Os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde fica a Assembleia Legislativa do estado sob ocupação de PMs grevistas, foram fechados no início da tarde desta quarta-feira (8) pelas tropas das Forças Armadas que fazem o policiamento na região. De acordo com o tenente-coronel Cunha, responsável pela comunicação do Exército, o bloqueio foi uma decisão do comando da operação e a justificativa da ação não será informada por enquanto. Os manifestantes avaliam que a medida é para enfraquecer o movimento.
“Nós estamos pedindo para os companheiros não saírem daqui, para não correr o risco de voltar. Mas nós também somos militares, sabemos que isso é para tentar nos enfraquecer. Não vão conseguir”, afirma um dos manifestantes que se manteve dentro do cerco, enquanto pedia para os companheiros não saírem das redondezas do CAB.
O tenente-coronel Cunha informou ainda que, embora haja um reforço no policiamento em volta do CAB, o contigente policial é o mesmo dos dias anteriores, com 1.038 homens.
Os veículos que estavam estacionados nas redondezas da Assembleia Legislativa da Bahia começaram a ser removidos na manhã desta quarta-feira. Um reboque das Forças Armadas foi usado na operação.
De acordo com o tenente-coronel Cunha, a ação acontece para obstruir a passagem nos arredores. Ainda segundo as informações, os veículos não foram rebocados, e sim removidos para locais onde não atrapalhem a operação das Forças Armadas.
Negociação
Após quase sete horas de tentativa de negociação entre sindicatos de PMs em greve e representantes do governo da Bahia, terminou sem avanços a reunião realizada na tarde de terça-feira (7), em Salvador. A informação foi confirmada pelo presidente da OAB da Bahia, Saul Quadros, e pela Secretaria de Comunicação do Estado (Secom).
“As negociações foram interrompidas depois de 24h [desde o início na segunda-feira], não chegamos a evoluir. A mesma proposta apresentada agora foi a do início da manhã. Lamentavelmente não chegamos a uma negociação”, disse Quadros.
O governador da Bahia, Jaques Wagner, pediu que os policiais militares grevistas retornem ao trabalho imediatamente. A declaração foi feita na tarde de terça, após o fim da reunião, em entrevista à Globo News. Ele também falou sobre a impossibilidade de negociar anistia aos policiais que cometeram crimes desde o início da greve, em 31 de janeiro. Wagner tranquilizou os turistas e baianos que pretendem curtir o carnaval na capital baiana a partir da próxima semana, informando que o esquema de reforço policial na cidade começa na terça-feira (14).
Saídas
Mais um homem deixou o acampamento na Assembleia Legislativa da Bahia na madrugada desta quarta-feira após revista e checagem da identidade por parte do Exército. No órgão público, estão reunidos policiais militares grevistas, que reivindicam questões salariais ao governo do estado. Na terça-feira, outros dois homens saíram do prédio da Assembleia de forma espontânea. Todos foram liberados porque não há mandados de prisão contra eles. Segundo informações do tenente-coronel Cunha, 10 adultos e sete crianças saíram ao longo dos dias da AL.
Ainda segundo as informações do tenente-coronel Cunha, o Exército está com uma estrutura montada com ambulância com UTI, remédios, alimentos e líquidos para todos aqueles que desejarem sair da assembleia. De acordo com o oficial, não será dado o direito de retornar ao prédio para aqueles que procurarem a ajuda das Forças Armadas. Doze mandados foram expedidos pela Justiça da Bahia contra policiais militares considerados líderes do movimento. Dois foram presos.
A madrugada desta quarta-feira foi considerada tranquila na Assembleia Legislativa. A energia foi cortada em alguns momentos, mas chegou a ser restabelecida. Não houve confrontos. As vias de acesso ao Centro Administrativo da Bahia, onde funciona a Assembleia, foram liberadas na terça-feira para funcionários dos órgãos públicos que têm sede no local. A entrada deles havia sido bloqueada por conta do risco à segurança em decorrência de confrontos armados entre manifestantes e tropas especiais que patrulham a área.
Jaques Wagner disse ainda que a população já está julgando a ação grevista dos policiais. “Aqueles que querem prestar o serviço à população sabem que a oferta é significativa e acredito que isso possa acontecer nas próximas horas. Existe um processo de intimidação de alguns e por isso, nem todos quiseram assumir a proposta feita pelo governo. Dizer que conquistamos a GAP IV e V é algo muito importante para a Polícia Militar da Bahia”, afirmou o governador.
“Os policiais que participaram legalmente, dentro das regras, pacificamente do processo reivindicatório, não têm com o que se preocupar. Já dei meu testemunho de que não vou ficar querendo punir quem trabalhou pela melhoria salarial. Porém, todos aqueles que quebraram e intimidaram a população já foram condenados pela própria Polícia Militar e pela sociedade baiana. É óbvio que isso será apurado. Não há como falar em perdão sem apurar atos de vandalismo, se não seria um salvo conduto para aqueles que estão confundindo o direito de reivindicar com o direito de aprontar no estado de direito”, disse Jaques Wagner.
Ele afirmou ainda que a manifestação grevista faz parte da democracia, mas questiona a forma como alguns policiais estão se manifestando no estado. “Alguns abraçaram um formato de reivindicar que não combina com a democracia. Por isso não falo em anistia, que só cabe quando se você sai de um regime de exceção. As prisões, eu repito, são determinações judiciais. Ordem judicial é para ser cumprida. Há uma ordem de prisão por conta do vandalismo e por ameaças à população. Claro que cada um terá o direito de defesa e seus advogados para isso”.
Carnaval garantido
“O planejamento está todo feito para o carnaval. O investimento de R$ 30 milhões na segurança será mantido. Faço um convite para que os policiais abracem a proposta feita pelo governo. A Operação Carnaval começa na terça-feira com a vinda de policiais do interior para a capital. Assim poderemos dar ao povo a maior festa popular do mundo e ter a eficácia da Polícia Militar da Bahia na resolução de conflitos”, disse o governador da Bahia.