Ao final do quarto dia de julgamento, Lindemberg Alves, de 25 anos, foi condenado a 98 anos e 10 meses de reclusão pela morte de Eloá e pelos outros 11 crimes cometidos durante o sequestro ocorrido em 2008 em Santo André, no ABC. Além disso, terá de pagar 1.320 dias-multa. A sentença começou a ser lida por volta das 19h35 desta quinta-feira (16) no Fórum de Santo André O júri composto por seis homens e uma mulher considerou que houve dolo (intenção) por parte de Lindemberg de matar Eloá – a defesa tentava convencê-los de que Lindemberg gostava da garota e não tinha a intenção de matá-la.
A decisão saiu pouco mais de três anos após Lindemberg sequestrar e matar Eloá, após mais de 100 horas de cativeiro. Para chegar a conclusão de que ele foi culpado pela morte, os jurados ouviram os depoimentos dos jovens que também foram sequestrados por Lindemberg, dos policiais que atuaram no caso e do próprio Lindemberg, o último a depor na quarta-feira (15). Foi a primeira vez que Lindemerg falou sobre o sequestro.
Pouco antes da leitura da sentença, a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, apareceu na janela do fórum e causou alvoroço do lado de fora. Muitas pessoas ficaram comovidas.
O júri foi composto de seis homens e uma mulher. Eles responderam a 12 séries de perguntas, uma para cada crime e cada vítima, para chegarem à pena.
“Além de eliminar a vida de uma jovem de 15 anos e quase matar Nayara e o bravo policial militar Atos Valeriano, causou enorme transtorno para a sociedade e para o estado”, afirmou a juiza, na sentença.
Desfecho
Na manhã desta quinta, a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad, disse durante a fase de debates do julgamento que seu cliente ainda era apaixonado pela vítima e que não premeditou o crime. A defensora falou por cerca de uma hora e meia. A juíza Milena Dias determinou em seguida o intervalo.
“Ele não é marginal ou um criminoso. Os senhores [jurados] são pessoas de bem, assim como Lindemberg. Peço que o enxerguem como um irmão, pai dos senhores, um amigo. Ele não é bandido. Ele confessou que atirou em Eloá. Lindemberg é apaixonado por Eloá. Foi o grande e único amor da vida dele. Tanto é que ele não recebe visita íntima porque ele não quer ter outra mulher”, disse. “Lindemberg sofre pela morte de Eloá.”
“Não vou pedir a absolvição dele. Ele errou, tomou as decisões erradas e deve pagar por isso, mas na medida do que ele efetivamente fez”, disse a advogada. “Peço que os senhores [jurados] condenem o Lindemberg pelo homicídio culposo, pois ele não desejou o resultado. Ele sofre pela morte dela.”
Ela falou que a polícia e a mídia também são responsáveis pela morte de Eloá.
Já a promotora Daniela Hashimoto disse que Lindemberg é “mentiroso, manipulador e dissimulado”. Daniela falou por uma hora e meia. A assistente da acusação dispensou os 30 minutos a que tinha direito.
“É esse rapazinho, bonzinho, coitadinho, arrependido, que veio aqui pedir perdão, ele fez um pedido sincero em frente à mídia, mas ele é uma pessoa que simula e é dissimuladora”, disse a promotora em relação ao pedido de perdão feito por Lindemberg durante seu depoimento. “Se fosse um pouco mais esperto ou orientado poderia ter dito que foi ao apartamento armado porque temia a reação dos pais de Eloá porque Eloá teria dito que apanhou dele [Lindemberg] dias antes”, completou.
Lindemberg
Durante o interrogatório, o réu falou pela primeira vez sobre o crime e admitiu ter atirado na ex. Ele contou detalhes do momento da invasão da PM ao apartamento. “Estávamos conversando os três no sofá. Infelizmente aconteceram algumas reações. A polícia estourou a porta e eu tomei um susto. Ela ameaçou um movimento e eu infelizmente atirei”, disse. “Pensei que ela pudesse vir para cima de mim. Eu vi o movimento e atirei. Foi tudo muito rápido.”
Questionado se atirou em Nayara, ele disse não se lembrar do fato: “Não me recordo”. “Quando fui ver, já estava sendo agredido pelos policiais. Foi tudo muito rápido. Não tinha intenção.” Ele disse também que não teve tempo de pensar. Lindemberg negou também ter atirado em um PM durante o sequestro. “É ficção.” Ele também pediu perdão à mãe da vítima, Ana Cristina Pimentel.
Veja as frases do dia de debates no julgamento do caso Eloá
Daniela Hashimoto, promotora
Eloá era apenas um objeto nas mãos de Lindemberg.”
Daniela Hashimoto
“Eloá era apenas um objeto nas mãos de Lindemberg. Ele tinha ódio dela.”
“A perícia comprovou que a Nayara foi atingida por um projétil de calibre 32. Só o Lindemberg tinha essa arma no dia dos fatos.”
“Mensagem recebida no celular de Eloá foi o motivo do primeiro disparo efetuado por Lindemberg.”
“Coloquem-se no papel das vítimas.”
“É esse rapazinho, bonzinho, coitadinho, arrependido que veio aqui pedir perdão, ele fez um pedido sincero em frente à mídia, mas ele é uma pessoa que simula e é dissimuladora.”
“Se fosse um pouco mais esperto ou orientado poderia ter dito que foi ao apartamento armado porque temia a reação dos pais de Eloá porque Eloá teria dito que apanhou dele [Lindemberg] dias antes.”
“Lindemberg atirou para matar, sim.”
“Ele atirou na Nayara e manteve cárcere privado das vítimas. Prova disso é que chegou a colocar arma na cabeça dela”
“Lindemberg finge ser um cidadãozinho, um coitadinho, um bobinho… Ele teve todas as garantias para se entregar e não o fez porque estava determinado a matar Eloá.
José Beraldo, assistente de acusação
Lindemberg é um lobo em pele de cordeiro.”
José Beraldo
“Lindemberg é um lobo em pele de cordeiro. Ele atirou em Eloá para matar e não sem querer. Ele também havia dito que não sabia se atirou em Nayara e negou ter disparado contra o PM, mas isso também é mentira. Ele atirou em Nayara e no sargento.”
“Eu tenho convicção que ele será condenado pelo júri por todos os crimes pelos quais está sendo acusado. Pelos meus cálculos, aplicando-se a pena máxima, a minha expectativa é que a juíza [Milena Dias] poderá aplicar uma pena na sua sentença de 60 anos.”
Advogada Ana Lucia Assad, defensora de Lindemberg
Ele não é bandido”
Ana Lúcia Assad
“Enxerguem esse rapaz como um parente dos senhores, pois ele não é bandido.”
“Não vou pedir a absolvição dele. Ele errou, tomou as decisões erradas e deve pagar por isso, mas na medida do que ele efetivamente fez.”
“Eu, como defensora dele, não pretendo passar a mão na cabeça dele. Ele errou, mas não errou sozinho.”
“Peço que os senhores condenem o Lindemberg pelo homicídio culposo, pois ele não desejou o resultado. Ele sofre pela morte dela.”
“Não podemos dar essa conta toda para o Lindemberg pagar. Isso não é justiça.”
“Lindemberg é apaixonado por Eloá. Foi o grande e único amor da vida dele. Tanto é que ele não recebe visita íntima porque ele não quer ter outra mulher.”
“Ele não tentou matar a Nayara. Ele se assustou e atirou. Condenem-o pela lesão corporal culposa.”
“Eloá contribuiu para deixar a situação pior que estava.”
“Ele não premeditou o resultado e não aceita o resultado até hoje.”
“Lindemberg era muito querido pela família de Eloá. Esse caso só é esse caso por causa da cobertura da mídia, não devia estar acontecendo nada mais importante naquele dia.”
“Ele não pode pagar a conta sozinho. A própria família de Eloá está responsabilizando os policiais que erraram.”
“Ele é a bola da vez porque ele é pobre, porque não tem influências importantes como o jornalista Pimenta Neves que ficou solto no processo. Foi decidido que esse pobre aqui vai pagar por todos”
“Esse caso é uma aberração jurídica. Ele responde preso porque foi pintado na imprensa como um monstro, um anticristo. Que ministro vai querer assinar o alvará [de soltura] dele?”