O Centro de Cultura João Gilberto (Juazeiro) recebe o espetáculo Raimundos, uma celebração da dança afro-brasileira neste sábado e domingo, dias 12 e 13 de março, às 20h. A montagem faz uma homenagem aos 50 anos de carreira de Mestre King, que conheceu a dança dos terreiros de candomblé e levou seu movimento para os palcos e escolas de dança do Brasil e do mundo. Com coreografias de Bruno de Jesus, a obra já passou por Salvador, Alagoinhas e Valença.
Raimundo Bispo dos Santos, conhecido como Mestre King, foi o primeiro homem negro formado pela Escola de Dança da UFBA, tendo ingressado em 1971. O artista formou os principais nomes da dança afro-brasileira na Bahia, tais como Zebrinha, Paco Gomes, Armando Pequeno, Augusto Omolu e tantos outros. A escolha do nome Raimundos vem da associação dos criadores da montagem, que pensaram a obra a partir das influências do Mestre junto a gerações de coreógrafos e bailarinos homens.
A obra parte da pesquisa sobre a diversidade no contexto cultural afro-brasileiro, a partir de investigação dos elementos de matriz africana como a simbologia de orixás, religiosidade, destacando o corpo como sagrado e o corpo como festividade através de um olhar contemporâneo. Num diálogo entre dois bailarinos negros, a coreografia explora aspectos das danças de orixás, a puxada de rede, o samba de roda, como componentes que configuram a dramaturgia do espetáculo.
De acordo com o coreógrafo Bruno de Jesus, “celebrar 50 anos de carreira do Mestre King, é celebrar a história da dança na Bahia. Falar dele é falar da gente, da nossa memória, da nossa ancestralidade. A dança como filosofia dela mesma, isso que tento transbordar com o espetáculo Raimundos, assinar dirigir, coreografar e dançar este espetáculo me emociona, me faz refletir”. Para o artista, a exaltação da memória viva de King é “perceber a importância das figuras masculinas na dança baiana, atravessar gerações com desdobramentos da formação das danças de matrizes brasileiras e mergulhar e construir historias e movimentos e poesias. Esse lugar do espetáculo me leva para outros lugares, de transformação. A dança gerando potencias políticas em sua comunicação corpo e poesia”.
Mestre King – Nascido em 1943, no mesmo ano de criação do Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, King conheceu a dança já adulto, após prestar serviço militar e uma temporada na Marinha do Brasil. Ao integrar o Coral do Mosteiro de São Bento, a curiosidade pelas artes foi desperta, primeiro pela música, depois pela capoeira até chegar na dança. A percussão aproximou o artista do grupo Olodumare, onde teve seu primeiro contato com a dança e desejo de aprofundar o conhecimento. Assim, em 1971 prestou vestibular para Escola de Dança da UFBA, destacando-se como o primeiro homem negro a ingressar no curso, que tinha uma maior presença de mulheres, brancas em sua maioria. Em paralelo, a música o levou para frequentar os terreiros do candomblé, onde percebeu a riqueza dos movimentos dos orixás. O resultado disso foi que King desenvolveu um método que mistura elementos de danças folclóricas e populares brasileiras com as dos orixás do Candomblé, que resultou na dança afrobrasileira.
“Eu observava os movimentos e pensava em levar isso para dentro das minhas aulas. Aos poucos fui copiando o que via e trazendo para fora dos terreiros. O que sem dúvida, foi uma ousadia, pois muitas danças eram fechadas do ambiente do candomblé e minha atitude recebeu várias críticas naquele momento, mas também muita receptividade. Muitas vezes, a dança e a música colocavam os alunos em transe e eu tinha que dizer…pera lá” recorda-se King, que acabou contribuindo para difusão da cultura afro-brasileira, conquistando adeptos de todo o Brasil e fora dele, além de revelar a beleza dos cultos ancestrais.
O coreógrafo é considerado uma das maiores autoridades em tradições da música e dança afro – brasileiras, já tendo criado mais de 100 coreografias e dividiu seu conhecimento em diversos países do mundo, dando aulas em universidades nos Estados Unidos e na Europa. Como professor do Sesc Bahia, na unidade do bairro de Nazaré, King formou gerações de bailarinos e ainda hoje, aos sábados, dá aulas gratuitas na Escola de Dança da UFBA, ainda propiciando que jovens dançarinos possam ter contato com o Mestre.
Bruno de Jesus, Artista da dança- Bailarino, coreógrafo, produtor e diretor artístico
Formação – Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia FUNCEB (2010) e Licenciatura em Dança na Universidade Federal da Bahia (2015). Diretor e coreógrafo da ExperimentandoNUS Cia. De Dança a qual fundou em 2008 com mais de cinco espetáculos em seu repertorio. Assinou a coreografia e direção do espetáculo Mistura Brasileira da CDRS Companhia Rodas no Salão com atletas dançarinos cadeirantes – Festival Orphèe, em Versailles França (2011). Integrou a mesa no I Seminário de Criação em dança 2014 realizado pela FUNCEB em parceria com UFBA. Em 2014 estreia o espetáculo RAIMUNDOS uma homenagem aos 50 anos de carreira do precursor da dança afro brasileira, Raimundo Bispo dos Santos, Mestre King, integrando programações de importantes encontros e festivais de dança, como desdobramento do espetáculo idealizou e assina a direção do Documentário (em processo de gravação) sobre a vida e trajetória do Mestre King. Como bailarino participou de vários espetáculos com artistas diversos. Durante sua trajetória ministra aulas, workshops/oficinas de dança contemporânea com princípios estéticos próprios, baseados em seguimentos da dança moderna e danças de matrizes afro-brasileiras. Como educador atua como voluntário em projetos sociais, escolas, ONGs e desenvolve atividades em Dança na cidade de Tremedal, semiárido baiano no Instituto Adelmário Pinheiro desde 2013. Atualmente coordenador de produção do AbriU Dança na Bahia.
Serviço
Espetáculo de Dança Raimundos
12 e 13 de março, às 20h, no Centro de Cultura João Gilberto – Juazeiro
Com entrada gratuita.
FICHA TÉCNICA
Coreografia e concepção: Bruno de Jesus
Bailarinos: Anderson Rodrigo e Bruno de Jesus
Concepção de luz: Anderson Rodrigo
Operação de luz: Moisés Victorio
Sonoplastia: Fred Lopes
Co-criação cenográfica: Jorge Alberto
Música do solo Sala do couro: Jose Maia Emanoel
Voz off poema: Fábio de Santana
Voz off música: Mestre King
Poema “Preto que dança”: Fernando Gonzaga
Produção: Inah Irenam
Fonte: Crioula Comunicaçao e Mobilizaçao Social




