Como esta é a última coluna de 2014, o mínimo que se pode dizer desse aninho ordinário, pelo andar da carruagem dos fatos ao longo dos seus 12 meses, é que já vai tarde. E o que é pior: do ponto de vista coletivo, promete ir embora arrastando 2015 para uma ribanceira daquelas sobre as quais é melhor não pensar. Diga-se coletivamente porque na vida de cada um cabem sempre infinitas possibilidades de surpresas. E por que não considerar a hipótese de que muitos que agora leem isso terão suas vidas radicalmente transformadas para melhor?
As perspectivas não apontam para céu de brigadeiro. Empregados e desempregados começam 2015 com medos muito parecidos. Os primeiros com medo de perder o emprego que têm e os segundos em pânico pelo temor de não encontrar uma ocupação nova. O que prometia ser o grande espetáculo da terra brasilis em 2014, a Copa do Mundo, só não está emoldurada como o maior fiasco do ano do país na boca sempre mentirosa das lideranças políticas. A Copa começou com uma cerimônia de abertura que faria corar de constrangimento um organizador de gincana de povoado, quase fez com que arrancassem fora da coluna vertebral a medula espinhal de Neymar e terminou com uma improbabilíssima dança tribal indígena dos alemães, que, sem trocadilhos, enfiaram 7 vezes nos brasileiros e não chegaram à dúzia aparentemente pela polidez ou por pena mesmo. Além do fato de torcedores desses com educação básica extrema que tanto abundam por aqui e alhures terem usado em alguns estádios todo o vocabulário do meretrício com a presidente da República.
Fora do campo a tragédia foi pior. Onze em cada 10 entendedores de economia dizem, quando entrevistados hoje, que nada poderia ter sido pior para as finanças do Brasil que a Copa. O excesso de feriados e o surrealismo dos preços praticados no país por empresários, pequenos comerciantes e até pelos vendedores de churrasquinho de gato, todos achando que estrangeiro é otário e iria comprar gato por lebre, fizeram com que o comércio tivesse um desempenho abaixo do péssimo no período. Claro: sobrou uma conta astronômica a ser paga com o pobre dinheirinho do contribuinte, gerada pela construção de arenas esportivas colossais, construídas e reformadas sabe Deus com que níveis de superfaturamento. Muitas delas nunca mais verão mais que um terço do público recebido na Copa. Em Salvador, a Fonte Nova, cuja marca nova resiste a grudar tanto quanto um post it gasto pelo tempo, nem para grandes shows parece estar dando muito certo. No fechar dos eventos de 2014 nada menos que um show dele, o Rei que renega a perna, foi um fiasco sonoro.
É, 2014 não foi fácil para ninguém. Dilma Rousseff foi reeleita, mas o mínimo que se pode dizer do pleito, do primeiro dia de campanha até hoje, e quiçá após a posse, levando-se em conta as manchetes e os fatos políticos novos que pululam todos os dias, a velha Banheira do Gugu, se alguém a enchesse de lama e chamasse os piores escroques da zona e as meninas mais assanhadinhas, ainda assim geraria cenas mais familiares que algumas vistas e ouvidas na eleição. Foi tenso, o pleito. Até a angelical Marina da floresta soltou os cabelões, para, quem sabe, tentar se disfarçar de Maria Bethânia e esquecer que havia participado daquela pelada de várzea em que todos os golpes eram ao sul do corpo.
Quando mais nada mais de grotesco prometia acontecer, eis que uma gostosona de plástico, dessas noticiadas todos os dias pelos escribas do nadismo, Andressa Urach, surge como semimorta esvaziando as toxinas químicas de bunda e coxas para não morrer. Mas o que fechou mesmo com chave de rainha a editoria das notícias que movem o mundo quando publicadas foi a queda da rainha dos baixinhos, que há muito não vinha sendo lembrada nem pelos altinhos. Foi uma hecatombe nas hostes das celebridades brasileiras, dessas que fazem tremer o Castelo de Caras: Xuxa foi demitida, está desempregada. Foi assim que 2014 se despediu.
Fonte: Correio da Bahia




