Em Juazeiro, fiéis saem às ruas para reviver uma tradição secular herdada dos franciscanos.
Antes de sair, eles rezam o terço na casa da funcionária pública Jesulene Rodrigues, a Dona Nenzinha, que recebeu da mãe a tarefa de organizar a penitência. “Quando minha mãe estava morrendo ela me pediu pra continuar, e eu continuo até hoje. Já faz 25 anos”, conta.
Quando a matraca toca é hora de partir. Em fila indiana eles seguem pelas ruas da cidade. O líder do grupo vai na frente carregando a cruz e puxando os cantos. Os lençóis cobrem o corpo na noite escuta. Eles tentam esconder o rosto, porque muitos não querem ser reconhecidos depois. Mas são admirados. “Todo ano eu me emociono muito, porque é bonito demais”, diz a dona de casa Margarida da Silva.
Nos cruzeiros que encontram no caminho eles rezam ajoelhados, lembrando as estações da Via Sacra, do sofrimento de Jesus a caminho do calvário.
Na Semana Santa, de segunda a sexta-feira da Paixão, eles repetem a penitência todas as noites. E é no cemitério da cidade que eles cumprem a parte mais importante do ritual: rezar por todos os mortos enterrados no local.
Vem desse gesto o nome da irmandade: Alimentadores de Almas. Diante dos túmulos eles pedem que os pecados dos mortos sejam perdoados. “As almas recebem as orações da gente como um alívio pelos pecados que cometeram aqui na Terra. Estão recebendo as orações e evoluindo, chegando para perto da luz de Jesus, pedindo perdão e misericórdia”, conta o serralheiro José Geraldo de Oliveira.
A devoção, que dura toda a quaresma em várias cidades do Vale de São Francisco, foi trazida pelos franciscanos há quase dois séculos. E há três anos, a irmandade vem tentando aprovar um projeto que pede o reconhecimento dessa penitência como patrimônio imaterial da Bahia.
Foto – Elias Mascarenhas