No lugar de carrinhos, caixotes de madeira. As lonas coloridas fazem, na maioria das vezes, o papel dos tetos reforçados de aço, comuns nos grandes supermercados. A diversidade de produtos é grande. Pode-se encontrar desde carnes, verduras e laticínios a remédios naturais.
Esse cenário, chamado feira livre, ainda atrai centenas de pessoas na cidade de Juazeiro, que trocam o conforto dos supermercados pela variedade de produtos e o clima amistoso proporcionado pelos vendedores das feiras, em especial na Avenida Oscar Riberio, no Mercado Joca de Souza Oliveira.
Vendedor de frutas e verduras desde 1973, quando o Mercado Joca de Souza foi fundado, Dionísio Bispo (69) diz acreditar que a grande procura pelas feiras está relacionada à qualidade dos produtos que são oferecidos aos clientes e à receptividade dos vendedores.
“Tem gente que há anos só compra em minha mão. Isso acontece porque eu trato bem o cliente e só vendo produtos de qualidade. Se tratar o freguês mal, ele não volta mais. Aqui todo mundo tem o dom de atrair compradores”, argumentou o feirante.
Dionísio ressalta que apesar da grande quantidade de vendedores no Mercado Joca de Souza, a relação de amizade entre os feirantes, conquistada durante décadas de trabalho, não permite que haja clima de competitividade. “No mercado a união faz a força. Tem gente aqui que eu conheço há mais de 20 anos. A amizade é tão grande que se chegar um cliente na minha banca e eu não tiver o produto que ele procura, eu indico um vendedor que tem o que ele precisa”, pontuou.
Ele ainda destaca que “desde que o mercado foi fundado muito coisa mudou. Havia mais zelo por parte das autoridades; agora não estão nem aí para o mercado. A única coisa que nunca mudou foi a relação amistosa entre os vendedores”.
A procura pelos remédios naturais
Em meio a tantos produtos que podem ser encontrados na feira do Mercado Joca de Souza, os remédios naturais são um dos mais procurados. Alguns vendedores se tornaram uma espécie de “médicos” e são consultados por dezenas de pessoas que procuram a cura em plantas medicinais.
Vendedora de produtos naturais há 25 anos, Fátima Eoli (40) ressalta que é procurada por muitas pessoas e passa para o cliente a sua crença e o seu conhecimento. “Há anos eu trabalho com remédios naturais. As pessoas vêm me procurar e eu, como já conheço os vários tipos de ervas, indico o remédio de acordo com a necessidade do cliente. Eu acredito nos remédios naturais e passo essa crença para o freguês”, comentou.
A dona de casa Francinete Pereira (43) conta que toda semana vai ao mercado para comprar plantas medicinais e garante já ter sido curada sem tomar remédios de farmácia. “Remédio natural é melhor. Além de não ter a carestia das farmácias, sempre que eu faço o tratamento com ervas e chego ao hospital para fazer uma consulta estou sem nenhuma inflamação. Já fui curada sem tomar remédios de farmácia”, enfatizou a dona de casa.
A feira livre não se resume à relação de venda e compra. Há os que vão ao Mercado para rever os amigos e beber cerveja. “Eu gosto do ambiente da feira. Aqui já fiz muitos amigos. Há dez anos, todo sábado, quando estou nas horas vagas, venho ao mercado para tomar minha cervejinha, sempre na mesma banca”, comentou o taxista Elias Clementino (46), pontuando que “as pessoas do mercado são agradáveis e aqui tem de tudo um pouco, há grande variedade”.
Tradição de Família
Além dos vários feirantes experientes que trabalham no Mercado Joca de Souza, é possível encontrar os jovens comerciantes que estão em fase de treinamento para aprender o ofício dos pais, tios e avós.
Mathias Corrêia (72), vendedor de temperos, trabalha há mais de 20 anos no mercado. A idade avançada e seus muitos anos no ofício de vendedor fizeram com que o comerciante passasse a treinar sua filha e sua neta para ocupar o seu lugar. “Estou treinando minha filha e minha neta para assumirem o meu lugar. Não quero que a tradição da feira na nossa família se acabe”, destacou.
Neta de Mathias, a estudante Ingrid Naiane (18), que trabalha aos sábados na feira, conta que o treinamento que tem recebido de tia e do avô tem surtido efeitos. “Eu já entendo um pouco de temperos e já sei distinguir quando uma fruta está boa pela aparência dela”, concluiu a estudante.
Texto e fotos: Kelly Ferreira