Deputados governistas chamaram de “traidor” o vice-presidente da República, Michel Temer, após a divulgação do áudio em que ele fala como se a Câmara já tivesse aprovado impeachment da presidente Dilma Rousseff. Aliado do peemedebista, o segundo-vice-presidente do PMDB, Eliseu Padilha, disse que o conteúdo do áudio mostra o que Temer pensa sobre o cenário político e “responde às dúvidas da sociedade”.
Em trechos do áudio, Temer diz “prestar homenagem” ao Poder Legislativo por saber que a Câmara “debateu amplamente” o impeachment. Além disso, ele destaca não querer “avançar o sinal” e afirma ser preciso um governo de “salvação nacional”, porque o momento exige a “reunificação” e a “pacificação” da sociedade.
A assessoria de Temer informou que ele não comentará nenhuma declaração sobre o áudio. Mais cedo, o vice-presidente disse que houve um “equívoco” e que a gravação seria enviada para um amigo.
Único até o momento a se pronunciar no Planalto sobre o episódio, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, afirmou em um texto publicado no Facebook que o áudio mostra as “características golpistas” de Temer.
“Estou estupefato. Ele está confundindo a apuração de eventual crime de responsabilidade da presidente Dilma com eleição indireta. Está disputando votos e transformou o processo numa eleição indireta para conseguir votos em favor do impeachment. Esse áudio demonstra as características golpistas do vice”, afirmou o ministro na rede social.
O deputado Wadih Damous (RJ), vice-líder do PT na Câmara, disse que Temer apoia um “golpe”. “Conheço cheque pré-datado, não presidente pré-datado. E isso, para mim, é golpe. O vice é o que se pode chamar tradicionalmente de traidor. Ele é um traidor e, como disse Ciro Gomes, ele é o capitão do golpe”, afirmou ele.
Para Damous, Temer “representa o que há de pior na sociedade brasileira. Considero que mais uma das várias máscaras que do vice-presidente caiu. A primeira já tinha sido no ano passado com aquela carta e agora, novamente. O vice-presidente é um ser humano lastimável”.
Durante fala na comissão especial da Câmara que deve votar, nesta segunda-feira, o relatório favorável à continuação do processo de impeachment de Dilma, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) fez coro com Damous. “O maior traidor da história do Brasil”, afirmou Costa. “Esta é a voz de um homem que pensa que no próximo domingo vai assumir a Presidência”, disse o deputado. Em seguida, o deputado ligou a gravação.
Para o segundo-vice-presidente do PMDB, Eliseu Padilha, Temer deu uma resposta às perguntas dos brasileiros. “Acho que o áudio responde às perguntas de todos os brasileiros. Estamos com um impeachment em andamento e todos queriam saber o que Michel pensa”, afirma Padilha.
“Na gravação, ele prega a unidade nacional, a participação de todos os partidos na solução dos problemas do país, a manutenção dos programas sociais. Então, ele está ali dando uma resposta às grandes perguntas dos brasileiros. Todo mundo queria saber e ele está dizendo ali o que pensa”, afimrou.
Padilha rebateu as críticas dos que criticaram Temer. “Contrariamente ao que estão dizendo, acho que ele foi muito bem. Ele queria que divulgassem? Não. Agora, a fala dele atende a uma expectativa de todos. Não vejo nada disso de [que caiu a] máscara ou de outra coisa. Nada nada. O que está ali é o que Michel Temer propõe para o país”, disse.
O senador Álvaro Dias (PV-PR) disse que Temer está “em campanha”. “Mesmo que seja um ato falho ou um vazamento intencional, é um espetáculo de mediocridade política que não deve ocorrer nem mesmo em grêmio estudantil, muito menos na esfera presidencial. Isso dá ainda mais destaque ao tempo de insensatez política que estamos vivendo”, afirmou Dias.
“Não imagino que tenha consequências maiores porque o comportamento do vice-presidente em relação à presidente Dilma já é conhecido, é de afastamento total. Apenas reafirma essa postura dele que é bem diferente de outros vices, como Itamar Franco, Marco Maciel e José Alencar, que eram mais discretos e leais aos presidentes. Acho que é uma postura de quem está em plena campanha para assumir a Presidência. O vazamento deste áudio revela que ele está tentando sentar na cadeira antes da hora”, disse o senador.
Fonte: Portal G1