Os três irmãos de 7, 8 e 11 anos que disseram ser espancados com cordas e tiras de borrachas e ficar presos por horas em um “quarto da tortura”, em Tatuí (SP), “eram obrigados pela ‘mãe adotiva’ a ficar de joelhos sobre grãos de milho como forma de punição”, segundo a conselheira tutelar Fabiana Cristina Campos. “Os castigos ocorriam por motivos fúteis, como quando um dos meninos fizesse algo de errado, por exemplo, discussão entre eles. Eram ‘correções’ que diminuem o desenvolvimento ao invés de favorecer”, afirma.
Os meninos viviam com uma irmã de 4 anos (que não apanhava, segundo a conselheira) na casa da mulher desde 2012, em uma chácara no Bairro Guarapó, zona rural de Tatuí. O caso foi descoberto na sexta-feira (18), quando a própria mãe biológica denunciou.
“O menino de 8 anos brigou na escola na quinta-feira (17) e a direção chamou a mãe adotiva para contar o caso. Ao voltar para casa, essa criança apanhou e ficou cerca de duas horas presa no quarto. Na sexta-feira, ele faltou à escola devido aos roxos no corpo, por isso, a mãe biológica descobriu. Ela conversou com filha da agressora que a agrediu e depois bateu no menino e voltou a deixá-lo trancado por horas durante a tarde de sexta. No fim da tarde é que houve a denúncia. Quando encontramos o menino, as costas estavam pretas de tantos hematomas”, explica Fabiana.
Tutelar (Foto: Divulgação/ Conselho Tutelar Tatuí)
O ‘quarto da tortura’
De acordo com a conselheira tutelar, o “quarto da tortura” era sujo, mal ventilado e usado para guardar ferramentas agrícolas. O espaço ficava nos fundos da casa onde, além da mãe e filha suspeitas, viviam outras pessoas. “Na casa onde viviam as crianças e as agressoras havia ainda outros quatro casais. É uma casa grande, mas com visível falta de higiene. Na mesma área também há outras residência com moradores. Mas não chegamos a contar quantas pessoas vivem no mesmo terreno, porque não interfere no caso”, diz.
A mãe biológica deu os filhos sem autorização judicial, alegando falta de condições para cuidá-los. “Ela é uma pessoa sem instrução e estudos. Contou que deu as crianças porque a mulher se dispôs a cuidar delas e também para que ela pudesse trabalhar. Quando foi presa, nenhum familiar veio acompanhar, somente o atual companheiro dela. Falta tanta instrução que ela está com barriga de gravidez, mas não tem certeza se está.”
Abrigo municipal
As crianças, que são de pais diferentes, foram encaminhadas a um abrigo municipal. Ainda segundo a conselheira, a menina foi separada e levada para uma casa que cuida apenas de garotas. “O Conselho Tutelar enviou representação à Justiça, que vai estudar qual o melhor destino aos irmãos. Como não há família da parte paterna, ainda não sabemos se as crianças serão entregues à família materna ou ficarão para adoção.”
A “mãe adotiva”, de 44 anos, e a filha dela, de 21 anos, foram presas por crimes de tortura e cárcere privado. Já a mãe biológica, de 30 anos, ficou presa por abandono de incapaz. Elas vão responder por documento falso e falsidade ideológica. As três foram encaminhadas para a cadeia de Cesário Lange (SP).
Fonte: Portal G1