A edição desta quinta-feira (10) do jornal vespertino francês Le Monde traz um artigo da correspondente do jornal no Brasil sobre as chacinas e assassinatos cometidos por policiais no país. O texto tem como ponto de partida o assassinato a tiros de 19 pessoas há três semanas em bares de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, por homens mascarados. Segundo o artigo, os principais suspeitos do crime seriam policiais.
O diário entrevistou Zilda Maria de Paula, mãe de um dos mortos, Fernando Luiz de Paula, de 34 anos. “Antes, quando um policial era assassinado, dez deliquentes eram executados. Hoje em dia, são dez inocentes executados”, contou a mulher à jornalista em sua casa na favela Brasilândia, em Osasco.
Entrevistado pelo Le Monde, o ex-coronel da Polícia Militar (PM) Adilson Paes de Souza, hoje militante dos direitos humanos, disse que “o que aconteceu em Osasco e Barueri obedece infelizmente a um modelo de ação quase clássico no Brasil”.
Em todo o país, o mesmo cenário se repete: um policial é morto por deliquentes. Alguns dias mais tarde, uma expedição punitiva é montada pelos membros das forças de segurança no mesmo bairro. Em Osasco e Barueri, o assassinato de um policial em um posto de gasolina teria motivado a chacina.
“A lógica é matar ou morrer”
De acordo com o jornal, a ocorrência quase regular das chacinas explica em parte o número de mortes imputadas à polícia: 358 nos seis primeiros meses de 2015 no Estado de São Paulo. Durante o mesmo período, onze policiais foram mortos em serviço. “A lógica é matar ou morrer. Então eles matam. Seja em serviço ou não”, explicou Renato Sergio de Lima, sociólogo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ao jornal Folha de S. Paulo.
Para a maior parte dos especialistas, essa violência policial é o resultado da falência dos sistemas judiciário e carcerário. Quando acontece a morte de um policial, a corporação sabe que as chances de prender o criminoso são ínfimas. Apenas 8% dos casos de homicídio são solucionados. E, se o autor do crime for preso, o sistema carcerário está dominado pelo crime organizado. Uma vez na prisão, o criminoso será considerado um heroi, explica Paes de Souza. Por essa razão, os policiais fariam “justiça com as próprias mãos”.
O ex-coronel da PM, autor do livro “O Guardião da Cidade”, para o qual entrevistou policiais assassinos, a amplitude das chacinas tem como objetivo instalar um clima de terror. Uma arma de dissuasão no bairro dos delinquentes.
Apenas um suspeito das chacinas de Osasco e Barueri foi interrogado. Ele é membro da polícia. Pressionado pela opinião pública, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) ofereceu uma recompensa de RS$ 50 mil pela identificação dos culpados. O texto finaliza dizendo que essa ação é um reconhecimento do fracasso do sistema.
Fonte: MSN Noticias