu que o edital para a compra desses produtos deverá estar pronto até o final de 2011.
Segundo especialistas, esta é uma grande oportunidade para a educação – não há por que duvidar. Os tablets são portáteis, permitem consumir, produzir e compartilhar conteúdos como textos, fotos e vídeos, possibilitam interatividade e conexão à internet. Tudo isso pode significar uma transformação para a velha escola, com quadros negros e aulas expositivas. A despeito disso, o tablet não deve ser encarado como uma panaceia para a área de educação. Para que a maquininha dê frutos, concordam especialistas, é preciso conferir a ela uso e conteúdo pedagógicos.
“Sou a favor do uso de tablets na escola, mas não sem salientar que eles precisam ser utilizados de maneira inteligente“, pontua Christopher Quintana, professor da Universidade de Michigan e também especialista em tecnologia, em palestras apresentadas. Não se trata apenas de usar uma nova tecnologia. O trabalho da escola deve ser envolvê-la em seu projeto pedagógico e determinar objetivos claros para a ferramenta.
O desafio de transformar máquinas em ferramentas educacionais não é novo. Ele ocupa a escola há pelo menos uma década, quando os computadores passaram a integrar a realidade acadêmica. É a partir dessa experiência que pesquisadores, no Brasil e no mundo, apontam caminhos para os novos aparatos, como os tablets que, cedo ou tarde, chegarão às mãos dos estudantes.
A professora do Ensino Funadamental, Lariça Leite, expõe a sua preocupação com o novo projeto do Ministério. “Olha, tecnologia é sempre bom para dinamizarmos as aulas e, assim, poder proporcionar um melhor aprendizado aos alunos. Mas, por outro lado, temos alguns professores mais antigos no cargo e que não têm muita facilidade em lidar com tecnologia. É preciso se pensar em situações de treinamento para que não seja apenas mais uma ferramenta pouco utilizada nas salas de aula”.
Um ponto essencial para o sucesso do uso dessas tecnologias é o treinamento dos professores. É preciso preparar os mestres para que eles explorem ao máximo os recursos da máquina com seus alunos. Nesse quesito, por exemplo, o sistema público de educação nacional tem mostrado falhas.
O estudante do 8º ano, Gabriel de Brito, fala da sua expectativa. “Acho que vai ser muito melhor aprender por meio dos mini-computadores. Só o quadro e, às vezes, um data-show não deixa a aula divertida. Temos que estudar, sim, mas se isso puder ser de uma forma divertida, com certeza aprenderemos mais”, explica o estudante.
Ainda faltam evidências científicas de que o uso da tecnologia como recurso pedagógico provoque impactos positivos significativos no desempenho acadêmico. Mas já se sabe que, com a ajuda de um computador, estudantes desenvolvem análise crítica, capacidade de pesquisa e conhecimento tecnológico mais apurados.