Nariz escorrendo e febre alta estão longe de ser um dos piores problemas da gripe. Estudos indicam que a doença também pode ter fortes relações com o agravamento de problemas cardíacos.
Uma pesquisa feita com dados de mais de 190 mil pacientes de hospitais públicos da cidade de São Paulo mostrou que as internações por problemas cardíacos aumentam em torno de 20% nos meses mais frios –o pico de atividade do vírus causador da gripe, o influenza.
Há uma curva ascendente de internações por problemas cardíacos que começa no mês de maio e se estende até outubro, com a maior quantidade de casos acontecendo em julho e agosto.
Agora, um dos autores desse trabalho, o médico Henrique Godoy, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), está começando um novo estudo para investigar mais a fundo a relação entre a gripe e a insuficiência cardíaca no país.
PIORANDO
“Não é que a gripe vá causar um ataque cardíaco em qualquer um, mas ela pode agravar os problemas de quem já é cardiopata”, afirmou o médico.
Godoy explica que a gripe pode desencadear uma série de reações literalmente explosivas para as artérias.
“Em pessoas que já têm o risco elevado e outros agravantes, como colesterol alto e hipertensão, o vírus pode favorecer a ruptura do endotélio [o tecido que reveste os vasos sanguíneos], além de acelerar o desenvolvimento de placas de colesterol e de coágulos”, diz ele.
Além disso, o estado gripal também favorece o acúmulo de fluidos no corpo, o que pode favorecer o desenvolvimento de infecções, algo que agravaria ainda mais o quadro de problemas cardíacos.
E não basta esperar a gripe passar. O risco fica aumentado até cinco semanas depois da doença. Estudos anteriores em vários lugares do mundo já apontavam a relação entre o clima frio, a gripe e os problemas cardíacos.
A Sociedade Americana de Cardiologia foi uma das primeiras recomendar a vacinação contra a gripe. Por aqui, as entidades também já indicam a imunização.
De acordo com o médico, a vacina, embora não seja infalível –a eficácia varia com a idade, e ela protege apenas contra três cepas do vírus– é a melhor prevenção, reduzindo em cerca de 30% o risco de internações.
“Uma vez gripado, não há muito o que se fazer. O ideal é visitar o cardiologista e ficar atento aos sintomas.”
Alguns sintomas de problemas cardíacos, como a falta de ar, podem acabar confundidos com problemas comuns da gripe.
“Ainda assim, o Ministério da Saúde recomenda o uso do antiviral para pacientes dos grupos de risco. Pode não ajudar na insuficiência cardíaca, mas evita outros problemas”, diz Nancy Bellei, coordenadora do setor de viroses respiratórias da Unifesp.