Em cerimônia de comemoração aos 10 anos do Bolsa Família nesta quarta-feira (30), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que “incomoda muita gente que os pobres estejam evoluindo”. Ele defendeu os resultados do programa e pediu que a equipe econômica do governo pare de “regatear” dinheiro para os pobres. Num discurso bem humorado de quase trinta e cinco minutos, Lula disse que “toda vez que o pobre tem ascensão, começa a incomodar”. O evento teve participação de diversos ministros e também da presidente Dilma Rousseff.
“Eu sei que incomoda muita gente que os pobres estão evoluindo. Todo mundo sabe, em Pernambuco, na Bahia, no Sergipe, o pobre está usando o maiô que só uma parte da sociedade usava. A patroa bota um perfume à noite para ir jantar e a empregada vem de manhã com o mesmo perfume. Se é paraguaio ou não eu não sei, mas vem com o mesmo perfume”, disse gerando aplausos e risos.
Para exemplificar momentos em que a “ascensão” do pobre incomoda, Lula disse que houve momentos, quando era sindicalista, que entrou em restaurantes e foi hostilizado. “Será que o trabalhador tem que comer em cocho? Não pode comer em restaurante também?” questionou.
“O cidadão vai para o aeroporto, chega lá está a empregada dele com a família no avião, pegando o lugar dele”, continuou o ex-presidente. “Eu sei que é duro”.
Lula dirigiu-se aos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) – os dois principais da equipe econômica de Dilma – para defender mais recursos para programas de transferência de renda como o Bolsa Família.
“O que esses programas estão provando é o seguinte, querido Guido Mantega, querida Miriam: quando forem dividir o Orçamento, parem de regatear dinheiro pros pobres”, disse, em tom de brincadeira.
O petista dedicou grande parte da sua fala para rebater as críticas que, no início do seu governo, desqualificavam o programa e o chamavam, entre outros nomes citados por ele, de “bolsa esmola”, “bolsa enganação” e “bolsa cabresto”.
Essas reações, disse o ex-presidente, levam a crer que é “mais difícil vencer o preconceito do que vencer a fome”. “De todas as críticas, a mais cruel é a de que o programa ia estimular a preguiça, a dependência dos mais pobres, a vagabundagem”, afirmou.
“Gente que se dizia especialista se dizia incomodada quando alguém usava o dinheiro do Bolsa Família para comprar dentadura. Certamente essa pessoa nunca ficou sem dente e tentou mastigar um pedaço de carne”, comentou Lula.
Priscilla Mendes Do G1, em Brasília