A espuma usada para reduzir o ruído na boate Kiss foi comprada em uma loja de colchões de Santa Maria. A queima do material produziu a fumaça tóxica que, segundo a polícia, causou a morte da maioria das vítimas. O comerciante que vendeu o revestimento prestou depoimento à polícia, como mostra a reportagem do Jornal Hoje (veja o vídeo abaixo). No último domingo (27), um incêndio na casa noturna deixou 237 mortos.
Funcionários da Kiss encomendaram a espuma para usar no isolamento acústico da boate. O produto é vendido por R$ 30 o metro quadrado. As notas fiscais fornecidas pelo fabricante serão encaminhadas à polícia. “O rapaz que fez a reforma encomendou. Foram três lâminas”, afirmou Flávio Boeira, proprietário da loja.
O comerciante diz que o uso deste tipo de espuma é comum e que já vendeu para igrejas e até consultórios dentários. Segundo Boeira, o material é conhecido como colchonete piramidal e também é usado em hospitais, principalmente para pacientes que ficam muito tempo internados.
“Como a gente pode se sentir? Completamente arrasado. Nunca soube que era proibido. Meu filho poderia estar lá, ele era frequentador assíduo. Minha mãe tem 86 anos e dorme em cima de um desses”, disse. “Acredito que ninguém em sã consciência vai usar essa espuma como isolamento acústico”, completou.
O material instalado, segundo o dono da boate, Elissandro Callegaro Spohr, foi sugerido por um engenheiro. Kiko, como também é conhecido respondeu a perguntas enviadas pela RBS TV dentro do hospital em que está internado em Cruz Alta, a 130 quilômetros de Santa Maria. Ele está sob custódia da polícia.
“Um engenheiro chamado Pedroso. Foi feito tudo. As opções eram: gesso, tá? Ou espuma. A espuma, eu achava horrível, muito feio. Eu optei pelo gesso. Porém continuou o barulho. Eu voltei a chamar o Pedroso, praa a gente trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou espuma e madeira por cima. Concreto. E aí, por fim, espuma. Eles queriam que eu botasse espuma em toda a boate. Mas até que não precisou botar em toda a boate. Eu botei só no palco”, disse, em depoimento exclusivo ao Fantástico.
O engenheiro Miguel Pedroso negou ter aconselhado a colocação da espuma, que é altamente inflamável. “Eu tenho uma quantidade grande de projetos acústico. E jamais, em nenhum projeto, nenhum laudo acústico, eu aconselhei a utilizar espuma de borracha”. O engenheiro e o sócio da boate vão prestar novos depoimentos.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, região central do Rio Grande do Sul, deixou 237 mortos na madrugada do último domingo (27). O fogo teve início durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que fez uso de artefatos pirotécnicos no palco. De acordo com relatos de sobreviventes e testemunhas, e das informações divulgadas até o momento por investigadores:
– O vocalista segurou um artefato pirotécnico aceso.
– Era comum a utilização de fogos pelo grupo.
– A banda comprou um sinalizador proibido.
– O extintor de incêndio não funcionou.
– Havia mais público do que a capacidade.
– A boate tinha apenas um acesso para a rua.
– O alvará fornecido pelos Bombeiros estava vencido.
– Mais de 180 corpos foram retirados dos banheiros.
– 90% das vítimas fatais tiveram asfixia mecânica.
– Equipamentos de gravação estavam no conserto.