Assim como eles, quase 90% dos desistentes são médicos que já tinham registro profissional no Brasil. É o caso de quem se forma no país ou consegue revalidar o diploma obtido no exterior. Os desligamentos ocorrem em todos os estados e na maioria das capitais, mas se concentram no Nordeste e nas cidades pequenas.
Segundo o Ministério da Saúde, existiam 17.790 médicos ativos no programa no começo de agosto. Ou seja, para cada desistente, 21,7 médicos estavam trabalhando. Os dados foram obtidos pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação.
O Ministério da Saúde identificou nove razões para o abandono do programa. Segundo o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Hêider Aurélio Pinto, o médico não precisa informar o motivo na hora de solicitar o desligamento. Assim, as saídas a pedido, sem maiores detalhes, responderam por mais da metade das desistências: 470.
Há um número significativo de profissionais que foram aprovados em residência médica e, por isso, não podem mais participar do programa: 181. Ausência injustificada é o terceiro motivo mais comum, com 56 afastamentos, todos de cubanos, o que indica que desertaram da missão oficial de seu país. Completam a lista: motivos pessoais (46 casos), mudança de cidade (22), aprovação em concurso público (16), motivos de saúde (12), dificuldade de deslocamento ao local de trabalho (9) e incompatibilidade de carga horária (8).
Iara Nazareno, de 74 anos, mora no Recife e já estava aposentada quando se inscreveu no programa, em 2013. Foi alocada em Olinda, que integra a região metropolitana da capital pernambucana. Em dezembro de 2014, ela resolveu se desligar por questões de saúde. Iara Nazareno apoia o programa, mas aponta alguns problemas.
— A gente fica com medo do lugar onde há muitos pontos de venda de droga. Os agentes de saúde também tinham medo — descreve: — A estrutura do posto foi reformada. Quando saí de lá, precisava de reparos de novo. Acho que a reforma que fazem não tem fiscalização. Era horrível. Pingando água no posto quando chovia.
Problemas semelhantes são relatados por William. Formado no Rio, ele escolheu trabalhar em Itaboraí. Começou em setembro de 2013, mas deixou o programa quando foi chamado para fazer residência médica em otorrinolaringologia, em Belo Horizonte. Segundo ele, a área onde trabalhava também era controlada por traficantes, embora eles não criassem problemas com os profissionais de saúde.
— As condições de trabalho são precárias. Falta material para atendimento — disse.
Fonte: MSN Notícias