Morreu nesta segunda-feira (8) aos 87 anos Margaret Thatcher, primeira mulher a se tornar primeira-ministra britânica, cargo no qual ficou por três mandatos consecutivos, entre 1979 e 1990.
Ela foi uma das figuras dominantes na política inglesa no século XX, e a sua política, que ficou conhecida como “thatcherismo”, influencia políticos e é criticada até hoje.
O porta-voz da família de Thatcher informou ela morreu em consequência de um acidente vascular cerebral.
“É com grande tristeza que Mark e Carol Thatcher anunciam que sua mãe, a baronesa Thatcher, morreu em paz depois de um derrame, esta manhã,” disse o Lorde Tim Bell, o porta-voz.
Repercussão
Após sua morte, o atual premiê britânico, David Cameron, disse que o Reino Unido “perdeu uma grande líder, uma grande primeira-ministra e uma grande britânica”.
O premiê anunciou que voltará para o Reino Unido, interrompendo uma visita a países europeus. Ele estava em Madri, capital da Espanha, quando soube da morte.
A Rainha Elizabeth II também lamentou a morte de Thatcher. “A rainha recebeu com grande tristeza a notícia da morte da baronesa Thatcher”, comunicou o palácio de Buckingham.
Doença
Thatcher havia sido internada pela última vez em dezembro de 2012, quando passou por uma cirurgia na bexiga.
Ela não falava em público desde 2002, quando os médicos desaconselharam a presença diante de audiências após uma série de pequenos derrames que deixaram como sequela confusões ocasionais e perdas de memória.
A filha Carol escreveu em suas memórias, publicadas em 2008, que, nos piores momentos, Thatcher tinha dificuldades para terminar as frases e esquecia que o marido, Denis, havia morrido em 2003.
Cerimônia fúnebre e cremação
O governo britânico anunciou que Thatcher terá um “funeral cerimonial”, mas não um “funeral de Estado”.
Ele será realizado na Catedral de Saint Paul, em Londres.
Não foi definida uma data, e mais detalhes serão divulgados nos próximos dias.
“Uma ampla e diversa variedade de pessoas com grupos e ligações com Lady Thatcher vai ser convidada”, disse o escritório do premiê.
“O serviço vai ser seguido por uma cremação privada. Todos os preparativos estão sendo tomados em linha com os desejos da família”, diz o texto de Downing Street.
Vida
Margaret Hilda Roberts nasceu em 13 de outubro de 1925 em Grantham, Lincolnshire. Seu pai era pastor e membro do conselho da cidade.
Ela estudou química na Universidade de Oxford, onde presidiu a tradicional Associação Conservadora, composta por alunos. Ela estudou direito enquanto trabalhava e se formou advogada em 1954.
Em 1951, se casou com Denis Thatcher, um rico homem de negócios, com quem teve dois filhos gêmeos, Carlo e Mark.
Além de lhe dar seu nome, ele a acompanhou e apoio durante mais de 50 anos de casamento, até morrer em 2003.
Carreira política
Thatcher se tornou membro do Partido Conservador no Parlamento de Finchley, ao norte de Londres, em 1959, onde cumpriu mandato até 1992. Seu primeiro cargo parlamentar foi como ministra-assistente para previdência no governo de Harold Macmillan.
De 1964 a 1970, quando o Partido Trabalhista assumiu o poder, ela ocupou diversos cargos no gabinete de Edward Heath. Heath se tornou primeiro-ministro em 1970, e Thatcher, sua secretária de Educação.
Durante o período que ocupou a pasta, ela aumentou o orçamento da educação no país, mas foi criticada por abolir o leite que era gratuito em escolas para crianças.
A medida polêmica lhe deu o apelido de “Thatcher the Milk Snatcher”, algo como “Thatcher, a Ladra de Leite”.
Após os conservadores sofrerem nova derrota, em 1974, Thatcher concorreu com Heath pela liderança do partido e, para surpresa de muitos, venceu a indicação. Em 1979, o Partido Conservador venceria as eleições gerais, e ela se tornaria primeira-ministra, aos 54 anos.
Cinco anos antes, ela havia declarado: “Serão necessários anos – e não verei isso de novo durante a minha vida – para que uma mulher dirija este partido ou se torne primeiro-ministro”.
‘Thatcherismo’
Com ideias arrojadas, ela criou uma nova expressão no dicionário inglês: “thatcherismo”, que significa uma política que privilegia a liberdade de mercado, as privatizações, preconiza menos intervenção do governo na economia e mais rigor no tratamento com os sindicatos trabalhistas.
Suas políticas conseguiram reduzir a inflação, mas o desemprego aumentou dramaticamente no período.
Durante seu governo, os sindicatos foram amordaçados, setores inteiros da economia (telecomunicações, ferroviáas, aeronáutica) foram privatizados, e o chamado “Estado de bem-estar social” foi desmantelado.
Os impostos e os gastos públicos foram reduzidos.
Os círculos empresariais a veneravam, mas sua revolução também se chocava com fortes resistências, uma divisão vigente até hoje na avaliação de seu legado.
Nos primeiros anos de seu mandato, foi superada a marca de três milhões de desempregados, e cresceram o mal-estar social e os confrontos com os sindicatos, contra os quais declarou uma guerra sem quartel.
No início dos anos 1980, os mineradores em greve se chocaram com a intransigência da Dama de Ferro, assim como os grevistas de fome do separatista Exército Republicano Irlandês (IRA), que iam morrendo na prisão.
Nova vitória
Mas, apesar de tudo isso, a vitória na guerra pelas Ilhas Malvinas, em 1982, contra a Argentina, e uma oposição rachada ajudaram Thatcher a conquistar uma nova vitória nas eleições de 1983.
Em 1982, quando as tropas argentinas desembarcaram no arquipélago austral das Malvinas, sob dominação britânica desde 1833, Thatcher enviou uma força naval que em dois meses recuperou as ilhas. A vitória encarrilou sua reeleição em 1983.
A Argentina reclama posse sobre as ilhas até hoje.
Em 1984, ela escapou por pouco de um atentado do IRA (o Exército Republicano Irlandês), que instalou um carro-bomba numa conferência do Partido Conservador em Brighton.
Thatcher cultivou uma relação muito próxima e pessoal com o então presidente dos EUA, o republicano Ronald Reagan, baseada na desconfiança de ambos com o comunismo e na ideologia de uma economia de mercado livre.
Nesta época, recebeu, dos soviéticos, o apelido de “Dama de Ferro”.
Ela saudou com entusiasmo a chegada ao poder do reformista soviético Mikhail Gorbachev, que acabaria abrindo a União Soviética.
Nas eleições de 1987, Thatcher ganhou um inédito terceiro mandato. Mas suas políticas controversas, como a adoção de novos impostos e a oposição a qualquer integração mais próxima com a Europa, levaram sua popularidade a cair para o nível mais baixo desde que ela havia assumido o poder, em 1979.
A política interna da primeira-ministra começava a fracassar. Com a inflação alta, o país caminhava para a recessão, e sua liderança começou a ser questionada dentro do próprio Partido Conservador.
Em novembro de 1990, ela concordou em renunciar ao cargo e à liderança do partido, sendo substituída por John Major.
Ela foi a recordista de tempo de permanência no poder no século XX, com 11 anos.
Thatcher deixa dois filhos, os gêmeos Carol, que é jornalista, e Mark, que é empresário.