Um ano depois da estreia de “A música segundo Tom Jobim” nos cinemas, Nelson Pereira dos Santos aborda mais uma vez o universo do compositor carioca em “A luz do Tom”, que entra em circuito nesta sexta-feira (8).
Se, no primeiro documentário, Nelson dispensa informações biográficas em detrimento da obra — o filme é composto apenas de imagens e música editados em ordem “mais ou menos cronológica”, como lembrou o cineasta —, aqui o diretor faz o caminho oposto: concentra as ações na trajetória artística e no aspecto íntimo e pessoal do autor de “Garota de Ipanema” e “Águas de março” por meio de entrevistas.
“Trabalhei em cima dos depoimentos de três mulheres muito especiais e próximas do Tom, que nos ajudam a entender o modo de ser do compositor. Procurei destacar, especialmente, os momentos de criação e transição entre o músico da noite e o artista reconhecido internacionalmente”, explica o cineasta.
As estrelas do documentário são justamente Helena Jobim, irmã de Tom; Thereza Hermanny, primeira esposa; e Ana Lontra Jobim, segunda esposa, cada uma capturada pela câmera de Nelson num cenário diferente. Enquanto Helena relembra os anos de formação do maestro na Lagoa da Conceição e nas praias de Joaquina e Moçambique, em Florianópolis, Thereza revisita o início de carreira do músico no Sítio do Brejal, em Itaipava, na Região Serrana do Rio. Já Ana tem o Jardim Botânico como pano de fundo para narrar as histórias mais bem humoradas do longa.“Florianópolis foi ideia de Paulo Jobim (filho de Tom). Ele diz que o mar e a lagoa da capital catarinense lembram muito o Rio de Janeiro dos anos 30, semelhante ao ambiente em que Tom cresceu. A serra está lá porque era hábito da família Jobim passar fins de semana e temporadas na casa ainda hoje cercada por Mata Atlântica. Sobre o Jardim Botânico, era o próprio Tom quem dizia: ‘Isso aqui faz parte do quintal da minha casa dele'”, conta o cineasta.
As entrevistas são pontuadas por inserções musicais relativas aos períodos narrados. Com exceção de “Três apitos”, de Noel Rosa (Tom e Noel nasceram com a ajuda da mesma parteira), todas as canções ouvidas no longa são de autoria de Jobim. Imagens do pianista só mesmo nos primeiros minutos do filme, em trechos do maestro entrevistando Radamés Gnattali e Dorival Caymmi para uma série de programas especiais, também dirigidos por Nelson Pereira dos Santos, para a extinta TV Manchete.
“Foram quatro programas, também sob o título ‘A música segundo Tom Jobim’. Foi exibido em 1985. O problema é que os programas originais se perderam, pois a TV Manchete canibalizou as fitas, para que pudesse continuar no ar. Consegui essas imagens que estão no filme graças ao jornalista Chico Pinheiro (apresentador do Bom Dia Brasil), que tem isso gravado em VHS”, destaca o diretor.
Por conta do farto material acumulado o longo das filmagens, Nelson não descarta reeditar o filme para ser lançado em DVD.
“Apenas para a citar a Thereza como exemplo: acho que não usei nem um terço do que ela me contou. Para o cinema. fico limitado aos padrões comerciais, que me levam a fazer um filme de uma hora e meia, em média. Se tiver condições, vou recompor os depoimentos no DVD, sem muita preocupação com a edição. É uma ideia”, observa.
Informações de G1