Laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) divulgado no fim da tarde desta quarta (1º) descartou a possibilidade do ferimento na coxa esquerda do surfista Diego Gomes Mota, 23 anos, ter sido provocado por uma mordida de tubarão. A vítima estava na Praia Del Chifre, em Olinda, na terça (23), e relatou ter sido atacado no mar. Segundo o diretor do IML, Antônio Barreto, o ferimento foi provocado por um animal marinho, mas não é compatível com um tubarão. “O corte é muito superficial, regular, não é compatível com a arcada de um tubarão”, explicou.
Ainda segundo Barreto, não será preciso identificar que tipo de animal atacou o surfista. “Não precisa investigar o animal, não há inquérito. O que sabemos é que não é tubarão, então não entra nas estatísticas oficiais”, pontuou. Os peritos do IML estiveram nesta quarta no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, onde o jovem está internado, para analisar o ferimento. O legista Elias Melo chefiou a equipe que esteve na unidade de saúde.
Nota divulgada no fim da tarde desta quarta-feira pela assessoria de imprensa do Hospital Miguel Arraes informou que o surfista “encontra-se consciente e orientado, sendo submetido à antibioticoterapia”. Ainda conforme o boletim, não houve perda da função do membro. “Diego Mota aguarda nova avaliação para definição da necessidade de novas intervenções cirúrgicas ou alta hospitalar”.
Ocorrências com jacarés
Moradores do entorno da Praia Del Chifre, em Olinda, onde o surfista Diego Gomes Mota foi atacado, relataram nesta quarta ter visto jacarés até mesmo na faixa de areia nos últimos meses. O desempregado Juscelino da Silva afirma que foi atacado por um filhote de jacaré há pouco mais de duas semanas, enquanto dormia numa barraca na areia. “Era um dia de muita chuva. Estava sem sapato, ele mordeu meu dedo e eu acordei gritando. O vigia local veio com um pedaço de pau para ajudar a afastar ele”, contou.
Chifre (Foto: Igor Amaral / Arquivo pessoal)
Ao G1, Jozélia Correia, professora do Departamento de Biologia, da área de zoologia da UFRPE, descartou a possibilidade de um ataque de jacaré. “No mundo temos algumas espécies de jacarés marinhos que vivem em áreas de estuário. Mas são pouquíssimas espécies que têm esse hábito. No Brasil não temos espécies marinhas. As seis espécies que correm no Brasil são de água doce. Em Pernambuco temos registro de duas espécies de jacaré, a de papo-amarelo (Caiman latirostris), e o jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus). Essa segunda só é encontrada em áreas florestadas, com cursos-d’água e córrego, onde têm vegetação de mata no entorno, é bem mais restrita”.
A bióloga acrescentou que apenas um jacaré de grande porte poderia ter provocado o incidente, mas que ele não seria carregado pela vegetação. “Essa hipótese de que o animal viria preso em baronesas, teria que ser um animal de pequeno porte, para que fosse carreado junto com a vegetação. E, por isso, não teria como associar como um incidente como este [o ataque]. Apenas para uma espécie de maior porte poderia ser cogitada a situação de ataque. Seria um animal a partir de 1,80 metro. E um jacaré desse tamanho, devido à grande mobilidade, não seria carreado por vegetação. Essa hipótese de que um jacaré atacou um surfista no mar é descartada”, argumentou.
Entenda o caso
Diego Gomes Mota deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olindax com um ferimento na coxa esquerda, na manhã da terça (31). Ele estava surfando com o irmão e outros dois amigos na Praia Del Chifre, por volta das 11h, quando foi mordido na água. A área é considerada de risco e as atividades náuticas no local são proibidas por um decreto governamental.
O jovem foi internado na UPA da cidade, onde fez limpeza, curativo e recebeu medicação. Em seguida, às 14h45, foi transferido para o Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, no Grande Recifex, onde fez uma cirurgia para tratar a lesão muscular.
Litoral de risco
A área onde aconteceu o ataque é um dos pontos onde a prática de atividades náuticas é proibida por causa do risco de ataques de tubarão. Ao todo, o litoral de Pernambuco tem 32 quilômetros de áreas restritas, indo do Fortim do Queijo, em Olinda, até a praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho. Essas praias também contam com cem placas sinalizando o perigo e 60 guarda-vidas para retirar os banhistas que resistirem a sair voluntariamente.
No entanto, muita gente desrespeita a norma. A reportagem do Bom Dia Pernambuco desta quarta-feira (1º) flagrou várias pessoas se arriscando em algumas dessas praias, como em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, onde muitos banhistas relataram que sabiam do perigo, mas mesmo assim escolhiam se arriscar. Em Candeias e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, banhistas também se arriscavam tomando banho de mar.
De acordo com os bombeiros, desde que o decreto que permite aos soldados tirar as pessoas do mar em caso de risco, em vigor desde agosto de 2014, o número de afogamentos caiu 40% e o número de mortes por afogamento diminuiu 60%.
O primeiro decreto sobre o assunto é de 1999 e proíbe prática de surf, body boarding e outros esportes náuticos nesse trecho do litoral pernambucano. A nova regulamentação, de 2014, incluiu as atividades “nadar” e “mergulhar” na lista de restrições, dando ao Corpo de Bombeiros o poder de retirar as pessoas da água quando o banho for considerado de risco.