As forças curdas apoiadas por ataques aéreos dos Estados Unidos e de aliados árabes resistiam neste sábado a ofensivas dos jihadistas extremistas do grupo Estado Islâmico (EI), que na véspera chocou mais uma vez o mundo ao anunciar a decapitação de mais um refém britânico.
Os ataques deixaram ao menos 35 jihadistas mortos – informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Segundo a ONG, pelo menos 30 jihadistas morreram perto de Shadadi, na província de Hasake (nordeste), e outros cinco na periferia da cidade curda de Kobane, na província de Aleppo (norte), fronteira com a Turquia.
A coalizão internacional atacou ao menos quatro zonas ao sul e ao sudeste de Kobane, onde as forças curdas oferecem uma forte resistência.
Um ativista de Kobane confirmou os ataques aéreos.
“Os combatentes do Daesh (acrônimo do EI em árabe) diziam que recitarão as orações do Eid al Adha em Kobane, mas, por ora, não entraram na cidade”, acrescentou a fonte.
A festa de Eid al-Adha (“sacrifício”), uma das mais importantes para os muçulmanos, começou neste sábado.
As forças curdas que defendem a cidade com a ajuda de rebeldes sírios conseguiram conter os últimos ataques do EI, mas os combates continuam intensos em Ain al Arab, nome de Kobane em árabe.
A tomada de Kobane, onde ainda há milhares de civis, permitiria ao EI controlar uma faixa de território ininterrupta na fronteira com a Turquia.
O exército turco posicionou soldados nas colinas próximas a Mursitpinar, de onde observam os combates.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou com represálias caso o Estado Islâmico resolva atacar o túmulo de um dignitário otomano situado em um parte do território sírio sob soberania turca.
O governo turco, que recebeu autorização do Parlamento para participar das operações militares da coalizão no Iraque e na Síria, ainda não revelou quais são suas verdadeiras intenções em relação a sua participação no conflito.
Nesse primeiro dia do Eid al-Adha, o presidente sírio, Bashar al-Assad, apareceu em fotos rezando em uma mesquita de Damasco.
O Twitter da presidência postou fotos de Assad rezando junto com a principal autoridade religiosa do país, Adnan Afyuni, e com membros do governo.
Em seu sermão, Adnan Afyuni criticou a comunidade internacional por seu apoio à rebelião síria desde o início da guerra civil há três anos.
“O Eid é sinônimo de felicidade na vida da comunidade muçulmana, mas o Eid não entrou em nossas casas, porque o Ocidente e seus colaboradores árabes decidiram converter nosso país em um campo de batalha”, afirmou.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, a comunidade muçulmana, o Conselho de Segurança das Nações Unidas e familiares prestaram uma homenagem ao refém britânico executado na véspera, Alan Henning. Depois de servir como soldado, esse taxista de Manchester se tornou voluntário humanitário. Ele foi sequestrado em dezembro, quando acompanhava um comboio humanitário na Síria.
“Alan Henning era um homem de paz, gentil e com um grande coração. Sua morte é um ato odioso, que não responde a nada, que é totalmente imperdoável. Vamos usar de todos os meios para encontrar os responsáveis e vencer essa organização impiedosa, sem sentido e bárbara”, afirmou David Cameron neste sábado, depois de uma reunião de crise.
“Alan era um amigo dos muçulmanos, e os muçulmanos vão chorar por ele”, declarou o secretário-geral do Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, Shuja Shafi.
“O Islã não apenas condena esses crimes, como também os proíbe”, recordou o presidente da Ramadhan Foundation, Mohammed Shafiq.
O presidente americano, Barack Obama, também reprovou o “brutal” assassinato do refém britânico, garantindo que os Estados Unidos levarão os culpados à Justiça.
O Conselho de Segurança da ONU condenou energicamente o assassinato “atroz e covarde” e, em uma declaração unânime, seus 15 membros expressaram que “os contínuos atos de barbárie cometidos pelo EI não os intimidarão, e sim endurecem sua determinação de combatê-los”.
A mulher da vítima, Barbara, pediu em várias ocasiões a libertação do marido.
“Ontem à noite, recebemos a notícia de seu assassinato pelo Estado islâmico. Essa é uma notícia que esperávamos nunca receber. Estamos arrasados com a sua morte. Eu, Lucy e Adam (seus filhos), assim como toda a família e os amigos de Alan estamos tomados pela dor”, escreveu Barbara Henning em um comunicado divulgado neste sábado.
O vídeo da decapitação, intitulado “uma nova mensagem aos Estados Unidos e a seus aliados”, foi gravado no mesmo local das execuções anteriores de dois americanos e de um britânico.
Vestido com o mesmo uniforme laranja das outras vítimas anteriores – e que lembra o dos presos da base militar americana de Guantánamo -, Alan pronuncia uma frase curta e, depois, o agressor toma a palavra para acusar o Parlamento britânico de ser responsável pela morte de seu cidadão.
Embora a voz pareça ter sido modificada eletronicamente, o carrasco tem sotaque britânico e, segundo o centro americano de monitoramento de páginas islâmicas na Internet SITE, aparenta ser o mesmo que matou o também britânico David Haines, em meados de setembro.
Ao final da gravação, que dura um minuto e 11 segundos, o EI apresenta outro refém americano, identificado como Peter Kassing.
Henning é o quarto refém executado pelos jihadistas do EI na Síria, depois dos jornalistas americanos James Foley e Steven Sotloff (vídeos divulgados em 19 de agosto e 2 de setembro, respectivamente) e do trabalhador humanitário britânico David Haines (vídeo divulgado em 13 de setembro).