O diretor René Sampaio tinha 14 anos quando, em uma tarde quente de 1987, em Brasília, ouviu “Faroeste Caboclo” pela primeira vez. Fã de Legião Urbana e já com planos de ser cineasta, ele prometeu a si mesmo que um dia levaria aquela música ao cinema.
O sonho se realizou nesta semana, com a estreia de “Faroeste Caboclo” , que tem no elenco Fabrício Boliveira, Isis Valverde e Felipe Abib. É o segundo longa relacionado a Renato Russo a chegar aos cinemas neste mês, depois de “Somos Tão Jovens”, cinebiografia assistida por mais de 1,5 milhão de espectadores.
Quase 17 anos após a morte do cantor, é difícil entender o que motivou essa espécie de revival em 2013. Mas Sampaio arrisca um palpite: o público de Renato Russo não é apenas aquele que vivenciou o auge de sua carreira.
“Tinha a falsa impressão de que a Legião Urbana não era atual”, afirma, em entrevista ao iG . “Mas (a banda) é um fenômeno de molecada também. A Legião Urbana ainda está presente na cultura e as questões (que abordavam) permanecem atuais.”
Segundo o diretor, pesquisas indicam que a maior parte dos comentários sobre o filme nas redes sociais é feito por mulheres entre 18 e 30 anos. Além disso, o trailer teve mais de 2,5 milhões de visualizações no YouTube. “Você não chega a este número só com gente de 40 anos”, avalia.
Para levar “Faroeste Caboclo” ao cinema, Sampaio leu biografias e procurou investigar o universo em que Renato Russo viveu em 1979, o ano em que escreveu a música e no qual a narrativa do filme começa.
“Levantei tudo o que era possível de real e imaginário sobre o que Renato pensava para a música, e depois me libertei de tudo isso para fazer o que achava que tinha de fazer”, explica.
A produção negociou os direitos com a família do cantor – primeiro a mãe e a irmã e depois o filho, Juliano, que passou a fazer parte da equipe e esteve no set quase todos os dias. Eles deram opiniões sobre o roteiro, mas viram o filme já com o corte final e não fizeram imposições, segundo o diretor.
A liberdade de criação o permitiu fazer algumas alterações na história, dando maior ênfase ao romance entre João de Santo Cristo (Boliveira) e Maria Lúcia (Valverde). “Contemplamos o que precisávamos para o filme”, explica.
Sampaio vê potencial cinematográfico em outras canções nacionais, como “Marvin”, dos Titãs, e “Eduardo e Mônica”, da própria Legião Urbana. Os filmes baseados em música parecem configurar uma tendência no Brasil, após longas como “Abismo Prateado” , inspirado em “Olhos nos Olhos”, de Chico Buarque, e “À Beira do Caminho” , que surgiu a partir da obra de Roberto e Erasmo Carlos.
“Quando você adapta uma música para o cinema, tem de buscar o sentimento que ela causa”, define o diretor. “Assim como ‘Faroeste Caboclo’ tem momentos felizes, infelizes, altos, baixos, reggae e rock, buscamos dar todas essas cores ao filme. Isso é sentimento, não algo objetivo.”